Dentro do projeto Homens à Deriva que procura refletir sobre os acontecimentos ocorridos
durante a ditadura militar brasileira, André Garolli encenou neste ano os
espetáculos: As Moças de Isabel Câmara, Abajur
Lilás de Plínio Marcos e este História
dos Porões de Analy Alvarez que está mais diretamente relacionado com o
tema do projeto e que para mim é o melhor sucedido dos três.
O texto bastante engenhoso tem uma
narrativa que intercala presente e passado aonde a relação entre as personagens
vai se revelando pouco a pouco até o final impactante. A trama envolve um
ex-militar que trabalhou nos órgãos de repressão e que é muito consciente dos
atos que praticou para “salvar o Brasil das mãos dos comunistas”, sua filha que
o tem como exemplo de pai, mas que descobre sobre suas atividades após a sua
morte e uma presa política que foi torturada e estuprada nas dependências da
prisão. Garolli encena essa história com
mãos de mestre, enfatizando e ampliando suas qualidades por meio de cenário
conciso (uma escrivaninha que pode ser uma cela de prisão), iluminação
primorosa (dele e de Rodrigo Alves) que revela os ambientes e os sentimentos
das personagens, adereços cênicos perfeitos que estão dentro do baú que a filha
vai abrir quando o pai morre, com destaque para o novelo de lã que é
responsável pelo momento mais dramático e revelador do espetáculo.
Isadora Ferrite, filha do saudoso ator
Zanoni Ferrite (1946-1978), demonstra ter herdado o talento do pai interpretando
a filha servil indo com muito equilíbrio dos sentimentos de amor e saudade para
aqueles de perplexidade e revolta. Luiza Braga, atriz paraense estreia em São
Paulo com muita garra fazendo a mulher presa e torturada. O militante político
falou mais alto do que a personagem no caso de Luiz Serra: o ator obviamente
não acredita nas falas de sua personagem e para convencer como tal exagera na
interpretação que poderia ser mais contida tornando mais clara a dualidade da
personagem preconizada pela autora no programa da peça.
História
dos Porões é espetáculo sério e comprometido que merecia uma temporada mais
longa para permitir que o boca a boca o levasse para um público maior. Nunca é
demais denunciar as atrocidades doa anos de chumbo da ditadura brasileira,
principalmente quando assistimos perplexos alguns jovens em manifestações empunhando
faixas solicitando a volta dos militares ao poder.
A peça terminou a sua temporada no
simpático TOP Teatro (ao lado do Teatro Sérgio Cardoso) neste domingo, dia 23
de novembro. Esperemos que ela retorne ao cartaz em 2015.
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