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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

FazDeConta



Foto de Pedro Vicente

                O britânico Alan Ayckbourn (1939-) é um dos autores vivos mais encenados em todo o mundo. A primeira encenação de uma de suas peças em São Paulo foi em 1975 (Absurdas Pessoas, dirigida por Renato Borghi), depois, por cerca de 30 anos, os encenadores paulistas ignoraram a obra do dramaturgo. A partir da segunda década do século 21, talvez por influência das bem sucedidas adaptações de suas peças para o cinema por Alain Resnais e também por iniciativa dos ayckbourneanos Eduardo Muniz e Alexandre Tenório, ele voltou à cena paulistana com a montagem de vários de seus títulos. Fato muito bem vindo haja vista tratar-se de dramaturgia atualíssima tanto na forma como no conteúdo, como bem disse o diretor Sir Peter Hall (1930-): “Se, daqui a cem anos, alguém quiser saber como foi viver na segunda metade do século 20 – e eu acrescentaria, nas primeiras décadas do século 21-, tenho certeza que irão atrás das peças de Alan Ayckbourn, antes de consultarem livros de história e sociologia”.

                Traduzida por Alexandre Tenório e levada à cena por Kiko Marques está em cartaz no Instituto Capobianco a peça FazDeConta (RolePlay, no original), escrita em 2001, sendo a última da trilogia chamada Donzelas em Perigo (Damsels in Distress), que inclui GamePlan e Flatspin.

                A partir de um fato corriqueiro (um jovem casal burguês prepara um jantar para seus pais para anunciar que vão se casar) o autor faz uma crítica feroz à sociedade inglesa (que também pode ser a nossa) e a seus valores cheios de preconceitos e ideias conservadoras. Ri-se muito durante o espetáculo, mas leva-se para casa a reflexão sobre fatos ocorridos atualmente nos cenários brasileiro e do mundo.

                A jovem Vil Companhia formada por egressos do curso de teatro do Indac cercou-se de profissionais muito competentes para produzir seu espetáculo como o diretor Kiko Marques, o cenógrafo Chris Aisner (cenário realista idealizado nos mínimos detalhes), Raul Teixeira (criou uma deliciosa trilha sonora baseada em hits da música popular norte americana das décadas de 1950 a 1970) e do ator/diretor Fernando Neves que faz uma participação para lá de especial. Junte-se a isso o talento desses jovens atores que realizam um trabalho impecável de interpretação: Márcio Macedo que faz o jovem noivo lembra Kiko Marques na atuação, Ricardo Blat na aparência e Woody Allen na personagem atrapalhada que interpreta, fatos que destaco como um elogio a esse jovem e promissor ator; Letícia Soares, apesar de bastante jovem para a personagem Arabella, compõe uma deliciosa senhora alcoólatra e transgressora para o meio em que vive; Érica Kou faz a personagem mais difícil da peça (uma dançarina de strip tease rebelde); Fernando Neves cria com muita verve uma figura ridícula metida a engraçadinha; nos outros papeis conta-se com a boa presença de Elienay da Anunciação, Paulo Mendonça e Lu Severi. Desejo longa vida a esse grupo que começa com o pé direito sua profissionalização no teatro.

                Não há como não comentar a contribuição para o espetáculo de Fernanda Capobianco, batalhadora administradora do Instituto Capobianco que com sua perseverança tem viabilizado  a realização de espetáculos importantíssimos como Cais ou Da Indiferença das Embarcações e Gotas D’Água Sobre Pedras Escaldantes. Ir ao Instituto Capobianco é a certeza de se ter  bom acolhimento e de se assistir a um espetáculo de nível.
 
                FazDeConta está em cartaz no Instituto Capobianco às segundas, sábados e domingos às 20h até 08 de dezembro.

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