sábado, 8 de maio de 2021

MEA CULPA...que não é só “MEA”!

 

Ou Pra não dizer que não falei de Paulo Gustavo.

Na minha pré-adolescência fui um grande fã das chanchadas da Atlântida que dominavam os cinemas na década de 1950. Aguardava ansioso a chegada do Carnaval que era a época em que eram lançados os filmes onde brilhavam as mocinhas Eliana e Adelaide Chiozzo, os galãs Anselmo Duarte e Cyll Farney, os vilões José Lewgoy e Wilson Grey e, principalmente, os cômicos Oscarito e Grande Otelo. As tramas eram sempre mais ou menos as mesmas e eram intercaladas com as marchas de Carnaval do ano. Isso sem falar nos filmes da inesquecível Dercy Gonçalves. Jamais vou esquecer dessas matinês no imenso Cine Nacional situado na Rua Clélia no bairro da Lapa paulistana.

Cresci. O cinema nacional mudou e eu também. Vieram o cinema novo e os filmes políticos que eram objeto de calorosas discussões estudantis. Esses filmes foram varridos das telas dos cinemas por obra da truculenta censura reinante durante a ditadura civil militar.

Surgiram as pornochanchadas para as quais a crítica e certa intelectualidade torceram o nariz.

Com a “retomada” nos anos 1990 o cinema nacional voltou a ter um lugar no podium do chamado cinema sério e “digno” de voltar a constar nas críticas publicadas na mídia.

Na época, os comediantes do cinema tinham pouco espaço nos palcos dos teatros. Com o advento da stand up comedy e do sucesso dos programas humorísticos televisivos surge um tipo de comediante que passa a atuar também no teatro. Por não ter o hábito de assistir televisão e também por - confesso -  puro preconceito nunca prestei atenção em Ingrid Guimarães, Leandro Hassum, Fábio Porchat, Mônica Martelli e também Paulo Gustavo.

Paulo Gustavo! Como não vejo televisão nunca assisti a seus programas televisivos e também não me interessei em vê-lo no teatro ou no cinema onde eu lia que ele fazia o maior sucesso. A mídia nunca se manifestou sobre as qualidades do seu trabalho como o faz agora após a sua morte. Na verdade, o seu sucesso foi na base do “eu se fiz por si próprio”, brincaria o comediante. Seus filmes nunca frequentaram as salas do Reserva Cultural, do Belas Artes e do CineSESC, nem as críticas cinematográficas dos jornais e nunca pensei em ir até a um shopping para assistir a uma das Minha Mãe É Uma Peça.

Uma lúcida matéria de Guilherme Genestreti publicada na Folha de S. Paulo em 06/05/2021 chamou a minha atenção para o fato de que se eu, por um lado, não soube apreciar a obra de Paulo Gustavo pelo preconceito a certo tipo de comédia, por outro lado, a omissão da imprensa em relação às qualidades do seu trabalho como a defesa, por meio do riso, da tolerância e da liberdade de viver também contribuiu para isso.  Uma pena.

Quando leio todos os elogios que vêm sendo publicados sobre a pessoa e a obra e tomo conhecimento de uma frase sua “RIR É UM ATO DE RESISTÊNCIA” fico pesaroso em reconhecer que não tomei conhecimento de seu trabalho.

Tardiamente quero descobrir Paulo Gustavo. 

07/05/2021

5 comentários:

  1. Antes tarde do que nunca (O reconhecimento , e o conhecimento, dos trabalhos dele...) : Ainda da tempo....

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  2. Eu também, Zé. A gente aprende a ter preconceitos. E às vezes nem se dá conta... Isso também vale para as platéias de classe média paulistana intelectualizada. Viva podermos nos rever, e entender que aquilo de que passamos a (des)gostar passou por crivos que não dizem respeito apenas ao nosso gosto pessoal.

    Abraço!

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  3. Muito bom! Saudade... Abraço
    Célia Vilarinho

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  4. Que linda reflexão. Serve justinho para mim tb.

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