Nem
sempre a junção de bom texto, bom encenador e bom elenco resulta em sucesso de
crítica e/ou de público. Para ficar em dois exemplos clássicos ocorridos nos
palcos paulistanos cito a montagem de Vereda
da Salvação de Jorge Andrade dirigida por Antunes Filho em 1964 (último
espetáculo do TBC) que tinha no elenco nada menos que Raul Cortez, Cleyde
Yáconis e Lelia Abramo e ainda a grandiosa encenação de Tom Paine (1970) de Paul Foster com direção de Ademar Guerra com numeroso
e talentoso elenco liderado pela grande Myrian Muniz. Tenho certeza que este
não será o destino deste Consertando Frank
que estreou ontem no Mube Nova Cultural.
Marco
Antônio Pâmio indiscutivelmente um grande ator, vem se firmando como encenador
e munido de bons autores (Pirandello e Tennessee Williams) e ótimos elencos
emplacou dois sucessos no ano passado: Assim
É (Se Lhe Parece) (prêmio APCA e indicação de prêmio Shell de direção) e Propriedades Condenadas (uma pequena
joia que volta ao cartaz no Teatro Sérgio Cardoso no mês de abril).
E
eis que neste início de temporada de 2015 ele está de volta e acerta de novo,
agora com texto contemporâneo do autor norte americano Ken Hanes e com
elenco primoroso formado por Chico Carvalho, Rubens Caribé e Henrique Schafer.
O
psicólogo Jonathan (Rubens Caribé) pede a
seu companheiro, o escritor Frank (Chico Carvalho) que consulte outro
terapeuta, o Dr. Apsey (Henrique Schafer) que diz ter um método para a “cura
gay”. O objetivo de Jonatha é desmascarar Apsey e convence seu parceiro
propondo que ele escreva um artigo sobre o assunto. A solução dramatúrgica
encontrada pelo autor, e muito bem traduzida cenicamente por Pâmio, coloca as
três personagens permanentemente em cena durante os 90 minutos de duração de
ação a qual vai colocando Frank cada vez mais nas mãos manipuladoras dos seus
outros dois interlocutores. Situado entre dois fogos, nada resta a Frank do que
sair emocionalmente queimado e ainda pedindo desculpas por todo esse imbróglio que não foi criado nem
alimentado por ele. Resta-lhe um tênue grito de liberdade nos derradeiros
minutos da peça.
Tudo
funciona nessa nova encenação de Pâmio: o cenário simples e funcional de Chris
e Nilton Aizner, o discreto figurino de Naum Alves de Souza, a bonita
iluminação do muito presente em vários espetáculos Fran Barros e a trilha
sonora de Ricardo Severo.
A
direção contempla o trabalho dos atores imprimindo uma marcação rigorosa à
movimentação dos mesmos sem, porém, tirar a espontaneidade da mesma.
Rubens
Caribé imprime humanidade ao hipócrita Jonathan e Henrique Shafer (que nos
brindou há alguns anos com sua magnífica interpretação de O Porco) interpreta o aparentemente equilibrado Dr. Apsey com muita
garra, mas o protagonista da peça é Frank e Chico Carvalho se aproveita disso
valendo-se de todos seus recursos interpretativos para criar uma personagem que
já lhe confere presença na lista das melhores atuações do ano.
Consertando Frank é espetáculo muito
digno que deve abranger todo tipo de público. Está em cartaz no Mube Nova
Cultural às sextas e sábados às 21h30 e aos
domingos às 18h. até 26/04.
08/03/2015
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