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sábado, 13 de julho de 2013

TRATADO SOBRE A SOLIDÃO



      Quantas vezes nos pegamos falando com o bichinho de estimação, trocando ideias com uma pessoa imaginária ou até preparando a mesa do jantar com velas e vários lugares quando sabemos que iremos comer sozinhos.  Vontade de compartilhar uma alegria ou uma tristeza, mas uma ausência muito presente nos traz de volta à realidade. A peça Ausência da dupla André Curti e Artur Ribeiro da Cia. Dos à Deux nos mostra um caso desses numa situação limite que se passa num futuro (2036) mais tenebroso que o nosso presente onde a falta de amigos é acompanhada da escassez de água e de alimentos e só os ratos marcam uma presença constante. A carente personagem só pode externar sua afetividade para com um peixinho, o qual no final da ação será sacrificado para que a água do seu aquário sacie a sede do pobre protagonista. As entranhas da solidão são mostradas por meio desse homem triste e solitário cujo único contato com a vida é esse peixinho que vai morrer para que ele sobreviva por mais algum tempo.

     A encenação é primorosa desde o sugestivo cenário de Fernando Mello da Costa constituído de tubulações e de sucata de objetos metálicos cada um deles com funções bem definidas dentro da ação, passando pela iluminação perfeita com claro-escuros e luzes tênues e focadas em pequenos espaços de autoria de PH e Artur Ribeiro. A trilha sonora composta especialmente para o espetáculo por Fernando Mota completa o clima claustrofóbico e solitário proposto pela encenação.



     Por último, mas tão importante quanto, a interpretação despojada de Luís Melo que entrega todo seu talento à proposta dos encenadores vivendo visceralmente e  com gestos precisos uma personagem que não tem sequer uma fala.

     O peixinho morre, os ratos continuam a chegar, mas sentado à janela talvez o solitário ainda vislumbre alguma esperança. Espetáculo pungente e desde já presente na lista dos melhores do ano.

     “A arte tem de ter algo que me tira do chão e deslumbra”, a frase de Ferreira Gullar cabe perfeitamente neste triste, mas necessário espetáculo. IMPERDÍVEL!

     Ausência está em cartaz no Sesc Ipiranga aos sábados às 21h e aos domingos às 18h até o dia 28 de julho.

Um comentário:

  1. Um espetáculo que mostra a aridez da solidão, tocante. Digno de ser visto mais de uma vez. E que trabalho de ator e direção!

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