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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A ARTE DA COMÉDIA - O TEATRO É NECESSÁRIO?


     A arte é necessária? O teatro é necessário? Como seria um ser humano que nunca ouviu uma música e jamais presenciou uma manifestação que não fosse aquela oferecida pela vida real? Os homens antigos foram buscar a arte primeiramente na natureza (o canto dos pássaros, o ruído dos ventos) e depois nos rituais, os quais acabaram dando origem ao teatro. A indústria cultural com sua busca incessante por retorno financeiro banalizou a arte e muita coisa hoje curtida e absorvida pela maioria é puro lixo cultural (haja vista a baixa qualidade da música popular cantada nos quatro cantos do mundo, os programas televisivos que tem o limite do mau gosto em coisas como o Big Brother e a vulgaridade da maioria dos espetáculos teatrais que se intitulam “comédias comerciais”). Mas resistir é preciso e o pobre enjeitado (o teatro foi assim chamado por Oswald de Andrade) é um dos baluartes dessa resistência. Em meio a um deserto de bobagens (em artigo anterior, fiz relação de títulos de peças em cartaz que per si revelam a que vieram) ainda é possível encontrar o teatro combatente, o teatro arte, tanto nas produções dos coletivos como naquelas realizadas por grupos que se formam para um determinado espetáculo.
 
     Neste último caso insere-se A Arte da Comédia espetáculo vindo do Rio de Janeiro em cartaz no Sesc Santana. Por meio do ardiloso texto do italiano Eduardo De Filippo (1900-1984), autor da famosa peça Filomena Marturano (último trabalho da saudosa Yara Amaral, também no Rio de Janeiro), a função e a necessidade do teatro são discutidas de maneira lúdica e muito engraçada. A encenação de Sergio Módena concentra sua atenção no trabalho de atores (são 12 em cena!) com um resultado homogêneo e de alta qualidade.
Eduardo De Filippo
 
      A peça trata do tema por meio do embate entre um homem de teatro (o dono de uma companhia) e um burocrata (o novo prefeito de uma pequena cidade). Há um belo prólogo onde o homem de teatro, ainda na rua, discorre sobre o universo do teatro. Na primeira parte os dois discutem sobre a importância do teatro e na segunda entram em cena os visitantes (eles mesmos ou atores os representando?) criando-se uma pandega confusão que culmina com a chegada dos guardas que devem elucidar quem é quem. Mas serão eles verdadeiramente guardas ou atores interpretando guardas? A realidade, onde está a realidade?
 
 
     Apesar de homogêneo cabe destacar do elenco os nomes de Ricardo Blat (excelente como o homem de teatro), de Thelmo Fernandes como o prefeito e do ótimo ator que interpreta o médico Quinto Basetti que tem tempo de comédia perfeito (creio que seu nome é Alcemar Vieira – o programa não indica a relação entre ator e personagem).
 
     A título de informação cabe notar que essa peça foi montada aqui em São Paulo no ano de 1999 pela Companhia Razões Inversas dirigida por Marcio Aurélio (que é o tradutor do texto), tendo Walter Breda como o homem de teatro e Marcelo Lazzaratto como o prefeito. Os “Fofos” Newton Moreno, Fernando Neves e Marcelo Andrade faziam parte do elenco. Apesar de bastante elogiada a peça cumpriu uma curta temporada num teatro distante do circuito teatral (a sala pequena do Teatro Alfa).
     A Arte da Comédia abre auspiciosamente a temporada teatral paulistana continuando uma tendência do ano de 2013 de espetáculos que discutem o fazer teatral. Pura delícia que não pode deixar de ser assistida por todos aqueles que acreditam e amam o teatro. A peça fica em cartaz até 23 de fevereiro no Sesc Santana às sextas e sábados às 21h e domingos às 18h.

3 comentários:

  1. Boa, Cetra. Pelo jeito, vimos o mesmo espetáculo. Você tem um estilo de escrever que lembra o Décio e o Clóvis Garcia: limpo, objetivo. Grande abraço.

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  2. Carlos, meu caro! Fico lisonjeado com a comparação. Jamais chegarei perto desses dois ícones da crítica teatral brasileira. Muito obrigado. Um abração.

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  3. Boa tarde, Cetra! Posso usar a imagem, máscaras neste artigo, no site do teatro da cidade na Rússia, como um logotipo?

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