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domingo, 12 de outubro de 2025

OLHOS NOS OLHOS

 

 

Um recital de Ana Lúcia Torre na companhia da poesia de Chico Buarque 

1.   Memórias de um espectador apaixonado.

No ano de 1965 eu estava no segundo ano de engenharia na FEI. Não gostava do curso e minimizava a frustração atuando no setor de cultura do Centro Acadêmico. Fiquei responsável de ir buscar os ingressos para “Morte e Vida Severina” que os alunos da FEI compravam.

Cada vez que eu ia levar o dinheiro e buscar os ingressos eu assistia à peça, encantado com aquela linda tradução cênica que Silnei Siqueira fez do poema de João Cabral de Mello Neto com música de um jovem que eu sempre via tocando na porta do “Bar Sem Nome” do Agostinho (quem viveu aquilo, sabe a que estou me referindo) na Rua Dr. Vila Nova, em frente às obras do que viria a ser o SESC Consolação, era um tal de Chico Buarque.

Entre tantas cenas que se tornaram antológicas havia uma que me tocava muito e que começava com uma pergunta do retirante Severino:

- “Muito bom dia, minha senhora, que nessa janela está.”

Nesse momento entrava em cena uma jovem atriz que com muita garra desfilava cantando sua profissão de a morte ajudar. Ao final da cena (“Só os roçados da morte cabem aqui cultivar”) aconteciam os primeiros aplausos calorosos em cena aberta que a montagem recebia. Foi o primeiro encontro de Ana Lúcia Torre com Chico Buarque. 

2.   Olhos nos Olhos 

Sessenta anos se passaram e hoje essa grande atriz que construiu uma brilhante carreira no teatro e na televisão reencontra Chico declamando com muita emoção as letras de suas canções.

Sérgio Módena elaborou uma bela dramaturgia costurando textos da vida de Ana Lúcia com as letras das músicas e ela o faz com seu costumeiro brilho quase sempre se dirigindo simpaticamente ao público. São os olhos nos olhos que o teatro é a única arte capaz de oferecer.

A direção de Módena é sóbria e totalmente focada na interpretação e na movimentação em cena da atriz no belo cenário criado por André Cortez e iluminado por Gabriele Souza. Ana Lúcia veste um belo figurino assinado por Fábio Namatame.

A atriz é acompanhada por Diógenes Junior ao piano.

O espetáculo todo é só emoção, mas o coração aperta mais nas interpretações que Ana faz de “Apesar de Você”, “Atrás da Porta”, “Meu Guri” e “Geni e o Zepelim”, nesses momentos se repetem os aplausos calorosos em cena aberta que ela recebeu há sessenta anos em “Morte e Vida Severina”.

Grande noite! 

OLHOS NOS OLHOS está em cartaz no Teatro Santos Augusta aos sábados (20h) e aos domingos (18h)

IMPERDÍVEL!


12/10/2025

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

CARTA À RAINHA LOUCA

 

Que beleza! Quanto talento feminino reunido para realizar esse belo e vibrante espetáculo que denuncia as barbaridades cometidas com as mulheres desde sempre.

A origem de tudo está em uma carta escrita no século XVIII em Olinda por Isabel das Santas Virgens para a Rainha Maria I de Portugal denunciando as violências cometidas pelos homens. Fica a curiosidade de saber se a rainha leu essa carta e muito menos se ela a respondeu.

De posse desta carta Maria Valéria Rezende (1942) - nascida em Santos, mas vive no Nordeste e celebrada autora do romance “O Voo da Guará Vermelha” - escreve o romance “Carta à Rainha Louca” que tem a carta como base, mas é recheado com uma vibrante ficção criada por ela.

E mais mulheres entram em cena: Lilian de Lima conhece a autora e se interessa em fazer um espetáculo a partir do livro; Bárbara Esmenia faz a adaptação teatral e Patrícia Gifford é convidada para dirigir o espetáculo tendo Fernanda Maia na direção musical e nos teclados. Lilian Lima se encarrega do papel principal e tem ao seu lado um coral cênico formado por treze intérpretes e mais duas musicistas. Um totas de 17 pessoas está em cena interpretando e cantando a saga de Isabel.

[Isabel>Maria Valéria>Lilian>Bárbara>Patrícia>Fernanda>Elenco]

Realmente um time de primeira grandeza, sem contar o grande número de mulheres presentes na ficha técnica.

Patrícia Gifford orquestra a presença do numeroso elenco preenchendo o palco de maneira harmoniosa.

Lilian Lima tem garra e energia para mostrar a violência contra a Isabel daquela época e contra as mulheres até os dias de hoje; tem dicção e emissão perfeitas (como é bom entender TUDO aquilo que um artista diz em cena!!) e canta com uma voz belíssima. Interpretação digna de elogios e de prêmios.

Todo o elenco também merece aplausos pela verdade e espontaneidade em cena.

Fernanda Maia brilha nos teclados e na direção musical, como sempre o faz.

Figurinos solares de Carol Gracindo e Thaís Dias são dignos de nota.

        Apesar dos graves problemas tratados, Patrícia dá um ar de leveza ao espetáculo com as canções entoadas pelo coro, bela luminosidade da cena e pela interpretação soberba de Lilian de Lima.

        CARTA À RAINHA LOUCA está em cartaz no SESC Bom Retiro só até o próximo domingo com sessões no sábado às 20h e  no domingo as 18h.

        NÃO PERCA!!

        10/10/2025

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

TEU SONHO NÃO ACABOU

 

Apolo devia estar muito iluminado na década de 1940 e com um olho na música do Brasil para ter feito nascer nestas terras Gilberto Gil (1942), Elis Regina (1945), Chico Buarque (1944), Caetano Veloso (1942), Maria Bethânia (1946), João Bosco (1946), Milton Nascimento (1942), Edu Lobo (1943), Leny Andrade (1943), Gal Costa (1945), Gonzaguinha (1945), Ivan Lins (1945) e Egberto Gismonti (1947).

Todos reverenciados pela mídia e muito lembrados pelo público, mas tem um artista tão valoroso quanto eles que a mídia parece esquecer e muito jovem não sabe que ele existiu.

Esse artista que a direita perseguiu censurando quase uma centena de suas canções e proibindo muitas de suas apresentações e  que a esquerda torceu o nariz alegando que sua música era alienada, hoje estaria fazendo oitenta anos, infelizmente ele partiu muito antes em 1996 com apenas 50 anos.

Taiguara Chalar da Silva nasceu em 9 de outubro de 1945 em Montevideu, filho do bandoneonista brasileiro Ubirajara Silva e da cantora de tangos uruguaia Olga Chalar.

O nome TAIGUARA em tupi guarani significa LIVRE e esse artista honrou esse nome com sua maravilhosa obra cheia de poesia, mas com o dedo apontado para as truculências da ditadura militar. Ouso dizer que ele foi o artista que na época melhor soube dosar o romantismo com a denúncia política. 

“Essa pequena agora eu sei porque é que ela me amarra
Ela tem medo do berro dos acordes da guitarra
Ela pretende fechar a minha porta com seus grilos
Ela não sabe que versos ninguém pode destruí-los
 

Essa pequena eu quero trabalhar e ela não deixa
Essa pequena eu quero dar amor e ela se queixa
Ela se engana depois vem censurar minha conduta
Essa pequena não passa de uma vã...
Não tem a mente sã essa pequena”
 

Essa música que faz parte do disco “Fotografias” de 1973, é só

um exemplo da dualidade das letras de Taiguara. Há alguma dúvida quem é essa pequena?

        No álbum “Ymira, Tyra, Ipy”, obra prima de 1976 que conta com a participação de Wagner Tiso e Hermeto Paschoal, o artista é mais direto na canção “Situação”:

        Não, não adianta não

         A situação já está fora das suas mãos

         Como é que você vai me dar

         O que já e meu

         Como é que você vai criar

         O que já nasceu “

         E fecha o disco com os versos de “Outra Cena”:

         “O santo a seca o sertão

         O filho morto nas mãos

Família fome facão

A grana o gado o ladrão

O pau o podre o país

Amado o medo a matriz

Só não sofreu

Quem não viu

Não entendeu

Quem não quis” 

NÃO ENTENDEU, QUEM NÃO QUIS! Claro que os milicos entenderam e proibiram o disco logo depois de ser lançado.

Mas o Taiguara romântico está presente em tantas outras canções maravilhosas como “O Universo do Teu Corpo” (uma das primeiras músicas a insinuar uma relação gay: “Que meu porto, meu destino, meu abrigo São teu corpo amante, amigo em minhas mãos”), “Hoje”, “Teu Sonho Não Acabou”, “Mudou” e tantas outras que não caberiam nesta matéria.

Está mais que na hora de resgatar a memória desse importante artista que clamou: 

“Eu não queria a juventude assim perdida” 

E foi porta voz do grito dos gaúchos Arthur Verocai e Geraldo Flach na pouco conhecida (e linda!!) “Um Novo Rumo” (1968): 

“Vou pra luta, agora eu vou! Não paro não” 

Enquanto houver quem ouve e canta suas canções, pode ter certeza Taiguara, que TEU SONHO NÂO ACABOU!

VIVA TAIGUARA NO DIA DOS SEUS OITENTA ANOS!!

9/10/2025

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

DUAS MÁSCARAS NUAS

 


UMA NOITE DE BOM TEATRO

        Faz muito bem ao espectador assistir a um bom texto, bem dirigido e interpretado por um elenco de notáveis. Assistir a um espetáculo do “Grupo Tapa” é certeza de ter uma tríade com essas características.

        “Duas Máscaras Nuas” é a reunião de dois textos curtos de Luigi Pirandello (1867-1936): “Cecé” (1910) é uma comédia dos primeiros anos do autor como dramaturgo e “O Homem Com A Flor na Boca” (1922) é um drama escrito logo após de “Seis Personagens à Procura de Um Autor”, marco na carreira de Pirandello.

        “Cecé” mostra as peripécias de um aproveitador que aplica golpes em quem está por perto. O Tapa fez uma versão on line desta peça na época da pandemia (novembro de 2020), mas a versão ao vivo ganha em ritmo, ironia e humor com ótimos desempenhos de André Garolli, Norival Rizzo e Camila Czerkes. O sugestivo cenário rodeado de espelhos parece transmitir a relatividade da verdade, tão cara ao dramaturgo italiano.

        Após um breve intervalo é a vez de “O Homem Com a Flor na Boca”, em um cenário limpo apenas com duas mesas e duas cadeiras onde acontece o encontro do homem do título (Norival Rizo) e um passageiro que aguarda a chegada do seu trem (André Garolli).

        Eu tenho um bauzinho onde guardo com muito cuidado a memória de muitos momentos mágicos e humanos que o teatro me oferece há 60 anos. A belíssima cena em que a personagem de Norival descreve como uma vendedora faz um embrulho de presente foi uma das coisas mais incríveis e belas a que presenciei nesta longa trajetória como espectador e com certeza ela já está guardada no meu bauzinho. Só por esta cena, Norival deveria receber prêmios de melhor ator do ano.



      O passageiro (Garolli) é um ouvinte nem sempre atento, mas também incrédulo, com a conversa do homem e ver as suas reações em cena são um espetáculo a parte.

        Ao final, comentei com Garolli que para ele deve ser um privilégio assistir a cada apresentação a performance de Rizo. É uma verdadeira aula de interpretação!

        As duas peças são dirigidas por Eduardo Tolentino de Araujo com a elegância e o rigor que lhe são habituais.

        De lambuja, Tolentino faz uma muito bem-vinda mini palestra no início sobre a vida e a obra de Pirandello, situando e comentando as duas peças apresentadas.

        Grande noite de teatro ocorrida no aconchegante Galpão do Tapa, sede da companhia situada na Rua Lopes Chaves, 84 na Barra Funda.

        DUAS MÁSCARAS NUAS fica em cartaz até o final da próxima semana com sessões sábado e domingo à 20h.

 

        6/10/2025

domingo, 5 de outubro de 2025

FILOCTETES EM LEMNOS

 

Ontem assisti à performance de Vinicius Torres Machado no TUSP. Experiência rara, e acredito única, na trajetória de um espectador bastante calejado. Sai do teatro confuso e muito tocado por aquela figura nua, muda e isolada do mundo.

Ao chegar em casa comecei a ler o livreto distribuído ao fim do espetáculo que é, segundo Vinicius, “a realidade da matéria viva que originou o espetáculo”. Li a metade do volume e já bastante perturbado fui dormir com medo de perder o sono diante da descrição de tantas dores físicas e morais. Na manhã deste domingo ensolarado terminei de ler e compreendo melhor aquilo a que assisti na noite de ontem. Dilacerante!

O espetáculo remete ao mito de Filoctetes que ficou abandonado pelos gregos   na ilha de Lemnos, após ser mordido por uma serpente e suas feridas exalarem mau cheiro. Filoctetes passou nove anos isolado sofrendo muito com suas dores terríveis e sua solidão. A experiência de Vinicius com as dores terríveis que a doença lhe trouxe e a solidão pelos quartos de hospital pelos quais passou fez com que ele se aproximasse do mito grego e desenvolvesse esse trabalho radical sem palavras e com movimentos mínimos e até infantis quando tenta se comunicar com a escuridão que tem pela frente e é muito doído para o espectador fazer parte dessa escuridão.

Depois de alguns anos Filoctetes foi resgatado pelos gregos para lutar na guerra de Troia e Vinicius “resgatou-se” para a vida e hoje tem condições e muita coragem de apresentar esse trabalho ao público. De alguma maneira não deixam de serem finais felizes.

O espetáculo é esteticamente muito bonito com iluminação precisa e deslumbrante assinada por Dimitri Luppi e Wagner Antônio.

Depois de uma hora, Vinicius cobre seu corpo e senta-se na cadeira em que iniciou o trabalho. As meninas da produção abrem as portas do teatro dando sinais que o espetáculo terminou, mas o público demora a abandonar o espaço e mesmo lá fora, ainda sob o impacto daquilo que presenciou, fica vagando enquanto recebe o livreto que complementa essa obra tão radical e tão importante para compreendermos nossos corpos e nossas almas.

Esse precioso espetáculo fica em cartaz só até hoje (5/10) no TUSP Maria Antonia.

CORRA!! 

5/10/2025

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

ADULTO

 

Foto de Julieta Bacchin

“Então foram felizes para sempre...” 

Fran Ferraretto é uma bela mulher de pouco mais de 30 anos que ousa dizer que na maioria das vezes esse final está longe de ser feliz, se é que há um final.

Para tanto monta a dramaturgia da peça “Adulto” com dois casais: um deles bastante disfuncional (João e Sara) e o outro (Vitor e Paula) que mantém sua harmonia (e felicidade?) quando cada um preserva sua individualidade e sua liberdade. Esses dois casais se conhecem e se encontram em reuniões barulhentas e nem sempre amigáveis. As mulheres parecem se dar bem, mas há ciúmes e inveja de João em relação ao sucesso profissional de Vitor. Está montada a estrutura para Fran mostrar a emancipação da mulher.

Em recurso dramatúrgico não original, mas muito interessante, a peça reúne quatro intérpretes para fazer uma leitura dessa peça que fala sobre os dois casais. A apresentação transcorre entre a leitura da peça e cenas da própria peça provocando um bem-vindo dinamismo à montagem.

O texto é nervoso e a direção de Lavínia Pannunzio reforça ainda mais esse nervosismo imprimindo muita velocidade, principalmente nas cenas de conjunto onde o elenco grita, corre para lá e para cá e muitas vezes fala simultaneamente, além de estar acompanhado pelo barulho ensurdecedor de uma máquina de lavar roupa.

Iuri Saraiva representa João, o frustrado marido de Sara, oscilando entre o sentimento de ser traído por ela e a revolta com as atitudes liberais da mulher.

Sidney Santiago Kuanza empresta seu talento para interpretar Vitor, o amigo melhor sucedido de João de quem este tem inveja.

Jennifer Souza tem seus bons momentos como a emancipada Paula prejudicados pela voz muito estridente que, por vezes, dificulta a compreensão daquilo que ela está falando.

Fran Ferraretto brilha como a líder do grupo que faz a leitura e a personagem de Sara que depois de seu caso/traição no Uruguai enxerga os relacionamentos com outros olhos.

De um modo geral as interpretações são muito boas, apesar de gritadas demais. Alguns momentos de silêncio soaram como um bálsamo para este espectador.

A montagem conta com o cenário de Mira Andrade (uma grande mesa e cadeiras com várias funções), desenho de luz de Gabriele Souza, figurinos de Anne Cerutti e os terríveis ruídos da máquina de lavar roupa (quase uma personagem!) na trilha sonora assinada por Rafael Thomazini.

Pela importância do tema tratado é importante prestigiar a peça de Fran Ferraretto. 

ADULTO está em cartaz no SESC Ipiranga até 12/10 às sextas e sábados às 20h e aos domingos às 18h 

3/10/2025

 

 

terça-feira, 30 de setembro de 2025

JOB


Job é exemplo de peça bem escrita: personagens bem definidos e bem construídos, diálogos ágeis e cortantes, trama bem urdida revelando aos poucos as razões de cada personagem ocasionando reviravoltas que mantém o público em constante atenção e surpresa até uma revelação final, quase sempre bombástica, que leva os espectadores à catarse final que termina em aplausos calorosos. Os manuais de dramaturgia, quase sempre de origem norte-americana, costumam dar o caminho para se produzir a assim chamada “playwriting” bem sucedida, mas não há receita para quem não tem imaginação nem talento.

Conhecimento dos trâmites das redes sociais, imaginação e talento não faltaram para o jovem (30 anos) dramaturgo norte-americano Max Wolf Friedlich ao escrever essa trama envolvendo uma profissional da internet que foi afastada da empresa depois de ter um surto ao filtrar conteúdos agressivos e/ou pornográficos da rede social e um terapeuta responsável por elaborar um laudo que permita ou não que ela volte ao trabalho. A trama respira perversidade e há um clima parecido com as primeiras peças de Edward Albee.

A peça inicia com uma cena muito agressiva que se torna clara ao retornar pouco antes das luzes se apagarem anunciando o final da apresentação. Entre essas duas cenas acontece o duelo de noventa minutos entre as duas personagens.

O sucesso desse tipo de trabalho depende do talento e da garra dos intérpretes.

Edson Fieschi transita entre a frieza do terapeuta e o assombro do homem quando acuado.

Bianca Bin é um furor no palco desde a primeira cena; despindo-se de sua beleza natural ela se entrega totalmente à personagem da neurótica e desleixada Jane. Sua interpretação se inscreve nas melhores do ano.

      Fernando Philbert foca a direção nos dois intérpretes sem deixar de lado os recursos cenográficos (Natália Lana), os figurinos discretos (Ronald Tixeira) e a iluminação preciosa de Vilmar Olos que ilustra os pensamentos dos personagens quando estes se afastam do diálogo para refletir sobre o que está ocorrendo. A trilha sonora soturna de Marcelo Alonso Neves também colabora para o tenso clima da peça.

 Repito aqui um termo não muito elegante que usei ao sair da peça: Fiquei CHAPADO!!

        JOB esteve em cartaz no Teatro Vivo até o último domingo, dia 28/09 e deve estrear no Rio de Janeiro em breve.

        A peça já saiu de cartaz, mas eu não poderia deixar de registrar aqui os méritos da mesma e como ela me deixou CHAPADO!

        30/09/2025


segunda-feira, 29 de setembro de 2025

ELÃ Peça do Livro de Linhas

 

E, no entanto, é preciso cantar

Mais que nunca é preciso cantar

É preciso cantar pra alegrar a cidade

(Vinicius de Moraes) 

        Em momento tão grave de sua trajetória a “Cia. Mungunzá de Teatro” realiza o espetáculo mais descontraído de seu repertório. Não se trata de trabalho descompromissado, muito menos alienado, a denúncia e a militância tão próprias do grupo estão ali, mas de maneira irônica e até bem humorada, graças em boa parte à direção de Isabel Teixeira. Um momento especial do espetáculo retrata bem isso, quando Virginia Iglesias à bateria acompanha Nina Simone cantando a icônica canção “I Feel Good” (Eu me sinto muito bem), enquanto as imagens mostram a tragédia de um carro rolando na ribanceira matando todos os seus passageiros.

        O processo de criação que envolveu idas e vindas de textos criados/improvisados pelo grupo e supervisionados por Isabel resultou em um belo livro costurado a mão; desse livro saiu o texto teatral apresentado.

        São cenas envolvendo situações e personagens diversas apresentadas de maneira aparentemente aleatória e desta vez cabe ao público costura-las da maneira que achar melhor.

        É surpreendente e muito prazeroso assistir à descontração das moças Sandra Modesto, Verônica Gentilin e, principalmente, Virginia Iglesias, em papéis bem diferentes daqueles que realizaram até hoje. Dilma Corrêa é uma delícia como a mãe do vendedor de morangos interpretado por Marcos Felipe, que na realidade é filho dela. Lucas Bêda tem grande momento como o animador de velórios (clara referência à agonia do Teatro de Contêiner). E é sempre uma alegria testemunhar a evolução de Leo Aiko e Pedrinho das Oliveiras (também filho de Dilma e irmão de Marcos)) como atores.

        Esta não é uma crítica, nem tampouco uma matéria, é apenas um conselho para que você não perca este instigante trabalho de um dos mais importantes grupos teatrais de São Paulo.

        ELÃ está em cartaz no SESC Pompeia até 12/10 de quinta a sábado às 20h e domingo às 18h

        29/09/2025

terça-feira, 23 de setembro de 2025

SEIS ATORES EM BUSCA DE SÉRGIO CARDOSO

 

1.   Prólogo

As respostas mais comuns à pergunta “Quem foi Sérgio Cardoso?” são: 

         - Queemm?

         - Sei lá!

         - É aquele do teatro?

        Essas respostas podem ser encontradas inclusive entre jovens que fazem teatro e se trata de um dos maiores atores surgidos no Brasil no século XX.

        Por tudo isso e em memória do nosso teatro é muito bem-vinda a homenagem que o Teatro Sérgio Cardoso e a Associação Paulista dos Amigos da Arte estão realizando no ano em que Sérgio completaria cem anos.

        Nesta semana estreia a peça escrita e dirigida por Rita Batata e no dia 13 de outubro (data na abertura do teatro em 1980) é inaugurada uma mostra permanente da vida e da obra de Sérgio e de Nydia Licia, a grande responsável pela existência do teatro (muito merecidamente a sala maior do teatro leva o nome dessa grande atriz).

2.   A peça

       Autora, diretora e elenco bastante jovens procuram recriar   Sérgio Cardoso, pincelando fatos sobre sua vida e sua obra.

       A peça inicia com todo o elenco mostrando facetas de Sérgio. No afã de falarem seus textos os atores interrompem um ao outro. Todos querem ser Sérgio Cardoso em uma cena dinâmica e bonita.

        As cenas melhor resolvidas são aquelas em que se evita a recriação trechos de algum dos espetáculos interpretados pelo ator, como por exemplo a cena do “Ser ou não ser” de Hamlet onde o texto é projetado em um telão e um ator faz mímicas das ações do personagem. Outra cena memorável é aquela em que Madame Clessy (de “Vestido de Noiva”) dialoga com o próprio Sérgio.

        A criatividade de Rita está presente nesses dois momentos, enquanto as recriações de cenas das peças soam, para este espectador, artificiais. Não dá para não imaginar como Sérgio estaria fazendo!

        O elenco coeso desloca-se de maneira harmoniosa em cena sob a direção de movimento de Luaa Gabanini.

        No todo trata-se de espetáculo digno e bem realizado que cumpre o objetivo de mostrar para o público quem foi Sérgio. É uma bela homenagem a ele, a Nydia Licia e a Sylvia Cardoso Leão, filha do casal que conserva com muita garra e amor o acervo deixado pelos pais.

3.   Epílogo

        Com muita alegria doei para Sylvia o programa da peça “Lampião”, primeira peça produzida pela Cia. Nydia Licia – Sérgio Cardoso em 1954, que segundo ela era o único que faltava em seu acervo.

        Digno de nota também é o belo programa impresso do espetáculo. 

VIVA SÉRGIO CARDOSO!

VIVA NYDIA LICIA!
VIVA O TEATRO BRASILEIRO!
 

SEIS ATORES EM BUSCA DE SÉRGIO CARDOSO está em cartaz na Sala Paschoal Carlos Magno do Teatro Sérgio Cardoso. Sexta, sábado, domingo e segunda à 19h.

23/09/2025

 

sábado, 20 de setembro de 2025

REPARAÇÃO

 

Foto de Mara Chama

Uma menina de 16 anos é violentada por dois colegas da escola em uma cidade do interior. O fato torna-se público e as reações das pessoas em relação à menina são positivas (em geral das mulheres) ou negativas (em geral dos homens). Carlos Canhameiro abriga esse microcosmo em um salão de beleza onde o elenco representando funcionários e clientes emprestam suas vozes para falar os depoimentos recolhidos por Canhameiro na cidade onde o fato ocorreu. Uma amostra da sociedade machista brasileira.

A dramaturgia do autor é completada por cenas ficcionais onde aparecem a menina, os pais e o sujeito que a engravidou.

O caso teve consequências trágicas com o assassinato da criança pela própria mãe.

Se a dramaturgia é bastante interessante, intercalando falas reais com cenas ficcionais, a tradução cênica assinada pelo próprio dramaturgo é digna dos maiores aplausos.

Foto de Mara Chama

O cenário criado por Canhameiro e José Valdir Albuquerque reproduz em detalhes o “Suely Hair e Unha’s – UNISSEX”, salão de beleza onde são reproduzidos os depoimentos recolhidos (imagens projetadas mostram fotos e profissões de quem deu o depoimento) e na parte superior são apresentadas as cenas de ficção. Essa dinâmica cria um vínculo com o público que não é quebrado durante as quase duas horas da peça. 

Um elenco coeso se reveza com muita versatilidade nas várias personagens criadas.

Marilene Grama interpreta a menina, depois moça, com muita garra; Daniel Gonzalez mostra energia como o pai, Luiz Bertazzo vai de cliente do salão a uma vizinha fofoqueira com muito humor e Yantó e um assombro com sua bela voz pontuando as canções apresentadas.

Nilcéia Valente merece destaque com sua classe e voz límpida tanto como a mãe como cliente do salão e, por último, Fábia Mirassos, atriz cada vez mais presente em nossos palcos que vai desde a cocote Suely, dona do salão à mãe, em cenas bastante dramáticas.

Reforçando o realismo do cenário estão em cena duas profissionais da estética da beleza, uma manicure (Maria França) e uma cabelereira/maquiadora (Rosa De Carlos).

Pela originalidade e criatividade tanto na dramaturgia como na encenação, vejo “Reparação” como um marco na carreira de Carlos Canhameiro.

O espetáculo fica em cartaz no CCSP até 21/09 e desloca-se para o Teatro de Arena Eugênio Kusnet a partir de 25/09 até 12/10 de quinta a sábado às 19h e aos domingos às 18h.

Fica a curiosidade de como ele vai caber no Teatro de Arena!!

NÃO DEIXE DE VER.

20/09/2025

 

 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

AS TRÊS VELHAS

 

 

                                                 Ninguém vai ao teatro para escapar de si mesmo, mas para reestabelecer contato com o mistério que todos nós temos.

(Alejandro Jodorowsky) 

Passei a pesquisar a vida e a obra de Alejandro Jodorowsky (1929) após assistir a seus dois filmes autobiográficos: “A Dança da Realidade” (2013) e “Poesia Sem Fim” (2016), este último uma joia rara, verdadeira obra-prima.

Seus textos para teatro são pouco conhecidos no Brasil e suas encenações são raras. Ao que eu saiba até o momento sua única peça montada em São Paulo foi “As Três Velhas” em 2008, com direção bastante equivocada e exagerada da saudosa Maria Alice Vergueiro.

Em bom momento Reginaldo Nascimento escolheu essa peça para integrar o currículo de seu Teatro Kaus Cia. Experimental, trilhando estética apresentada em seus últimos trabalhos, com exceção de “Chuva de Anjos”.

Todos os traumas carregados pelo autor desde uma infância problemática estão presentes neste “melodrama grotesco”, como ele o denominou.

Sem abrir mão do grotesco e do escatológico próprios do texto, o diretor Reginaldo Nascimento realiza uma encenação esteticamente bonita, dando oportunidade a três excelentes interpretações das atrizes.

Só dando um exemplo da diferença entre as montagens de Maria Alice e de Reginaldo cito a cena onde a personagem Meliza recebe o “desconhecido” com seu enorme falo. A discrição e a elegância de Reginaldo se contrapõem ao exagero de Maria Alice.

Some-se ao resultado desta boa encenação o cenário e a trilha sonora do próprio Reginaldo, os figurinos e adereços assinados por Telumi Hellen e o visagismo sofisticado e carregado de Louise Helène. É digna de nota, a fluente tradução do texto, realizada por Aimar Labaki.

Todos esses recursos de produção poderiam se perder com um mau elenco e nesse quesito “tudo que reluz é ouro”. Tânia Granussi demonstra vitalidade e certo humor na interpretação da robusta Grazia, Vera Monteiro vive a criada Garga e é a mais ponderada – se é que isso é possível! - das três personagens. As reações de Garga às loucuras das duas irmãs são notáveis. Finalmente Amália Pereira que interpreta Meliza e interfere como o “papai” com sua voz potente e movimentação corporal vigorosa e surpreendente. Amália concentra em si todo o universo caótico de Jodorowsky, muito bem acompanhada por Tânia e Vera.

Mesmo escancarando toda a perversidade, o horror e o “apodrecimento” daquele mundo decadente, ou talvez por isso mesmo, AS TRÊS VELHAS é importante para ser visto.

A partir de 25/09 e até 05/10, AS TRÊS VELHAS estará em cartaz no Teatro Alfredo Mesquita de quinta a sábado às 20h e domingos às 19h.

NÃO DEIXE DE VER! 

15/09/2025

 

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

MAIO – ANTES QUE VOCÊ ME ESQUEÇA

 

Tolerância nos relacionamentos quando um dos envolvidos sofre de Alzheimer é o mote desta delicada peça de teatro escrita e dirigida pelo neuro cirurgião Jair Raso. Jair também é responsável pela trilha sonora e pela também delicada e bela iluminação que compactua com os sentimentos presentes em cada momento.

Um idoso viúvo vive com sua filha e vai passar o fim de semana com o filho caçula que é paisagista. O velho sofre de Alzheimer e é repetitivo em suas falas e agressivo ao pedir bebida ao filho, que perde várias vezes a paciência agredindo o pai chegando a induzi-lo a se suicidar jogando-se da janela do seu apartamento. Essa reação agressiva tem muito a ver com os traumas que ele tem do relacionamento com o pai. À medida que a noite avança, algumas memórias do pai vêm à tona, fazendo o filho mudar totalmente de comportamento.

Escrita, dirigida e interpretada de maneira  emocionada, essa emoção atinge em cheio o público que não fica indiferente ao que se passa em cena. Pessoas que já passaram por situações parecidas não conseguem evitar as lágrimas.

Pode parecer que se trata de um simples melodrama, mas a perspicácia do diretor e o talento dos intérpretes driblam essa armadilha com momentos de humor e de distanciamento do drama tratado.

Maurício Canguçu tem versatilidade para passar pelas várias fases de comportamento que seu personagem exige e emociona ao final da peça junto com Ilvio Amaral em uma impressionante composição como o pai idoso. Ilvio não esquece em nenhum segundo das limitações físicas do velho, surpreendendo o público na saída do teatro quando aparece jovial e garboso como ele é na realidade.

Esses dois surpreendentes atores já haviam encantado o público paulistano com “A Idade da Ameixa” em 2005 e agora retornam vinte anos depois com “Maio - Antes Que Você Me Esqueça” que infelizmente acaba de sair de cartaz no Teatro Estúdio.

Quem viu, viu!

Essa excelente dupla mineira precisa dar mais chances ao público paulistano para que este possa admirar sua arte e seu talento.

15/09/2025

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

PRATA DA CASA

 


Gente simples: Tatá é zelador de um prédio há 15 anos e tem como maiores paixões o samba e a escola de samba para a qual desfila como porta estandarte. É uma pessoa de boa índole e com bom relacionamento com os moradores. Gosta muito de Maria, empregada doméstica no mesmo local e sonha em ser seu namorado. Muito sensível, Tatá se identifica com os problemas e dramas dos moradores, sempre disposto a ajudar. Uma determinação de sua chefia põe em risco a sua sonhada participação no desfile do próximo carnaval.

Uma história simples a partir da qual Victor Mendes construiu dramaturgia consistente levada à cena por ele mesmo na direção e tendo como base a interpretação primorosa de Felipe Frazão.

Felipe Frazão reúne dotes de ator, cantor, dançarino e mímico e com a ajuda de Fabrício Licursi na direção de movimento apresenta quase um balé enquanto interpreta seu personagem. A simpatia e a espontaneidade de Felipe conquistam de imediato a cumplicidade do público que acompanha com interesse as idas e vindas de Tatá com os moradores. A convivência e depois a saudade do falecido pai também fazem parte das lembranças de Tatá.

Grande parte do bom resultado da encenação deve-se ao sugestivo cenário formado por um pedaço da parede da portaria e, principalmente, ao desenho de luz, ambos criados por Marisa Bentivegna. A iluminação sugere portas que se abrem e se fecham e até uma sala onde Tatá vai pensar na vida (seria o banheiro?).


As mais que apropriadas intervenções musicais tão bem coreografadas e interpretadas por Felipe são compostas por Alfredo Del Penha, que já brilhou por aqui nos espetáculos da Barca dos Corações Partidos.

Os figurinos de Miltinho e Ernesto Paixão atingem o seu auge na apoteótica cena final.

Contando com a iluminada interpretação de Felipe Frazão e harmonizando os demais elementos da produção (texto / cenário / iluminação / figurinos /trilha sonora), Victor Mendes realiza uma obra pequena no tamanho, mas deliciosamente grande no resultado.

Em tempo: Não se trata de algo que desmereça o espetáculo, mas cabe lembrar que a/o intérprete de libras deve fazer uma apresentação neutra do espetáculo para não interferir no mesmo. Na sessão a que assisti no dia 10 de setembro, a profissional agia apaixonadamente, competindo em gestos com o trabalho de Felipe Frazão. 

PRATA DA CASA está em cartaz no Centro Cultural São Paulo SÓ até o próximo domingo, dia14. Quarta, quinta e sexta (20h), sábado (18h e 20h), domingo (19h)

IMPERDÍVEL 

11/09/2025

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

VELOCIDADE

 

Foto de Igor Cerqueira

O tempo e sua relatividade é tema frequente da literatura (“Oh tempo! Suspende teu voo”, já clamava Lamartine no século XIX), do teatro, do cinema e da música. No que se refere à música brasileira basta citar Caetano Veloso (“Oração ao Tempo”), Gilberto Gil “(Tempo Rei”) e Chico Buarque com sua incomparável “Valsa Brasileira”.

Uma eternidade pode caber em alguns segundos de um sonho, mas como encaixar o tempo de um sonho em um tempo real? O Grupo Quatroloscinco de Belo Horizonte aceitou o desafio e desacelera o tempo ao vivo na frente do espectador na peça-livro “Velocidade”, ora em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil.

O espectador precisa de um tempo para entrar no tempo do espetáculo, mas quando consegue, passa a usufruir de um dos mais originais e instigantes trabalhos teatrais surgidos nos palcos paulistanos.

A peça inicia totalmente no escuro quando se ouve a narração de um sonho, aos poucos surge a iluminação aqui ou acolá e a retina do espectador vai se aclimatando à claridade.

O elenco de cinco pessoas e seus respectivos avatares apresenta os sete capítulos que compõem o livro-peça. Tudo realizado de forma suave e poética envolvendo o espectador em tempo suave e acolhedor.

Todo o elenco é dono de voz belíssima, emissão perfeita e dicção de clareza pouca ouvida em nossos palcos. São elas e eles: Michele Bernardino, Rejane Faria, Assis Benevuto, Ítalo Laureano e Marcos Coletta. Os avatares foram realizados por Agnaldo Pinho, Eduardo Félix e Marina Arthuzzi.

O público é convidado a ler em coro “A Última Página” (sétimo capítulo do livro).

O epílogo acontece com uma explosão de efeitos sonoros (Barulhista) e luzes estonteantes criadas de maneira brilhante por Marina Arthuzzi, em um verdadeiro trabalho de gênio!

Ao se apagarem as luzes é necessário um tempo para que o espectador reassuma o tempo real e aplauda calorosamente o elenco.

A dramaturgia é assinada por Assis Benevuto e Marcos Coletta e a direção do espetáculo é de Ítalo Laureano e Ricardo Alves Jr.

Um belo livro-peça está à venda ao final da peça-livro!

Velocidade é mais um grande momento da temporada de 2025.

NÃO DEIXE DE VER!

VELOCIDADE está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil. Quinta e sexta 19h e sábado e domingo 17h até 12 de outubro.

 

08/09/2025

sábado, 6 de setembro de 2025

SOB O CÉU DE PARIS

 

Será que se esta peça se chamasse “Sob o Céu do Minhocão”, ela teria o mesmo apelo para o público? De qualquer maneira, seria mais coerente porque toda a ação se passa em um apartamento situado à beira da tenebrosa via que corta agressivamente a paisagem paulistana e Paris é vagamente citada devido a uma viagem à capital francesa que o casal protagonista fez na juventude. O título dado também se refere a uma canção de Edith Piaf que não é citada na peça.

A peça de Gabriela Rabelo mostra a visita que uma neta faz aos avós onde tenta resgatar fatos do passado e é um veículo para o brilho e o talento da grande atriz Miriam Mehler e também uma celebração pelos seus 90 anos a serem completados no próximo dia 15 de setembro.

Maldosamente, o mordaz crítico Telmo Martini escrevia que Miriam sofria de “síndrome de Peter Pan”, mas no fundo ele tinha razão, pois fisicamente a querida atriz é uma eterna garota de quinze anos com seu corpo mignon e ágil. Vê-la preparando-se para iniciar a peça, junto com Rosana Maris e Walter Breda já é uma festa para os olhos. 






Com sua poderosa voz e vigoroso gestual ela dá vida a Ana Angélica Minhocão, mulher e mãe dos personagens interpretados por Walter Breda, sempre ótimo em cena. Rosana Maris, interpreta a neta visitante igualando-se em talento aos veteranos Miriam e Breda.

Gabriel Fontes Paiva empresta dinamismo ao espetáculo, acumulando as funções de diretor, cenógrafo e iluminador. Os figurinos são assinados por Fábio Namatame e a trilha sonora é de Chico Beltrão.

O sempre bem-vindo programa impresso, além de notas sobre os intérpretes e sobre o espetáculo, traz uma interessante matéria de Marianne Wenzel sobre o Minhocão e os males que ele fez à cidade, reforçando aquilo que escrevo no início deste texto, que o título da peça deveria ser “Sob o Céu do Minhocão”.

Muito bonita a homenagem do Guia OFF que traz Miriam Mehler na capa de sua edição de setembro.


E SALVE MIRIAM MEHLER!

SOB O CÉU DE PARIS está em cartaz no Itaú Cultural até 28/09 de quinta a sábado, 20h e domingo, 19h.

 

06/09/2025