Tenho vários bondes na minha vida
pregressa de espectador. O filme de 1951 dirigido por Elia Kazan e chamado de Uma Rua Chamada Pecado no Brasil foi
lançado no mesmo ano por aqui. Uma propaganda publicada na revista Cinelândia mostrava a foto abaixo.
Devo ter visto essa foto quando tinha
cerca de dez anos e ela provocou a libido daquele menino, ainda mais que trazia
as palavras “desejo” e “pecado” em seu bojo. Mais tarde soube que se tratava da
cena em que Stanley (Marlon Brando) se reconcilia com Stella (Kim Hunter) após
um dos seus acessos de fúria. Devo ter assistido ao filme por volta dos meus
dezoito anos e foi esse o meu primeiro contato com a obra prima de Tennessee
Williams (1911-1983).
À peça de teatro só fui assistir em
1974, dirigida por Kiko Jaess com Eva Wilma, Nuno Leal Maia e Pepita Rodrigues
no trio central, seguida da montagem carioca dirigida por Maurice Vaneau em
1986 com Tereza Rachel, Paulo Ramos e Angela Valério. Não tenho grandes
recordações dessas duas montagens e só fui me entusiasmar em 2002 com a
exuberante encenação de Cibele Forjaz com Leona Cavalli, Milhem Cortaz e Isabel
Teixeira. (Só para constar cito duas montagens anteriores às quais não assisti
com Henriette Morineau e depois com Maria Fernanda.)
1974
1986
2002
Treze anos depois o jovem diretor
Rafael Gomes revisita o bonde trazendo Maria Luisa Mendonça como Blanche,
Eduardo Moscovis como Stanley e Virginia Buckowski como Stella. Com traços
bastante contemporâneos a partir do criativo cenário modular de André Cortez, a
bem cuidada encenação mantém-se fiel à trama original valendo-se da iluminação
de Wagner Antônio e dos belos figurinos criados por Fause Haten. A imensa arena
do Tucarena dificulta em certos momentos a compreensão das falas,
principalmente do elenco feminino, como também provoca a sensação de se estar
perdendo expressões e gestos importantes quando o intérprete está de costas (a
encenação privilegia a plateia situada do mesmo lado das portas de entrada do
teatro).
Muito loira e de cabelos bastante
longos Maria Luisa Mendonça protagoniza uma Blanche intensa e talvez bonita
demais. Sua passagem para a demência poderia ser mais nuançada, mas ao
atingi-la a atriz tem seus melhores momentos. Eduardo Moscovis ameniza o lado
selvagem de Stanley sendo mais irônico do que brutal. Virginia Buckowski
empresta sua natural delicadeza para a compreensiva e muito humana Stella.
Destaque também para Donizeti Mazonas como o vizinho Mitch. Fabrício Licursi,
Fernanda Castello Branco e Matheus Martins saem-se bem nos papéis secundários.
Há um momento digno de nota no espetáculo quando Blanche relata a Mitch a sua
frustrada experiência matrimonial com um jovem homossexual (as figuras de Mitch
e de Allan - o marido - se mesclam numa interessante solução cênica). A cena do
filme que tanto mexeu comigo na juventude é reproduzida quase identicamente por
Moscovis e Virginia nesta madura encenação que consolida Rafael Gomes como
diretor teatral.
UM BONDE CHAMADO DESEJO está em cartaz
no Tucarena às sextas (21h30), sábados (21h) e domingos (18h) até 02/08. VALE A
PENA VIAJAR NESTE BONDE!
08/06/2015
quero ver. beijos, pedrita
ResponderExcluirVi 2 vezes e quero ver mais. É muita emoçao!
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