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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

BURACO D’ORÁCULO CONTA A SAGA DA MIGRAÇÃO



À procura de um lugar.
 
     Por razões diversas sempre ligadas à carência de necessidades básicas o migrante resolve abandonar seu lugar de origem, normalmente no caso do Brasil, situado em zonas rurais do Nordeste. Viaja em condições sub-humanas para as grandes cidades, onde é hostilizado pelos seus próprios pares que o consideram um concorrente (Mais um Zé?) e reprimido pelas autoridades tanto policiais como aquelas do assim chamado serviço social; alguns podem ter a chance de ser recebido por algum parente ou amigo que também vive em condições precárias. Arranja um subemprego, vai morar numa favela, passa pela tentação das drogas e da facilidade de ganhar dinheiro de forma ilícita, é despejado da favela e se tiver sorte vai viver num desses prédios desumanos e impessoais; com pouco menos de sorte se desloca para outra favela cada vez mais periférica ou ainda, volta para o centro da cidade para morar...na rua. De uma maneira ou de outra vai vivendo sua vida que nunca deixa de ser miserável, além de sentir uma grande melancolia por nunca ter podido voltar a rever os parentes e o torrão natal.
Edson Paulo, Lu Coelho, Adailton Alves
Lu Coelho, Selma Pavanelli

Heber Humberto: "Nem me fale!"

Caixa/Mala/Camarim
 
     O espetáculo Ser Tão Ser do grupo Buraco D’Oráculo dá conta dessa trajetória num conciso e bonito trabalho com uma hora de duração, perfeito para manter atento o público de uma peça de rua. Baseado em relatos de moradores da zona leste de São Paulo, o grupo criou coletivamente o espetáculo, que é dirigido por Adailton Alves. Tudo é mostrado com muita garra pelos cinco atores (com suas significativas e belas caixas/malas/camarins ambulantes) de maneira lúdica e econômica (o espetáculo não tem pontos mortos).
     Taiguara, o injustiçado cantor brasileiro, dizia em uma de suas canções que “só não sofreu quem não viu, não entendeu quem não quis”, o militante Buraco D’Oráculo termina seu espetáculo repetindo o refrão: “Se o povo soubesse o valor que tem/Não aguentava desaforo de ninguém". Ficam algumas perguntas que, absolutamente, não invalidam trabalhos como esse: quanto que ele vai contribuir para dar um final mais honroso para a saga descrita acima? Moradores de rua e público da periferia absorvem o recado dado? Se absorverem, o que vão fazer com ele?  Não é mole não, Seu Brecht!
 
 

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