Neste final de semana do feriado prolongado,
na tentativa de abarcar o maior número de montagens antes da reunião de
premiação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) assisti a seis espetáculos e para minha alegria me surpreendi
positivamente com todos. Na impossibilidade de escrever matérias exclusivas
faço abaixo um breve apanhado sobre cada um deles:
DESILUSÃO DAS DEZ HORAS: O poético
texto de Alberto Guiraldelli baseado em poema de Wallace Stevens recebeu
simples e delicada tradução cênica de André Garolli mostrando a solidão de duas
mulheres solitárias e carentes de afeto e de sexo, uma vez que seus maridos
marinheiros passam muito tempo longe de casa. Helio Cícero é o destaque do
elenco. No Espaço Viga até 17/12.
DISSECAR UMA NEVASCA: A encenação do
árido texto de Sara Stridsberg contando a saga da Rainha Cristina da Suécia tem
seu grande trunfo na atuação do elenco com destaque para o talento e a energia
de Nicole Cordery no papel da rainha. Nicole afirma-se cada dia mais como uma
das melhores jovens atrizes do nosso teatro, haja vista seu outro brilhante
trabalho em Ato a Quatro neste mesmo
ano. Na Oficina Cultural Oswald de Andrade até 28/11.
ANTES DE TUDO: Texto e direção de
Dan Rosseto já comentado neste blog. No Teatro Augusta até 13/12.
HAMELETE – O CORDEL: Esta
surpreendente adaptação para linguagem de cordel do Grupo Careta para o clássico de Shakespeare é absolutamente
imperdível. Irreverente e divertida sem perder a essência do original. Elenco
afinadíssimo com uma hilária Ofélia e Rainha Gertrudes, ambas interpretadas por
atores homens. O ator que interpreta Hamlet, ou melhor, Hamelete é ótimo e
engraçado. As únicas mulheres do elenco (duas) fazem as vezes de narradores e
coringas de várias personagens secundárias. Destaque também para o cenário e os
figurinos. No Espaço Parlapatões até 11/12.
SOLILÓQUIOS: Texto bastante
interessante e promissor do jovem dramaturgo Amarildo Felix, recém-saído do
Núcleo de Dramaturgia do Sesi bravamente capitaneado por Marici Salomão. As
personagens definidas como Ex Namorada e Ex Namorado destilam seus rancores em
solilóquios entremeados por rápidos flashbacks
do passado feliz. A peça tem bastante semelhança com Mão na Luva de Oduvaldo Vianna Filho, mas é absolutamente original
em sua linguagem. A direção nervosa de Johana Albuquerque exige bastante
energia na movimentação dos atores. A pequenina e graciosa Erica Montanheiro
agiganta-se em cena provando que é uma atriz de grande talento. Luciano Gatti a
acompanha muito bem apesar de ser um pouco monocórdio e discursivo em suas
falas. Textos sobre a monogamia de animais irracionais são bastante
interessantes, mas repetem-se à exaustão e a peça poderia terminar da bela cena
em que ela abandona o lar. No C. C. Fiesp até 20/12.
A REAÇÃO: Definida como “comédia
romântica”, a peça da inglesa Lucy Prebble é muito mais do que isso discutindo
o mercantilismo da indústria farmacêutica e as consequências de medicação no
tratamento de estados depressivos. Diálogos fluentes com dinâmica e enxuta
direção de Clara Carvalho. Destaque para o tratamento visual (de Herbert
Bianchi e Laerte Késsimos) ilustrando os exames aos quais o casal de cobaias é
submetido. Isabella Lemos tem tipo e sabe tirar partido dele para compor
Connie, a jovem cobaia. André Bankoff não se vale de sua exuberância física na
composição de Tristan, propondo-se até a sapatear num divertido momento da
peça. Clara Carvalho e Rubens Caribé não precisam de nenhum esforço para
mostrar os seus talentos como os médicos do centro de pesquisas em que se passa
a ação. Destaque também para a excelente trilha sonora de Ricardo Severo. No
Teatro Vivo até 20/12.
SATYRIANAS: A destacar também a
bonita movimentação de uma bonita e pacífica multidão na Praça Roosevelt
madrugada adentro durante a realização da Satyrianas.
Parabéns Ivam Cabral e Rodolfo García Márquez por mais esta realização.
23/11/2015
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