Pontos de vista de um espectador...
Por José Cetra
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domingo, 20 de maio de 2012
QUEM SOMOS NÓS?
Um escritor marca um encontro com o diabo num teatro para tentar resolver seus problemas com falta de inspiração. Fragilizado em função da mercantilização tanto da arte como da própria vida, o escritor vem em busca de diálogo e ajuda. Assim começa Fogo Fátuo, o novo trabalho de Samir Yazbek que também interpreta o escritor, criado a partir das indagações e da vivência do próprio dramaturgo. Exercício enxuto de metateatro que consegue em menos de três quartos de hora levantar questões contemporâneas que extrapolam o fazer teatral. Poucas vezes o texto soa discursivo ou didático (citações de nomes de filósofos, de psicólogos e de autores teatrais) e os diálogos fluem eficientemente.
Samir Yazbek interpreta o dramaturgo num momento difícil e faz um bom contraponto para Helio Cícero que brilha como um Mefisto desiludido com a banalização da maldade e com a falta de ética com que ela vem sendo praticada na contemporaneidade.
A encenação de Antônio Januzelli é bastante discreta ressaltando o trabalho dos atores e a bela e simples cenografia de Laura Carone coloca em cena vários elementos de outras peças de Yazbek. A cena em que as duas personagens se defrontam perante um espelho, fundindo suas imagens, é particularmente bela e reveladora.
Mefisto quer a alma do escritor dando em troca a sua inspiração. O escritor recusa. Mefisto parte. Mas o embate valeu... O escritor volta a escrever!
Num momento da peça, Mefisto vocifera para o escritor: “Quem é você?”. Saímos do teatro sensibilizados pela eterna questão “Quem somos nós?”, pois o espetáculo toca nas inquietações de qualquer ser humano. Isso não é pouco!
O espetáculo está em cartaz no Sesc Santana até dia 27 de maio . Sexta e sábado às 21he domingo às 18h.
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