Há algo surpreendente a ser descoberto às quartas e quintas
feiras no CIT Ecum: BILLDOG .
Munido apenas com sua roupa e uma capa de gangster,
Gustavo Rodrigues nos conta a saga de Billdog,
perseguido por um misterioso inimigo chamado Shelfy Carpenter que pretende
matá-lo por meio de balas de revolver que contém um veneno letal (daí o nome
original em inglês Bane). Trilha
sonora de Ben Roe tocada ao vivo pelo guitarrista Márcio Tinoco ilustra a
história desse mercenário (que para nós é o mocinho da história) num enredo do
inglês Joe Bone digno dos melhores filmes de mocinho e bandido, contendo todos
os clichês dos mesmos e dos chamados filmes noir
americanos como perseguições, encurralamentos, armadilhas e o resultado surpreendente e muito engraçado. Parece
simples. Parece, mas não é.
No programa da peça, o músico Márcio Tinoco define muito bem o
espetáculo: “eletrizante sátira para um ator em 38 personagens e um músico”. É
aí que a simplicidade acaba: Gustavo Rodrigues nos conta a história a partir de
Billdog, mas vai interpretando todas
as 37 personagens que interferem em sua eletrizante aventura. O ator demonstra
total domínio das técnicas de mímica e sem nenhum adereço material acende e
fuma cigarros, saca revólveres, sobe e desce escadas, dirige motos e carros,
chegando ao máximo de interpretar uma cena digna de antologia onde há uma
perseguição entre um carro e uma moto (Gustavo quase simultaneamente faz o
condutor do carro, sua acompanhante, Billdog na moto e os sons do auto e da
moto! Só vendo para crer.). As mudanças de personagem são feitas de maneira
sutil com pequenas, mas significativas alterações no gestual e no tom de voz,
sem usar certos recursos banais tão comuns entre nossos atores como trocar um
chapéu ou quase se jogar no chão para demonstrar que se trata de nova
personagem.
Durante a apresentação não pude deixar de me lembrar da
personagem Kid Morenguera, criação de Miguel Gustavo, eternizada por Moreira da
Silva na célebre música O Rei do Gatilho.De alguma maneira, Gustavo Rodrigues faz no palco, o que
Moreira da Silva fazia no disco e faço essa comparação como um grande elogio ao
seu trabalho.
A dinâmica da peça exige muito fisicamente do ator que
transpira bastante e deve perder alguns quilos a cada apresentação. Para
dificultar ainda mais ele só tira a pesada capa nos agradecimentos. É muito
prazeroso descobrir o trabalho de um talentoso ator praticamente desconhecido
em São Paulo.
A direção do espetáculo feita em conjunto pelo autor e
Guilherme Leme limita-se a orquestrar a interpretação do ator e sua
movimentação numa bem cuidada iluminação de Willemberg Peçanha com a
interpretação das músicas ao vivo pelo guitarrista Márcio Tinoco.
Ótimo espetáculo, verdadeira aula de interpretação por um
nome a ser guardado: Gustavo Rodrigues.
No melhor estilo “toda fita em série que se preza; dizem,
reza; acaba sempre no melhor pedaço” (*) ao final Billdog anuncia para breve
novas aventuras. Venham que serão muito bem vindas.
Billdog está em
cartaz no Centro Internacional de Teatro Ecum (Rua da Consolação 1623) às
quartas e quintas feiras às 21h somente até 29/05. CORRA PARA VER.
(*) Trecho da música Bala
Com Bala de Aldir Blanc e João Bosco.
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