Em setembro de 1970, auge da ditadura militar, Augusto
Boal criou o Teatro Jornal, uma
colagem de notícias dos jornais dramatizadas de várias maneiras e interpretadas
por jovens atores (Denise Del Vecchio- que ainda assinava Falotico-, Celso Frateschi
e Dulce Muniz, entre outros). Criado para driblar a feroz censura da época e
para dialogar com os jovens espectadores/estudantes o Teatro Jornal fez muitos seguidores, principalmente, entre os muitos
grupos de teatro universitário existentes na época e tempos depois praticamente
saiu de moda, dando lugar às criações coletivas e depois aos processos colaborativos.
No domingo ao assistir Não Nem Nada esse tipo de espetáculo me veio à lembrança. Inspirado
naqueles vídeos inúteis que grassam no you tube; em frases pomposas e vazias
declaradas por astros do futebol, por celebridades instantâneas que posam para
a revista Caras ou ainda por participantes
dos famigerados reality shows;
Vinicius Calderoni criou uma sequencia de 12 cenas que dialogam com o público
jovem presente na plateia e que tem esses fatos como uma presença constante em
seu dia a dia. A crítica/denúncia à ditadura militar dos anos 1970 dá lugar à
crítica/denúncia ao lixo cultural produzido pela sociedade contemporânea no
século 21.
Não Nem Nada é
um espetáculo DE jovens (o autor/diretor e o elenco devem ter cerca de 30 anos ou menos)
PARA jovens (a idade média do público era inferior a 30 anos) e esse público
reage com muita empolgação às cenas apresentadas. O público mais velho, mesmo
não “sacando” algumas das citações também se delicia com o frescor da
encenação, interpretada por dois atores (Geraldo Rodrigues e Victor Mendes,
este substituído com muita espontaneidade pelo autor/diretor na noite em que
assisti à peça) e duas atrizes (Mayara Constantino e Renata Gaspar) todos eles
talentosíssimos e com muita versatilidade para interpretar situações e personagens
bastante diversas em pouco mais de 60 minutos.
Fachada do Teatro do Núcleo Experimental
Não Nem Nada é
um espetáculo do Empório de Teatro Sortido co-dirigido por Rafael Gomes e está
em cartaz no aconchegante Teatro do Núcleo Experimental (Rua Barra Funda, 637)
até 18/10: sextas às 21h30, sábados às 21h e domingos às 19h. Reserve ou chegue
cedo, pois as sessões têm tido lotação esgotada.
Belo texto Zé! Em tempos de seca, falta de cuidado com a natureza, montanhas de lixo não reciclado. E esse caos iminente, se refletindo nos meios de comunicação, através de celebridades instantâneas e vazias, que estão mais preocupadas com o seu ângulo no vídeo ou na foto, e NÃO estão NEM aí pra NADA! Reciclar esse lixo cultural e devolve-lo em forma de bom teatro, me parece muito importante. Uma peça divertida, que faz refletir sobre o futuro. Parabéns ao autor e ao elenco.
ResponderExcluirComentário mais que pertinente, Arnaldo. Obrigado.
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