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quarta-feira, 28 de maio de 2025

SÉRGIO CARDOSO CEM ANOS

 

Sylvia Cardoso Leão começa a colher os frutos de sua árdua batalha de preservar e promover a memória de dois grandes artistas que foram seus pais: Nydia Licia e Sérgio Cardoso.

A primeira vitória foi em 2020 quando o espaço maior do Teatro Sérgio Cardoso passou a se chamar Sala Nydia Licia.

Neste ano de 2025 quando Sérgio completaria cem anos, surgem o livro de Jamil Dias e o documentário de Hermes Frederico sobre ele.

Na noite de 27/05/2025 o documentário foi apresentado no belo Teatro do Célia dentro do Célia Helena Centro de Artes e Educação. Noite memorável com a presença da querida Miriam Mehler, Fulvio Stefanini, Ligia Cortez, Samir Yazbek, Andrea Bassit, André Garolli, Rita Batata, Daniel Marano, Mariana Leme, Atilio Bari e tantas outras figuras que honram o nosso teatro, além familiares de Sérgio e Nydia.


Foi apresentado o documentário de Hermes Frederico calcado na longa fala de Sylvia sobre a trajetória de seu pai. Sylvia fala com muita propriedade e desenvoltura não negando que é filha de dois grandes artistas, apesar de ter outra formação (ela é médica). Hermes inclui também o relato de outros artistas que dividiram a cena com Sérgio e muitas fotos do homenageado. O resultado é simples e comovente, prestando um grande serviço à memória do teatro brasileiro. Seria muito importante que ele estivesse disponível em todas as escolas de teatro do país.

A mágica noite foi completada por um bate papo com Ligia, Sylvia, Hermes e Rodrigo Audi, mediados por Samir Yazbek.

NOITE DE FESTA PARA O TEATRO BRASILEIRO! 

O livro de Jamil Dias será lançado em 28/05 no SESC 14 Bis; Rita Batata e Mariana Leme preparam espetáculo que tem Sérgio Cardoso como tema e Sylvia comunicou que haverá uma exposição no Teatro Sérgio Cardoso. E ainda há uma promessa de se homenagear Nydia Licia no ano que vem, quando ela faria cem anos.

VIVA SÉRGIO CARDOSO!

VIVA O TEATRO! 

28/05/2025

 

terça-feira, 27 de maio de 2025

SÉRGIO CARDOSO


No último dia 23 de março, Sérgio Cardoso teria feito cem anos e no próximo dia dezoito de agosto fará 53 anos que ele partiu de forma tão abrupta aos 47 anos.

Sérgio é um dos poucos artistas de sua geração que não vi no teatro. Comecei a ir ao teatro regularmente em 1964, ano em que ele fez sua última aparição nos palcos paulistanos com o monólogo “O Resto É Silêncio” com poucas apresentações no Teatro Aliança Francesa e no TAIB. Desse ano até sua partida em 1972 o ator dedicou-se totalmente à sua carreira televisiva e ao que consta pretendia voltar aos palcos com o mesmo espetáculo, mas a morte o levou antes disso.

A lembrança que tenho desse grande ator remonta aos anos 1950, quando ainda criança assisti na televisão sua impressionante interpretação de “O Homem da Flor na Boca” de Pirandello e “A Ceia dos Cardeais”, onde ele contracenava com Jayme Costa sob a direção de Bibi Ferreira.

Para lembrar os cem anos de Sérgio dois eventos acontecem nesta semana.

- Hoje (27/05/2025) no Teatro do Célia ( Av, São Gabriel, 444) haverá uma homenagem ao ator a partir das 19h30. Na ocasião, será exibido o documentário “100 Anos de Sérgio Cardoso”, idealizado, roteirizado e realizado por Hermes Frederico, com edição de Felipe Careli. Após a exibição, ocorrerá um bate-papo entre o diretor Hermes e os professores Lígia Cortez, Rodrigo Audi, Sylvia Cardoso Leão, e mediação de Samir Yazbek.

- Amanhã (28/05/2025) no SESC 14 Bis ocorre o evento de lançamento do livro “Sérgio Cardoso: Ser ou Não Ser” de Jamil Dias.

Nunca é tarde para relembrar desse grande homem de teatro e sua filha Sylvia Cardoso Leão não tem medido esforços para manter acesa a chama criada por ele e por sua mãe a atriz Nydia Licia.

 

 

27/05/2025

 

segunda-feira, 26 de maio de 2025

SELVAGEM

 

Felipe Haiut é uma pessoa extremamente simpática e comunicativa e conquista o público desde o início do espetáculo quando, sentado diante da plateia relata as agruras de uma criança viada de maneira descontraída e até com pitadas de humor.

O drama daquele menino começa aos cinco anos quando o pai chora ao ver seu modo de sentar. Daí em diante sua vida é um suceder de escândalos ao sonhar ganhar uma Barbie de presente, não saber a escalação do time de futebol que o pai torce e chorar por qualquer coisa.

Os pais encaminham o menino para uma psicóloga que ironicamente tem a dualidade de gênero no nome, chama-se Maria José. A experiência é traumática para a criança que se vê obrigada a levar uma vida contrária a seus instintos e desejos. O curioso é que essa atitude repressora da família tinha um fundo de proteção para que ele não fosse motivo de chacota no mundo perverso e preconceituoso que se vive.

Após essa tocante introdução Felipe mostra como se libertou dessas amarras para viver plenamente a vida. E o teatro lhe ajudou muito no processo de libertação.

Felipe dança, canta, se envolve simpaticamente com o público que até aprende a cantar um axé (Coco Melado) inspirado no fato dele ter ganho o concurso de Mini Jacaré em Salvador.

“Selvagem” tem a propriedade de fazer o público refletir sobre a educação de uma criança e ao mesmo tempo se deleitar com as peripécias do carismático Felipe Haiut.


O texto da peça foi publicado pela Editora Cobogó.

Lotação esgotada em todas as sessões e os aplausos calorosos do público demonstram o sucesso         que Felipe vem fazendo em São Paulo.

SELVAGEM está em cartaz no Mi Teatro (Rua Pamplona, 310) até 03 de junho. Segunda, sexta e sábado 20h/domingo 18h.

 

26/05/2025

sábado, 24 de maio de 2025

TRILOGIA KAFKA

 

Fotos de João Caldas

Acompanho as encenações de Cesar Ribeiro desde 2016 quando me surpreendi com sua excelente e radical leitura de “Esperando Godot”, apresentada na pequena Sala Piscina do extinto Viga Espaço Cênico.

Ribeiro parece ter tido um longo tempo de maturação entre esta montagem e seu espetáculo seguinte que só aconteceu em 2021 (“O Arquiteto e o Imperador da Assíria”), a partir daí, seguiram-se “Dias Felizes” em 2023, “Dias e Noites de Amor e Guerra” e “Prontuário 12528”, ambas em 2024 e agora “Trilogia Kafka”.

A estética proposta por Ribeiro é tão marcante, que basta ver uma foto ou uma cena de um trabalho para identifica-lo como o encenador.

Espaço cênico reduzido, elaborada cenografia (em geral de J.C. Serroni), figurinos escuros e pesados (em geral de Telumi Hellen), visagismo extremamente carregado e expressionista (em geral de Louise Helène) e trilha sonora potente e surpreendente (sempre assinada pelo encenador). Tudo isso envolto em clima que lembra as encenações de Tadeuz Kantor, os filmes expressionistas alemães e as histórias em quadrinhos, tão caras a Ribeiro.

Tudo isso pode se chamar do “estilo Cesar Ribeiro” que norteia cada espetáculo seu, sem deixar de revelar novidades de acordo com o tema tratado, que sua criatividade sempre deixa presente em cada novo espetáculo.

“Trilogia Kafka” é isso: surpreende como novo, mas sempre dentro do “estilo Cesar Ribeiro”.

O encenador escolheu três textos curtos de Franz Kafka para compor o espetáculo. Na verdade, ele abre a montagem com “Diante da Lei”, curtíssimo texto interpretado pelos três atores em cenário cheio de grades. A seguir, com alterações cenográficas a cada cena, as três histórias se sucedem:

- “Um Artista da Fome”, permite a Helio Cícero uma interpretação antológica, modulando a voz ao narrar ou ao interpretar o artista que já viveu dias de glória como faquir, mas que vê sua decadência quando sua atração perdeu o interesse do público. Voz e gestual preciso são as marcas de mais este grande trabalho de Helio Cícero.


- Na difícil composição de um macaco falante relatando sua experiência de humanização para uma plateia, Pedro Conrado brilha em “Comunicado a Uma Academia”.


- O próprio Kafka atormentado surge na figura de André Capuano que interpreta com muito vigor a pungente “Carta ao Pai”.


        Na cena final surge Kafka, ladeado por seus personagens: o artista da fome e o macaco falante.

São três interpretações poderosas que merecem um prêmio coletivo.

O cenário de J.C. Serroni constituído de várias celas que circulam pelo espaço, a iluminação que comenta cada ação criada por Rodrigo Palmieri, o marcante visagismo assinado por Louise Helène e os figurinos de Telumi Hellen complementam o trabalho dos três atores, tudo isso harmoniosamente dirigido por Cesar Ribeiro, resultando em um dos mais importantes espetáculos da temporada. 

TRILOGIA KAFKA está em cartaz no Teatro do Núcleo Experimental até 30 de junho. Sextas, sábados e segundas às 20h e domingos às 19h.

NÃO DEIXE DE VER! 

24/05/2025

 

sexta-feira, 23 de maio de 2025

CHEGOU A VEZ DE LADY TEMPESTADE

 

No início deste ano estreou o filme “Ainda Estou Aqui” dirigido por Walter Salles, a partir do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva que relata a trajetória de sua mãe Eunice Paiva (1929-2018) em busca do paradeiro do marido Rubens Paiva desaparecido nas masmorras da ditadura militar brasileira. Fernanda Torres tem interpretação memorável como Eunice Paiva.

EUNICE PAIVA
FERNANDA TORRES

Um pouco antes da realização do filme, Yara de Novaes tomou conhecimento dos diários de outra grande mulher, Mércia Albuquerque (1934-2003), advogada pernambucana defensora de presos políticos e dos direitos humanos, também perseguida pela ditadura. Sílvia Gomez se encarregou de criar uma dramaturgia para os diários que resultou em potente texto teatral intitulado “Lady Tempestade”. Esse título inspirou-se em fala de Mércia que dizia que enquanto sua mãe era bonança, ela era furacão.


MÉRCIA ALBUQUERQUE
YARA DE NOVAES
SÍLVIA GOMEZ

Yara realizou a tradução cênica tendo Andrea Beltrão como Mércia. A peça estreou em janeiro deste ano no Teatro Poeira no Rio de Janeiro constituindo-se em um enorme sucesso de crítica (indicada a vários prêmios) e de público (casa lotadas durante toda a temporada encerrada no final de abril)

ANDREA BELTRÃO

“Lady Tempestade” dialoga com “Ainda Estou Aqui”, onde bravas mulheres contam a história deste país alertando sobre os desmandos da ditadura civil-militar que envergonhou o Brasil por tantos anos.

“Essas coisas aconteceram, acontecem, acontecerão”, frase repetida várias no texto alerta que lembrar do passado é resistir para que aquele horror não volte a acontecer no futuro.

No prefácio do livro Samarone Lima escreve “Levar Lady Tempestade aos palcos e publicar sua dramaturgia fortalece a luta pela democracia e nos emociona, por saber que sempre haverá alguém, mesmo nos momentos mais sombrios, que vai construir uma barricada solitária contra a tirania. Dessas pessoas não podemos esquecer. Essas coisas não podem mais acontecer”.

É grande a expectativa da estreia da peça no Teatro Anchieta no próximo dia 30 de maio, em temporada prevista até 06 de julho. A arte de três grandes mulheres (Yara, Sílvia e Andrea) só pode ter resultado em um grande espetáculo.

A estreia deve se revestir de um ato político contra os perigos de uma volta desse tosco bolsonarismo que insiste em rondar a nossa casa.

SEM ANISTIA!

Peça: Teatro Anchieta, de 30/05 a 06/07 de quinta a sábado às 20h e domingos às 18h.

Livro: “Lady Tempestade” de Sílvia Gomez. Editora Cobogó

 

23/05/2025

 

quarta-feira, 21 de maio de 2025

CASA ELEFANTE

 

Quando anunciei que queria vender meu acervo de livros, muita gente se interessou por este ou aquele volume entre as muitas raridades que eu tinha de música, cinema e, principalmente, teatro. Como eu pretendia vender o lote fechado não foi possível dispor de itens separados.

Vendi o lote de cerca de 3000 livros para a CASA ELEFANTE e após separar e catalogar todo o pacote, o dono da loja Carlos Costa está disponibilizando a venda de cada volume em separado.

Há muita raridade no pacote: textos de peças teatrais, textos teóricos de teatro, biografias da Marília Pêra, da Bibi Ferreira e  de tantas outras e outros, coleção rara de “Les voies de la crèation théâtrale”, revistas de teatro e muito mais.

Não faltam raridades também nas áreas de cinema, música e artes plásticas.

A maior parte do meu acervo de LPs, CDs e DVDs também está à venda na CASA ELEFANTE.

O meu acervo enriquece ainda mais o já bastante precioso estoque cuidado com muito zelo por Carlos.

Vale a pena fazer uma visita à aconchegante CASA ELEFANTE que dispõe de milhares de livros, LPs, CDs e DVDs para o deleite de quem ama as artes.


                  RUA CONSELHEIRO BROTERO, 379 – BARRA FUNDA

terça-feira, 13 de maio de 2025

A BOTIJA

 

Um pequeno inventário de histórias fantásticas do Nordeste brasileiro

        Um pequeno e precioso tesouro está escondido na Sala Vermelha do Itaú Cultural e preste atenção porque ele só se faz presente aos domingos às 16h até 27 de julho.

São três crianças buscando uma botija no terreno onde morava a avó, mas quem descobre uma botija de ouro é o público que se encanta com o que assiste. As crianças do público adoram e participam... e os adultos mais ainda!

Ao entrar na sala ouve-se o som de uma sanfona, trecho instrumental de “Xiquexique”, música que faz parte da obra “Parabelo” de Tom Zé e Zé Miguel Wisnik, a repetição insistente desse som até o início do espetáculo, tem um efeito hipnotizante que se soma à contemplação do lindo painel de Irapuan Junior que cobre todo o fundo do palco.

Ouvindo Tom Zé e olhando Irapuan a atmosfera está criada para o público se emocionar com a beleza que vem a seguir.

Uma atriz (Maria Alencar Rosa), uma atriz/músicista (Elaine Silva) e um ator (Jhoao Junnior) entram em cena e representam as três crianças que chegam no quintal da avó para buscar a tal botija de ouro que segundo ela está escondido nesse terreno. Nessa busca, um universo de histórias fantásticas do nordeste brasileiro vai se descortinando para o público que entra no encantamento proposto pela encenação escrita por Jhoao a partir de histórias e causos recolhidos por ele no nordeste. A direção é de Jhoao e Maria.

Jhoao, Maria e Elaine estão em estado de graça em cena. Com rara desenvoltura vão contando os mitos da Caipora, da Mulher do sonho e da Princesa da Serra. O público - auxiliado pelas histórias contadas e pelo cenário que inclui o já citado painel e pelas pinturas artesanais do sol, da lua e do mandacaru criadas por Andrea Gandolfi – entra no clima e percorre o sertão junto com eles, sempre na esperança de encontrar a botija.

O elenco veste os figurinos criados e confeccionados por Maria cujos bordados mostram figuras surgidas em cena. E o que escrever sobre os sons e músicas executados por Elaine com instrumentos artesanais?

Realizado de maneira totalmente artesanal nos figurinos, nos instrumentos e no cenário, o espetáculo é um deslumbramento tão grande que é impossível conter as lágrimas em vários momentos.

Não tenha preconceito com um trabalho endereçado para o público infantil, porque quando ele é bem realizado e sem alguns clichês tão comuns nesse tipo de espetáculo, ele vai lhe agradar até mais do que certos teatros para adultos.

A Botija é digna dos maiores aplausos e merece as lágrimas que temos de enxugar ao final do espetáculo.

Mas... eles acham a botija??

Vai lá pra saber!!


13/05/2025

 

 

 

domingo, 11 de maio de 2025

CARTAS LIBANESAS – AYUNI

 

A longa despedida em silêncio de Adibe e Miguel no cais do porto de Beirute sob uma bela luz etérea criada por Marisa Bentivegna e ao som da música de Gregory Slivar já predispõe o público para a bela história de amor e separação que vem a seguir.

O ano é 1914 e a primeira guerra mundial provoca crises que chegam até o Oriente Médio. Miguel está partindo do Libano com o intuito de “fazer a América” deixando Adibe grávida e na esperança de que ele retorne com todas as economias do trabalho realizado do outro lado do oceano. Ele viaja na terceira classe fedida de um navio, viagem até de luxo se comparada com aquelas em botes de imigrantes recentes fugindo das guerras que acontecem no mundo.

Em boa hora Eduardo Mossri retoma o projeto iniciado com o monólogo “Cartas Libanesas” de 2015 escrito por José Eduardo Vendramini, ampliando – o com a colaboração de Duca Rachid na dramaturgia, colocando em cena Adibe, a companheira de Miguel.

Adibe no Libano e Miguel no Brasil trocam cartas permanecendo ambos em cena em recurso dramatúrgico/cênico bastante interessante. Tecidos de seda fazem parte da "mise en scène" podendo representar o bebê que está para chegar, o leito para dormir e até os desejos da carne, aos quais Miguel sucumbe, mas Adibe resiste mesmo com o assédio do compatriota Omar.

Tudo é contado de maneira delicada e poética na tradução cênica de Georgette Fadel e Luaa Gabanini, bastante enriquecida com o desenho de luz de Marisa Bentivegna e a trilha sonora de Gregory Slivar baseada nos sons da música árabe. Destaque também para os figurinos de Adibe desenhados por Marichilene Artisevskis e para o pomposo terno branco de Miguel, assinado por Fause Haten.

Eduardo Mossri volta a incorporar a personagem de Miguel, algo que vem fazendo há alguns anos no monólogo citado acima e sabe dividir a cena com a presença luminosa de Ana Cecilia Costa que representa Adibe com muita verdade e emoção.

Miguel vai progredindo no Brasil como mascate e tem vontade de voltar para a mulher e para conhecer o filho que nasceu, mas reluta por ainda não ter conseguido a economia pretendida, Adibe, por outro lado, vê nessa atitude um abandono de Miguel e uma distância cada vez maior da “luz dos olhos teus”, a que se refere o sub título “ayuni” em árabe.

Miguel volta para o Libano? Adibe vem para o Brasil? Eles vão se reencontrar? Saiba assistindo esse delicado espetáculo que transpira amor e humanidade.

A peça está em cartaz no SESC Ipiranga até 25 demaio às sextas e aos sábados às20h e o domingos às 18h 

11/05/2025

domingo, 4 de maio de 2025

CAVALO BRAVO NÃO SE AMANSA


    Existem duas canções que poderiam fazer parte do “experimento cênico documental” da Cia Teatro Documental. 

    Uma delas é “Onze Fitas” de Fatima Guedes eternizada na voz de Elis Regina “Onze fitas fizeram a avaria/E o morto já tava conformado/.../Onze tiros num morto e pra quê tantos? / Esses tempos não estão pra ninharia/Não fosse a vez daquele, um outro ia” que faz coro com a crônica de Clarice Lispector que inspirou o grupo na realização desse trabalho.


    A outra é “Tiro de Misericórdia” de Aldir Blanc e João Bosco: "Grampearam o menino do corpo fechado/E barbarizaram com mais de cem tiros/Treze anos de vida sem misericórdia/E a misericórdia no último tiro."

    E a isso somem- se todas as chacinas que acontecem no Brasil diariamente em nome da ordem, mirando sempre gente pobre e negra; que servem como pano de fundo para este importante e belo espetáculo.


    A trama contando o assassinato de Mineirinho com treze tiros (o elenco comenta: “podia ser só um”), um malandro que atuou no Rio de Janeiro nos anos 1950/1960, é apenas a ponta do iceberg e o grupo a conta com muita poesia e muita música numa festa que denuncia as mazelas e as perversidades da nossa sociedade.

    A dramaturgia de Marcelo Soler e Eder Lopes contando a saga de Mineirinho é bem construída e inclui fatos sobre o Jardim da Amizade, espaço debaixo de um viaduto no coração do Bixiga onde a peça é apresentada. Pessoas da comunidade marcam presença e participam de algumas cenas.

    Marcelo Soler dirige com mestria um grupo de cerca de vinte atuadoras/atuadores e músicos que brilham tanto nos solos (quase todos têm a chance de um momento solo) como nas cenas corais. Todos interpretam, cantam e dão seus passos coreográficos. Uma festa de quase duas horas que passam voando.


    É muito importante destacar o cuidado que o grupo tem com os espectadores. É muito comum nos espetáculos de rua itinerantes o público se atropelar para ir atrás dos artistas, não enxergar nada quando outras pessoas estão em pé na sua frente e muitas vezes nem ouvir o que o elenco fala. Com a bem organizada mediação realizada por três simpáticos integrantes todos esses problemas são sanados com um respeito digno de nota. Eu, um octogenário com mobilidade reduzida e portador de uma bengala, sou testemunha disso, uma vez que assisti ao espetáculo com conforto e pude ver e ouvir plenamente.

    Aplausos para essa gente simpática e talentosa que forma a Cia Teatro Documentário. VIDA LONGA!!

    CAVALO BRAVO NÃO SE AMANSA é apresentado no Viaduto Júlio Mesquita Filho, na encruzilhada das ruas Major Diogo e Prof. Laerte Ramos de Carvalho, nas proximidades do Teatro Oficina. Sábados 16h30 e domingos 11h.

Só mais duas semanas em cartaz. NÃO PERCA!

03/05/2025






   

sexta-feira, 2 de maio de 2025

O CÉU DA LÍNGUA

 

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões/Gosto de ser e de estar ......................................................................................................

E sei que a poesia está para a prosa/Assim como o amor está para a amizade / E quem há de negar que esta lhe é superior?

(Caetano Veloso)

Para criar minhas estradas/Cavalgo nas palavras/Quero arrumá-las com carinho/para atrair as fadas

(Tom Zé)

    Gregorio Duvivier inicia seu delicioso espetáculo falando que a poesia é inútil. Brincando, é claro! E quem há de afirmar que a prosa é superior à poesia, já questionava Caetano em “Língua”, ou vice versa eu acrescentaria. 

    Todo o espetáculo é uma inteligente brincadeira com as palavras e com nossa língua portuguesa. 

    Duvivier mostra ter conhecimento profundo de nossa língua, das palavras que a formam e da cultura brasileira, embaralhando tudo isso com muito humor. São magos da palavra como ele, Caetano e Tom Zé que nos brindam com esses momentos em que realizamos como a língua brasileira é rica, divertida e muito nossa.

    É louvável a criatividade e o cuidado de Duvivier na construção do texto (o programa impresso mostra a quantidade de obras consultadas), meticulosamente costurado com a dramaturgia elaborada por Luciana Paes que também assina a direção. As presenças discretas de Theodora Duvivier nas projeções e Pedro Aune no contrabaixo ilustram e enriquecem as cenas criadas pelo ator.

    Ri-se muito durante o espetáculo, mas também se aprende bastante sobre a nossa língua. Sem exagero, trata-se de uma deliciosa aula de português naquilo que a nossa língua tem de mais versátil e divertido.

    Em certo momento da peça, Duvivier declara que acredita que “cada um de nós tem o poder divino de lançar mundos no mundo só porque tem A PALAVRA.” E essa potência da palavra é a razão de ser do trabalho.

    São tantos os momentos hilários do espetáculo que seria inútil citá-los aqui, mesmo porque eles perdem muito do seu efeito quando simplesmente colocados no papel. É necessário ouvi-los ao vivo, ditos com toda a verve por Duvivier que tem energia e presença cênica dignas de todos os aplausos.


    O CÉU DA LÍNGUA está em cartaz na Sala Nydia Licia do Teatro Sérgio Cardoso de 1º de maio a 1º de junho, com sessões de quinta a sábado, às 19h e às 21h30, e aos domingos, às 16h.

    Ao que se noticiou, os 827 lugares do teatro já estão reservados até o final da temporada, mas sempre é possível buscar por um deles na fila da esperança. Garanto que vale a pena.


    02/05/2025


quinta-feira, 1 de maio de 2025

VENENO

 

Foto de Leekyung Kim

    Um casal, cuja relação se deteriorou após a morte do filho, está separado há dez anos. Um reencontro se faz necessário para discutir para onde transferir os restos mortais do garoto, pois o terreno do cemitério em que ele está enterrado contém veneno no solo. O reencontro reacende coisas dolorosas do passado.

    Essa é a sinopse do texto da dramaturga holandesa Lot Vekemans (1965). 

    Um clima presente em muitos filmes de Ingmar Bergman perpassa toda a rigorosa tradução cênica realizada por Eric Lenate que foca toda a sua atenção na interpretação da atriz e do ator. 

    Frases curtas trocadas entre o casal entremeadas com pesados silêncios revelam a dor, o luto, a frustração e a culpa por fatos passados de cada um deles.

     Cléo De Páris e Alexandre Galindo emprestam seus talentos para interpretarem essas duas personagens muito complexas cujos sentimentos estão em ebulição. 

    Ora reclusos em suas dores, ora explosivos em suas revoltas a peça exige muita sensibilidade e versatilidade de seus intérpretes. Cléo e Alexandre hipnotizam o público ao dizerem o admirável texto de Lot Vekemans, que é, lembrando novamente de Bergman, cheio de gritos e sussurros.

    A encenação de Lenate coloca o elenco em um palco quase vazio discretamente iluminado por ele mesmo. Todos os olhos presentes se voltam para as falas, os gestos e os silêncios dolorosos daquele casal e se identificam com essa ou aquela situação, pois a encenação é repleta de humanidade.

    Tocante e comovente talvez sejam as palavras que melhor adjetivem esse trabalho de Cléo, Galindo e Lenate.

    Mais um grande momento desta rica temporada teatral paulistana.

    VENENO está em cartaz no ótimo TEATRO ESTÚDIO de segunda a quarta às 20h30 até 28 de maio.


01/05/2025