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domingo, 8 de março de 2015

CONSERTANDO FRANK



        Nem sempre a junção de bom texto, bom encenador e bom elenco resulta em sucesso de crítica e/ou de público. Para ficar em dois exemplos clássicos ocorridos nos palcos paulistanos cito a montagem de Vereda da Salvação de Jorge Andrade dirigida por Antunes Filho em 1964 (último espetáculo do TBC) que tinha no elenco nada menos que Raul Cortez, Cleyde Yáconis e Lelia Abramo e ainda a grandiosa encenação de Tom Paine (1970) de Paul Foster com direção de Ademar Guerra com numeroso e talentoso elenco liderado pela grande Myrian Muniz. Tenho certeza que este não será o destino deste Consertando Frank que estreou ontem no Mube Nova Cultural.

        Marco Antônio Pâmio indiscutivelmente um grande ator, vem se firmando como encenador e munido de bons autores (Pirandello e Tennessee Williams) e ótimos elencos emplacou dois sucessos no ano passado: Assim É (Se Lhe Parece) (prêmio APCA e indicação de prêmio Shell de direção) e Propriedades Condenadas (uma pequena joia que volta ao cartaz no Teatro Sérgio Cardoso no mês de abril).

        E eis que neste início de temporada de 2015 ele está de volta e acerta de novo, agora com  texto contemporâneo do autor norte americano Ken Hanes e com elenco primoroso formado por Chico Carvalho, Rubens Caribé e Henrique Schafer.

        O psicólogo Jonathan (Rubens Caribé) pede a  seu companheiro, o escritor Frank (Chico Carvalho) que consulte outro terapeuta, o Dr. Apsey (Henrique Schafer) que diz ter um método para a “cura gay”. O objetivo de Jonatha é desmascarar Apsey e convence seu parceiro propondo que ele escreva um artigo sobre o assunto. A solução dramatúrgica encontrada pelo autor, e muito bem traduzida cenicamente por Pâmio, coloca as três personagens permanentemente em cena durante os 90 minutos de duração de ação a qual vai colocando Frank cada vez mais nas mãos manipuladoras dos seus outros dois interlocutores. Situado entre dois fogos, nada resta a Frank do que sair emocionalmente queimado e ainda pedindo desculpas por todo esse imbróglio que não foi criado nem alimentado por ele. Resta-lhe um tênue grito de liberdade nos derradeiros minutos da peça.

        Tudo funciona nessa nova encenação de Pâmio: o cenário simples e funcional de Chris e Nilton Aizner, o discreto figurino de Naum Alves de Souza, a bonita iluminação do muito presente em vários espetáculos Fran Barros e a trilha sonora de Ricardo Severo.

        A direção contempla o trabalho dos atores imprimindo uma marcação rigorosa à movimentação dos mesmos sem, porém, tirar a espontaneidade da mesma.

        Rubens Caribé imprime humanidade ao hipócrita Jonathan e Henrique Shafer (que nos brindou há alguns anos com sua magnífica interpretação de O Porco) interpreta o aparentemente equilibrado Dr. Apsey com muita garra, mas o protagonista da peça é Frank e Chico Carvalho se aproveita disso valendo-se de todos seus recursos interpretativos para criar uma personagem que já lhe confere presença na lista das melhores atuações do ano.

        Consertando Frank é espetáculo muito digno que deve abranger todo tipo de público. Está em cartaz no Mube Nova Cultural às sextas e sábados às 21h30 e aos  domingos às 18h. até 26/04.

 

08/03/2015

 

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