segunda-feira, 28 de maio de 2012

TUDO NO ESCURO

                Quando da apresentação de Os amantes de Viorne em 1972, Sábato Magaldi intitulou sua crítica ao espetáculo, publicada no Jornal da Tarde “Na cena, um crime. Na plateia, tédio”. Roberto Alvim inspirou-se nessa peça de Marguerite Duras para escrever Amante, sua atual montagem em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil. Assisti à peça no último domingo e o que percebi na reação da maioria das pessoas presentes não foi tédio, mas indiferença, irritação e perplexidade diante de um trabalho despido de ação, emoção e luz.

                As encenações de Roberto Alvim vêm se caracterizando por essa obscuridade no palco, o que está presente no próprio nome do grupo que ele lidera (Club Noir), porém o que pode ser conveniente para uma encenação pode não ser para outra e todos os últimos trabalhos do encenador caracterizam-se, a meu ver, num modo de “não ver”, o que acaba se tornando cansativo e previsível.

                Um bom ator como Caco Ciocler parece ter encontrado o seu caminho junto ao diretor (é o terceiro trabalho que fazem juntos) e é notável o trabalho milimétrico, não só dele, mas também de Juliana Galdino e de Bruno Ribeiro, com marcações rígidas num espaço sempre na penumbra ou quase na escuridão. O início da cena é sempre belo com uma tênue iluminação sobre o perfil dos atores e teria excelente efeito se fosse uma fotografia, porém aquele quadro permanece defronte ao espectador por mais de 15 minutos e esse tempo soa como uma eternidade, enervando boa parte do público presente.

                Talvez esteja fora das minhas compreensão e sensibilidade, mas um espetáculo desse tipo não me diz ao que veio.

               

 

MEMÓRIAS DE "QUASE MEMÓRIA"
                Espetáculo delicado de teatro-dança da Digna Companhia no qual duas atrizes/bailarinas ilustram a trajetória do ser humano por meio de objetos que estimulam a rememoração de  acontecimentos do passado. A dramaturgia de Victor Nóvoa, provavelmente baseada em situações vividas por ele e pelas atrizes, é simples e eficiente. As interpretações de Ana Vitória Bella e Helena Cardoso são baseadas em gestos mínimos e delicados, havendo uma atenção especial para os movimentos de mãos e dedos.  Helena realiza o melhor momento do espetáculo ao compor um velho na fase final da vida que sente saudades de sua querida Cecília, da qual tive o privilégio de usar o colar (um dos objetos usados na cena).   A peça tem o mesmo título do livro de Carlos Heitor Cony, porém não tem nenhuma relação direta com o mesmo.                                                                                                                                                                                                
              A peça foi apresentada na Casa da Gioconda, acolhedor espaço localizado na Rua Conselheiro Carrão, 288. Segundo informação do dramaturgo, o espetáculo deve voltar ao cartaz no segundo semestre.
TAIÔ - Espetáculo de rua da Companhia do Miolo. Dramaturgia de Jefferson Oliveira. Direção de Renata Lemes. Espetáculo assistido no dia 25 de maio de 2012 no Largo São Bento.
                No início, os atores caminham entre o público como se fossem moradores de rua. Passam a ver algo no espaço. Taiô! Taiô! Um pássaro? Uma pipa? Um avião? O super homem? (não pude deixar de fazer essa associação!) Um ser humano com liberdade para voar?
                Por meio de um texto poético a ação desenrola-se até um esteticamente bonito embate entre dois homens. Na cena seguinte (a melhor resolvida para um teatro de rua), um homem anuncia oportunidades de subempregos: alguns se submetem e outros não só recusam, como denunciam o sistema

                                       

                  Na cena final o povo recebe migalhas, mas ao avistar novamente o Taiô, liberta-se e sai correndo pela Praça. Os pombos vêm comer as migalhas espalhadas pelo chão.


                Tem grande força o som produzido por um músico que é acompanhado pelos atores. O problema é que quando cessam os envolventes batuques, os diálogos que vêm a seguir parecem desprovidos de força e o ritmo do espetáculo cai.
                 O espetáculo se apresenta nos dias 30/05 e 01/06 às 11h no Anhangabaú e no dia 02/06 às 11h na Rua Ismael Dias,111 (em frente à Casca do Miolo)

domingo, 20 de maio de 2012

                QUEM SOMOS NÓS?

                Um escritor marca um encontro com o diabo num teatro para tentar resolver seus problemas com falta de inspiração. Fragilizado em função da mercantilização tanto da arte como da própria vida, o escritor vem em busca de diálogo e ajuda. Assim começa Fogo Fátuo, o novo trabalho de Samir Yazbek que também interpreta o escritor, criado a partir das indagações e da vivência do próprio dramaturgo. Exercício enxuto de metateatro que consegue em menos de três quartos de hora levantar questões contemporâneas que extrapolam o fazer teatral. Poucas vezes o texto soa discursivo ou didático (citações de nomes de filósofos, de psicólogos e de autores teatrais) e os diálogos fluem eficientemente.

                Samir Yazbek interpreta o dramaturgo num momento difícil e faz um bom contraponto para Helio Cícero que brilha como um Mefisto desiludido com a banalização da maldade e com a falta de ética com que ela vem sendo praticada na contemporaneidade.

                A encenação de Antônio Januzelli é bastante discreta ressaltando o trabalho dos atores e a bela e simples cenografia de Laura Carone coloca em cena vários elementos de outras peças de Yazbek. A cena em que as duas personagens se defrontam perante um espelho, fundindo suas imagens, é particularmente bela e reveladora.

                Mefisto quer a alma do escritor dando em troca a sua inspiração. O escritor recusa. Mefisto parte. Mas o embate valeu... O escritor volta a escrever!

                Num momento da peça, Mefisto vocifera para o escritor: “Quem é você?”. Saímos do teatro sensibilizados pela eterna questão “Quem somos nós?”, pois o espetáculo toca nas inquietações de qualquer ser humano. Isso não é pouco!

                O espetáculo está em cartaz no Sesc Santana até dia 27 de maio . Sexta e sábado às 21h  e domingo às 18h.

SETE GATINHOS PARA DOIS NELSONS

                Um grande mérito da encenação de Baskerville para o texto de Rodrigues é o barroco cenário criado pelo diretor, claramente inspirado no universo de Arthur Bispo do Rosário e que se adaptou muito bem ao espaço do teatro do Sesc Santo Amaro, estendo-se para as duas laterais ( na da direita fica o banheiro onde a Gorda escreve seus palavrões). Foi impossível deixar de comparar o espetáculo com a insuperável montagem de Antunes Filho em Paraíso Zona Norte. Eu ouvia os atores e lembrava-me das mesmas palavras nas vozes de Luís Mello, Hélio Cícero e Flávia Pucci, mas isso é um caso particular de alguém que tem a encenação de Antunes como o espetáculo mais significativo de sua longa vida de espectador.  De qualquer maneira o espetáculo é muito exagerado e as solicitações ao espectador são tantas que ele não sabe por qual optar. Por que tanta movimentação no palco durante o primeiro e  importante diálogo entre Aurora e Bibelô? Por que cenas tão longas de sexo e nudez?  Greta Antoine tem uma boa atuação como Silene, mas são incompreensíveis as mudanças de voz impostas pela direção para evidenciar as alterações do seu comportamento. Destaque para Gabriela Fontana como Aurora e para Élcio Nogueira, excelente como uma Gorda recatada e não caricatural. Digna de nota a bela iluminação de Wagner Freire. Em alguns momentos a encenação remete a alguns elementos usados por Baskerville no belíssimo Luís Antonio-Gabriela. O maior senão é que o excesso de maneirismos desta montagem do encenador Nelson por vezes dificulta a adesão ao universo da “divina comédia” do seu xará dramaturgo.

                Os Sete Gatinhos, texto de Nelson Rodrigues, dirigido por Nelson Baskerville fica em cartaz apenas até o dia 19 de maio no Sesc Santo Amaro. Na foto de Bob Souza reproduzida abaixo, Renato Borghi (Sr. Noronha) e Élcio Nogueira (Gorda), rodeados por duas das cinco filhas, com penteados copiados daqueles de Amy Winehouse.


 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

VIVA ELIS! MUITA EMOÇÃO NO PARQUE DA JUVENTUDE!


Haja coração para aguentar 40.000 pessoas, entre elas, muitos jovens que nem haviam nascido quando Elis morreu, cantando junto com a Maria Rita as letras sofisticadas das canções que Elis imortalizou.

Experiência única que faz parte da série “Quem viu, viu...”. Foi um show maravilhoso com uma Maria Rita discretíssima e emocionada homenageando não só a sua mãe, mas todo o contingente humano que sabe que Elis foi a maior intérprete que este Brasil já teve. Para guardar no coração e na memória para sempre!

Veja o video que fizemos com alguns momentos do belo espetáculo:

BARAFONDA

                BARAFONDA é o novo trabalho da Cia. São Jorge de Variedades. Experiência extraordinária e única que envolve um cortejo que se inicia na Praça Marechal Deodoro, segue para a rua Lopes de Oliveira, para na sede do grupo e depois segue para a linha férrea, cruzando a passagem para pedestres e terminando do outro lado da ferrovia num tipo de quermesse no Largo da Banana.

Durante quatro horas acompanhamos a rotina e os habitantes não só deste bairro, mas desta megalópole perversa em que vivemos. Momentos de pura emoção são acompanhados de outros de muita crueza como o do mendigo aleijado comendo excrementos no meio da rua. Corações e mentes preparem-se, porque o espetáculo para instigá-los já existe!