Até 1974 os espetáculos internacionais de teatro que
chegavam a São Paulo eram incipientes e esporádicos. Naquele ano a sempre
batalhadora Ruth Escobar lutando contra a burocracia e a censura dominantes em
plena ditadura militar realiza o I
FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE
SÃO PAULO, trazendo de uma só vez Núria Espert com a belíssima Yerma
dirigida por Victor Garcia, o grupo A
Comuna de Portugal e aquele que seria o grande impacto para o público
paulistano e que marcaria toda uma geração de artistas brasileiros: Vida e Época de Dave Clark, espetáculo
com 12 horas de duração dirigido por Bob Wilson. Seguiram-se os Festivais de
1976, 1981, 1994 (a partir deste ano o evento passou a chamar-se Festival Internacional de Artes Cênicas
–FIAC-), 1995, 1996, 1998 e 1999; sempre envolvidos em muita polêmica e em
espetáculos de alto nível artístico. No penúltimo desses festivais, Ruth
Escobar escreveu no catálogo: “Este será, possivelmente, o último Festival que
pessoalmente promovo, e agradeço a todos aqueles que me ajudaram nestes últimos
anos, a realizá-lo. Agradeço particularmente a parceria do Sesc, co-realizador
dos três últimos FIACs, em especial a
colaboração do Professor Danilo Miranda. Será fundamental para São Paulo que o Serviço Social do Comércio, que tem dedicado
parte extremamente relevante do seu trabalho ao incentivo das manifestações
artísticas, tornando-se uma extensão do Ministério da Cultura, dê continuidade
à promoção dessa atividade”. Ruth ainda realizou o oitavo e derradeiro FIAC em 1999 voltado à cultura cigana.
Danilo Miranda e o Sesc não deram continuidade aos festivais, mas foram os
verdadeiros herdeiros de Ruth no que se refere a trazer para o Brasil aquilo
que de mais importante acontece nos teatros do mundo.
1976
1981
1994
1995
1996
1998
1999
A partir do ano 2000 por meio do Sesc tivemos acesso aos
espetáculos do Théâtre du Soleil
(construiu-se no Sesc Belenzinho uma réplica da sede do grupo na Cartoucherie de Vincennes em Paris para
receber as encenações de Ariane Mnouchkine), de Peter Brook, do Odin Theatre de Eugenio Barba , de Bob
Wilson e do Berliner Ensemble, só para ficar com os mais famosos.
Os Náufragos da Louca Esperança - Théâtre du Soleil - Sesc Belenzinho - 2011
O Sesc abriu o ano de 2014 sendo um dos
co-realizadores da 1ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) , evento idealizado por Guilherme
Marques e Antonio Araújo que esperemos se torne o filho legítimo dos festivais
de Ruth Escobar. Realizou também a 3ª
Mirada- Festival Ibero-Americano de Artes
Cênicas de Santos, onde se apresentaram 40 produções de 12 países. Trouxe a
São Paulo alguns trabalhos apresentados no Festival de Curitiba como o
empolgante A Violação de Lucrécia com
a atriz/cantora irlandesa Camille O’Sullivan. Completando a lista tivemos The Old Woman, espetáculo dirigido por
Bob Wilson com as presenças marcantes de Willem DaFoe e Mikhail Baryshnikov, o
grupo canadense ExMachina de Robert
Lepage com Jogos de Cartas, o
despojado Hamlet com o Globe Theatre e fechando com chave de
ouro o ano, dentro do Festival Sesc de
Música de Câmara, aquele que se
revelou como um dos melhores espetáculos apresentados em São Paulo nos últimos
tempos: o teatro-música Songs of Lear
com o grupo polonês Song of the Goat
Theater. Querer mais é ser guloso!
Songs of Lear - Song of the Goat Theater - Sesc Belenzinho - 2014
Normalmente esses eventos vêm acompanhados de
atividades formativas com oficinas e encontros entre os artistas estrangeiros e
brasileiros o que os tornam ainda mais enriquecedores.
Ao escrever esta matéria penso como Ruth Escobar
ficaria feliz em sentir o gosto do fruto de seu trabalho corajoso e inovador e me
vem à mente o final da canção Aos Nossos
Filhos de Ivan Lins e Vitor Martins:
Quando brotarem as flores
Quando crescerem as matas
Quando colherem os frutos
Digam o gosto pra mim.
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