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segunda-feira, 8 de junho de 2015

UM BONDE CHAMADO DESEJO


 
         Tenho vários bondes na minha vida pregressa de espectador. O filme de 1951 dirigido por Elia Kazan e chamado de Uma Rua Chamada Pecado no Brasil foi lançado no mesmo ano por aqui. Uma propaganda publicada na revista Cinelândia mostrava a foto abaixo.
 
         Devo ter visto essa foto quando tinha cerca de dez anos e ela provocou a libido daquele menino, ainda mais que trazia as palavras “desejo” e “pecado” em seu bojo. Mais tarde soube que se tratava da cena em que Stanley (Marlon Brando) se reconcilia com Stella (Kim Hunter) após um dos seus acessos de fúria. Devo ter assistido ao filme por volta dos meus dezoito anos e foi esse o meu primeiro contato com a obra prima de Tennessee Williams (1911-1983).
         À peça de teatro só fui assistir em 1974, dirigida por Kiko Jaess com Eva Wilma, Nuno Leal Maia e Pepita Rodrigues no trio central, seguida da montagem carioca dirigida por Maurice Vaneau em 1986 com Tereza Rachel, Paulo Ramos e Angela Valério. Não tenho grandes recordações dessas duas montagens e só fui me entusiasmar em 2002 com a exuberante encenação de Cibele Forjaz com Leona Cavalli, Milhem Cortaz e Isabel Teixeira. (Só para constar cito duas montagens anteriores às quais não assisti com Henriette Morineau e depois com Maria Fernanda.)
 
1974
1986
2002
         Treze anos depois o jovem diretor Rafael Gomes revisita o bonde trazendo Maria Luisa Mendonça como Blanche, Eduardo Moscovis como Stanley e Virginia Buckowski como Stella. Com traços bastante contemporâneos a partir do criativo cenário modular de André Cortez, a bem cuidada encenação mantém-se fiel à trama original valendo-se da iluminação de Wagner Antônio e dos belos figurinos criados por Fause Haten. A imensa arena do Tucarena dificulta em certos momentos a compreensão das falas, principalmente do elenco feminino, como também provoca a sensação de se estar perdendo expressões e gestos importantes quando o intérprete está de costas (a encenação privilegia a plateia situada do mesmo lado das portas de entrada do teatro).
 
 
         Muito loira e de cabelos bastante longos Maria Luisa Mendonça protagoniza uma Blanche intensa e talvez bonita demais. Sua passagem para a demência poderia ser mais nuançada, mas ao atingi-la a atriz tem seus melhores momentos. Eduardo Moscovis ameniza o lado selvagem de Stanley sendo mais irônico do que brutal. Virginia Buckowski empresta sua natural delicadeza para a compreensiva e muito humana Stella. Destaque também para Donizeti Mazonas como o vizinho Mitch. Fabrício Licursi, Fernanda Castello Branco e Matheus Martins saem-se bem nos papéis secundários. Há um momento digno de nota no espetáculo quando Blanche relata a Mitch a sua frustrada experiência matrimonial com um jovem homossexual (as figuras de Mitch e de Allan - o marido - se mesclam numa interessante solução cênica). A cena do filme que tanto mexeu comigo na juventude é reproduzida quase identicamente por Moscovis e Virginia nesta madura encenação que consolida Rafael Gomes como diretor teatral.
         UM BONDE CHAMADO DESEJO está em cartaz no Tucarena às sextas (21h30), sábados (21h) e domingos (18h) até 02/08. VALE A PENA VIAJAR NESTE BONDE!
 
08/06/2015

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