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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

2ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp)



 

                Durante a 1ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) realizada em março deste ano , os organizadores Antonio Araújo e Guilherme Marques comentaram que tinham como prioridade a continuidade do evento e já prometeram a realização do segunda MI Tsp para 06 a 15 de março de 2015. Promessa feita, promessa cumprida. Ontem os realizadores tornaram pública a notícia da realização da 2ª MITsp, nas datas indicadas anteriormente, o que demonstra mais uma vez a seriedade desse empreendimento que já faz parte do calendário cultural da cidade.
                A 2ª MITsp não cresce em tamanho, mas, levando-se em conta os comentários de Antonio Araújo sobre os espetáculos programados, mantém o nível artístico e polêmico da primeira mostra. Até agora estão confirmados 10 espetáculos (contra os 11 da 1ª), mas esse número talvez cresça para 12 ou 13, em função de espetáculos latino-americanos que venham a fazer parte da grade.
                Na forma, muitos dos espetáculos dialogam com o cinema e no conteúdo muitos deles abordam zonas de conflito; há também várias releituras contemporâneas de textos clássicos:

                - OPUS Nº 7 (Rússia) – Direção: Dmitry Krymov (2h30, com intervalo de 30min)

                - A GAIVOTA (Rússia) – Direção: Yuri Butusov (4h45)

                - WOYZECK (Ucrânia) – Direção: Andriy Zholdak (2h)

                - SENHORITA JULIA (Alemanha) – Direção: Katie Mitchell e Leo Warner (1h15)

                - STIFTERS DINGE (Alemanha) – Direção: Heiner Goebbels (1h20)

                - CANÇÃO DE MUITO LONGE (Holanda) – Direção: Ivo van Hove – ESTREIA MUNDIAL (duração ainda não definida)

                - AS IRMÃS MACALUSO (Itália) – Direção: Emma Dante (1h15)

                - ARQUIVO (Israel) – Direção: Arkadi Zaides (1h15)

                - E SE ELAS FOSSEM PARA MOSCOU? (Brasil) – Direção: Christiane Jatahy (1h40)

                - JULIA (Brasil) – Direção: Christiane Jatahy (1h25)

                Apesar de já terem sido apresentadas em São Paulo é bastante pertinente a escolha das duas encenações de Christiane Jatahy, uma vez que têm muito em comum com os espetáculos estrangeiros tanto no diálogo com o cinema como na releitura de clássicos do teatro.

                A 2ªMITsp mantém os parceiros da 1ª, sem os quais não haveria possibilidade da realização da mesma. São eles: ITAÚ, SESC, Secretarias Municipal e Estadual da Cultura e o CIT Ecum.

                Em 2015 a mostra será expandida para teatros das zonas leste (Flávio Império) e norte (Alfredo Mesquita). Serão cobrados ingressos de R$20,00 (meia entrada: R$10,00) que poderão ser adquiridos on line. Haverá mais apresentações por espetáculo (de três a seis) para evitar os problemas do primeiro evento, onde muita gente não conseguiu assistir a muitas das encenações.

                Ponto forte da 1ªMITsp, o eixo pedagógico se mantém nesta segunda edição.

                Mais informações sobre a Mostra poderão ser obtidas a partir de 29/12/2014 no site:

www.mitsp.gov

                Em 15/01/2015 surge um novo site, já com a programação da Mostra.

sábado, 13 de dezembro de 2014

PRÊMIO APCA DE TEATRO 2014




         Em reunião realizada em 1º de dezembro de 2014 no Sindicato dos Jornalistas Profissionais os críticos da área de teatro da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) elegeram os premiados do ano.
         Os espetáculos musicais dominaram a premiação. Sem considerar o Prêmio Especial e o Grande Prêmio da Crítica, das cinco categorias restantes, quatro ficaram com musicais (houve empate na categoria “Espetáculo”).
         Eis os premiados:


DRAMATURGIA: Newton Moreno e Alessandro Toller (O Grande Circo Místico)


ATRIZ: Laila Garin (Elis, a Musical)

 
ATOR: Cleto Baccic (O Homem de La Mancha)

 
DIRETOR: Marco Antônio Pâmio (Assim É (Se Lhe Parece)



ESPETÁCULO: O Homem de La Mancha e Pessoas Perfeitas

 

PRÊMIO ESPECIAL: MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo)

 
GRANDE PRÊMIO DA CRÍTICA: Laura Cardoso (72 anos dedicados à Arte)

 
 
         Fui incumbido de comunicar o prêmio à Laura Cardoso. Consegui o seu telefone por meio da Gabriela Rabelo. Fui atendido com muita simpatia e carinho por aquela voz tão característica que se mostrou muito feliz com o prêmio. Torno público que tal incumbência foi uma grande honra para mim. Laura Cardoso é uma atriz que brilhou no rádio e ainda brilha no teatro, no cinema e na televisão e muito mais que isso, é um ser humano dotado daquela simplicidade que só os grandes possuem.  
 
 
 
 
         Votaram: Afonso Gentil, Aguinaldo Cristofani R. da Cunha, Carmelinda Guimarães, Edgar Olímpio de Souza, Evaristo Martins de Azevedo, José Cetra Filho, Kyra Piscitelli, Marcio Aquiles Fiamenghi, Maria Eugenia de Menezes, Michel Fernandes, Miguel Arcanjo Prado e Vinício Angelici.

 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

OS ESPETÁCULOS INTERNACIONAIS TRAZIDOS PELO SESC ou O QUE A RUTH ESCOBAR TEM A VER COM ISSO?



                Até 1974 os espetáculos internacionais de teatro que chegavam a São Paulo eram incipientes e esporádicos. Naquele ano a sempre batalhadora Ruth Escobar lutando contra a burocracia e a censura dominantes em plena ditadura militar realiza o I FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE SÃO PAULO, trazendo de uma só vez Núria Espert com a belíssima  Yerma dirigida por Victor Garcia, o grupo A Comuna de Portugal e aquele que seria o grande impacto para o público paulistano e que marcaria toda uma geração de artistas brasileiros: Vida e Época de Dave Clark, espetáculo com 12 horas de duração dirigido por Bob Wilson. Seguiram-se os Festivais de 1976, 1981, 1994 (a partir deste ano o evento passou a chamar-se Festival Internacional de Artes Cênicas –FIAC-), 1995, 1996, 1998 e 1999; sempre envolvidos em muita polêmica e em espetáculos de alto nível artístico. No penúltimo desses festivais, Ruth Escobar escreveu no catálogo: “Este será, possivelmente, o último Festival que pessoalmente promovo, e agradeço a todos aqueles que me ajudaram nestes últimos anos, a realizá-lo. Agradeço particularmente a parceria do Sesc, co-realizador dos três últimos FIACs, em especial a colaboração do Professor Danilo Miranda. Será fundamental para São Paulo que o Serviço Social do Comércio, que tem dedicado parte extremamente relevante do seu trabalho ao incentivo das manifestações artísticas, tornando-se uma extensão do Ministério da Cultura, dê continuidade à promoção dessa atividade”. Ruth ainda realizou o oitavo e derradeiro FIAC em 1999 voltado à cultura cigana. Danilo Miranda e o Sesc não deram continuidade aos festivais, mas foram os verdadeiros herdeiros de Ruth no que se refere a trazer para o Brasil aquilo que de mais importante acontece nos teatros do mundo.

1976
1981
1994
1995
1996
1998
1999
 
                A partir do ano 2000 por meio do Sesc tivemos acesso aos espetáculos do Théâtre du Soleil (construiu-se no Sesc Belenzinho uma réplica da sede do grupo na Cartoucherie de Vincennes em Paris para receber as encenações de Ariane Mnouchkine), de Peter Brook, do Odin Theatre de Eugenio Barba , de Bob Wilson e do Berliner Ensemble,  só para ficar com os mais famosos.

Os Náufragos da Louca Esperança - Théâtre du Soleil - Sesc Belenzinho - 2011
 

                O Sesc abriu o ano de 2014 sendo um dos co-realizadores da 1ª Mostra  Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) , evento idealizado por Guilherme Marques e Antonio Araújo que esperemos se torne o filho legítimo dos festivais de Ruth Escobar. Realizou também a Mirada- Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, onde se apresentaram 40 produções de 12 países. Trouxe a São Paulo alguns trabalhos apresentados no Festival de Curitiba como o empolgante A Violação de Lucrécia com a atriz/cantora irlandesa Camille O’Sullivan. Completando a lista tivemos The Old Woman, espetáculo dirigido por Bob Wilson com as presenças marcantes de Willem DaFoe e Mikhail Baryshnikov, o grupo canadense ExMachina de Robert Lepage com Jogos de Cartas, o despojado Hamlet com o Globe Theatre e fechando com chave de ouro o ano, dentro do Festival Sesc de Música de Câmara, aquele que se revelou como um dos melhores espetáculos apresentados em São Paulo nos últimos tempos: o teatro-música Songs of Lear com o grupo polonês Song of the Goat Theater. Querer mais é ser guloso!

Songs of Lear - Song of the Goat Theater - Sesc Belenzinho - 2014
 
                Normalmente esses eventos vêm acompanhados de atividades formativas com oficinas e encontros entre os artistas estrangeiros e brasileiros o que os tornam ainda mais enriquecedores.
                Ao escrever esta matéria penso como Ruth Escobar ficaria feliz em sentir o gosto do fruto de seu trabalho corajoso e inovador e me vem à mente o final da canção Aos Nossos Filhos de Ivan Lins e Vitor Martins:


                Quando brotarem as flores
                Quando crescerem as matas
                Quando colherem os frutos
                Digam o gosto pra mim.

 

sábado, 6 de dezembro de 2014

RUTH E MARIA-BRAVAS GUERREIRAS

 

         Duas bravas guerreiras foram as responsáveis pela construção de dois teatros na cidade de São Paulo nos anos 1954 e 1964.
 
 
 

         Em 28 de outubro de 1954, Maria Della Costa (1926) inaugurava o seu amplo teatro construído num terreno da Rua Paim com a peça O Canto da Cotovia de Jean Anouilh, dirigida por Gianni Ratto. Bastante moderno para a época, foi cenário de espetáculos importantíssimos como a primeira montagem profissional de Bertolt Brecht em São Paulo (A Alma Boa de Set-Suan em 1958) e Depois da Queda de Arthur Miller em 1964, para citar apenas dois títulos. Nos anos 1960/1970 abrigou também espetáculos de outras companhias (Liberdade, Liberdade e Édipo Rei), além de shows antológicos de Elis Regina e Maria Bethânia (Rosa dos Ventos). Em 1978 foi adquirido pela Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (Apetesp) com o objetivo (segundo a página da Associação) de “prestar maiores benefícios aos seus associados”. Hoje à beira dos 90 anos Maria Della Costa, ainda muito bela, está afastada do teatro.
 
 
 
 
 
         Dez anos depois, em 15 de dezembro de 1964, era a vez da sempre corajosa e empreendedora Ruth Escobar (1936) inaugurar o seu teatro na Rua dos Ingleses com A Ópera dos Três Vinténs de Brecht, dirigida pelo saudoso José Renato. A partir daí aquele espaço abrigou momentos fundamentais não só do teatro brasileiro (Roda Viva, 1ª Feira Paulista de Opinião, A Viagem, entre muitos outros) como também da resistência da classe teatral aos desmandos da ditadura militar o que pode ser verificado no livro de Rofran Fernandes com o sugestivo nome de Teatro Ruth Escobar-20 Anos de Resistência (Global Editora-1985). Ruth destruiu e reconstruiu seu espaço para abrigar da melhor maneira montagens antológicas como O Balcão (1969). Em 1997 o teatro também foi adquirido pela Apetesp. Ruth Escobar vive reclusa em São Paulo em avançado estado do mal de Alzheimer.
 
 

 

         Ícones do melhor teatro que se fez em São Paulo entre os anos 1950 e 1980, lamentavelmente esses teatros hoje estão destinados a “produtos” estritamente comerciais, o que se pode constatar por meio dos títulos de alguns dos espetáculos apresentados nos mesmos no decorrer de 2014:

         Teatro Maria Della Costa: República das Calcinhas/Manual da Bisca/Engolindo Sapo Para Um Dia Comer Perereca/Cenas de Doido: A Comédia Proibida/Gatomeu e Ratoleta.

         Teatro Ruth Escobar: Assalto Alto/Cura Ele Cura Ela/Quem Não Vê Cara, Não Vê Furacão/O Dia Em que Eu Comi a Pomba Gira/De Mala e Cuia no Trem do Riso/Homens no Divã/Casal TPM/Casal TPM 2-A Música da Nossa Vida/TPM-Terapia Para Mulheres/O Amante do Meu Marido/Nua na Plateia/Uma Família Muito Doida.

         Essas programações não fazem jus ao brilhante passado dos edifícios que as abrigam e muito menos às bravas guerreiras Maria Della Costa e Ruth Escobar que dão nome aos dois teatros.

         Teatros com esse passado e que levam o nome de mulheres desbravadoras que enaltecem e engrandecem a cena brasileira mereciam títulos mais importantes em seus cartazes.

         Resta a memória de quem pôde assistir nesses palcos a momentos fundamentais do teatro brasileiro.

         Esta é minha homenagem a Maria Della Costa, a Ruth Escobar e ao teatro brasileiro.