O britânico Alan Ayckbourn (1939-) é um dos autores
vivos mais encenados em todo o mundo. A primeira encenação de uma de suas peças
em São Paulo foi em 1975 (Absurdas Pessoas,
dirigida por Renato Borghi), depois, por cerca de 30 anos, os encenadores paulistas
ignoraram a obra do dramaturgo. A partir da segunda década do século 21, talvez
por influência das bem sucedidas adaptações de suas peças para o cinema por Alain Resnais e
também por iniciativa dos ayckbourneanos Eduardo Muniz e Alexandre Tenório, ele
voltou à cena paulistana com a montagem de vários de seus títulos. Fato muito
bem vindo haja vista tratar-se de dramaturgia atualíssima tanto na forma como
no conteúdo, como bem disse o diretor Sir Peter Hall (1930-): “Se, daqui a cem
anos, alguém quiser saber como foi viver na segunda metade do século 20 – e eu
acrescentaria, nas primeiras décadas do século 21-, tenho certeza que irão
atrás das peças de Alan Ayckbourn, antes de consultarem livros de história e
sociologia”.
Traduzida por Alexandre Tenório e levada à cena por
Kiko Marques está em cartaz no Instituto Capobianco a peça FazDeConta (RolePlay,
no original), escrita em 2001, sendo a última da trilogia chamada Donzelas em Perigo (Damsels in Distress), que inclui GamePlan e Flatspin.
A partir de um fato corriqueiro (um jovem casal
burguês prepara um jantar para seus pais para anunciar que vão se casar) o
autor faz uma crítica feroz à sociedade inglesa (que também pode ser a nossa) e
a seus valores cheios de preconceitos e ideias conservadoras. Ri-se muito
durante o espetáculo, mas leva-se para casa a reflexão sobre fatos ocorridos
atualmente nos cenários brasileiro e do mundo.
A jovem Vil Companhia formada por egressos do curso
de teatro do Indac cercou-se de profissionais muito competentes para produzir
seu espetáculo como o diretor Kiko Marques, o cenógrafo Chris Aisner (cenário
realista idealizado nos mínimos detalhes), Raul Teixeira (criou uma deliciosa
trilha sonora baseada em hits da música popular norte americana das décadas de 1950 a
1970) e do ator/diretor Fernando Neves que faz uma participação para lá de
especial. Junte-se a isso o talento desses jovens atores que realizam um
trabalho impecável de interpretação: Márcio Macedo que faz o jovem noivo lembra
Kiko Marques na atuação, Ricardo Blat na aparência e Woody Allen na personagem
atrapalhada que interpreta, fatos que destaco como um elogio a esse jovem e
promissor ator; Letícia Soares, apesar de bastante jovem para a personagem
Arabella, compõe uma deliciosa senhora alcoólatra e transgressora para o meio
em que vive; Érica Kou faz a personagem mais difícil da peça (uma dançarina de
strip tease rebelde); Fernando Neves cria com muita verve uma figura ridícula
metida a engraçadinha; nos outros papeis conta-se com a boa presença de Elienay
da Anunciação, Paulo Mendonça e Lu Severi. Desejo longa vida a esse grupo que
começa com o pé direito sua profissionalização no teatro.
Não há como não comentar a contribuição para o espetáculo
de Fernanda Capobianco, batalhadora administradora do Instituto Capobianco que
com sua perseverança tem viabilizado a realização de espetáculos
importantíssimos como Cais ou Da
Indiferença das Embarcações e Gotas D’Água Sobre Pedras Escaldantes. Ir
ao Instituto Capobianco é a certeza de se ter bom acolhimento e de se
assistir a um espetáculo de nível.
FazDeConta está em cartaz no Instituto Capobianco às segundas, sábados e domingos às 20h até 08 de dezembro.
Adorei o espetáculo !!!! Recomendo !!!!
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