INTRODUÇÂO
A
Cia. Ludens foi fundada em 2003 por Domingos Nunez e Beatriz Kopschitz Bastos e
se dedica ao estudo e difusão da dramaturgia irlandesa e suas conexões com a
realidade brasileira. A difusão é feita por meio da encenação de peças de
autores irlandeses e promoção de ciclos de leituras.
Já
foram encenadas cinco peças: Dançando em
Lúnassa de Brian Friel (2004 e 2013), Pedras
nos Bolsos de Marie Jones (2006), Idiota
no País dos Absurdos de Bernard Shaw (2008), O Fantástico Reparador de Feridas de Brian Friel (2009), Balangangueri, o Lugar Onde Ninguém Ri de Tom Murphy (2011) e realizados
quatro ciclos de leitura: Teatro Irlandês
do Século XX: de Yeats a Friel
(2004), Teatro Irlandês do Século XXI: A
Geração Pós Beckett (2006), Bernard
Shaw no Século XXI (2009) e o recente (2015) Teatro Documentário Irlandês, objeto desta matéria.
Dançando em Lúnassa - Montagem de 2013
TEATRO DOCUMENTÁRIO ou DOCUDRAMA
Ao
meu modo de ver é necessário fazer uma distinção entre esses dois termos:
Docudrama
é, segundo definição não creditada da Wikipédia, “um estilo de documentário que apresenta de forma dramática a
reconstituição de fatos, utilizando-se atores para isso”. O teatro documentário
é mais radical fixando-se nos documentos em que se baseia; ele, segundo Patrice
Pavis, “só usa, para seu texto, documentos e fontes autênticas, selecionadas e
montadas em função da tese sociopolítica do dramaturgo”, colocando em segundo
plano a forma dramática, acrescentária eu.
O CICLO
Apresentado durante seis
terças feiras (de 20/10/2015 a 24/11/2015) no Teatro Eva Herz, o ciclo
apresentou a leitura dramática de seis peças com a curadoria de Beatriz Kopschitz
Bastos e coordenação da mesma e de Domingos Nunez. Após a leitura foram
realizados debates com a presença do autor (com exceção de Sem Saída, cuja autora já faleceu), do diretor da leitura, do
tradutor e de teóricos do assunto. Em todas as sessões foram realizadas
pequenas palestras sobre Brian Friel, um dos mais importantes dramaturgos
irlandeses, nascido em 1929 e falecido em 2015.
Cinco dos exemplos trazidos
para esse ciclo encaixam-se em teatro documentário e o interesse dramático dos
mesmos está restrito ao tema que apresenta. O tema tem que ter carga dramática
e atingir ampla gama de questões e interesse humanos.
Mácula de Hugo Hamilton (sobre um menino que se vê em um confronto
de identidades entre a mãe alemã e o pai irlandês na Irlanda dos anos 1950) e Sem Saída de Mary Raftery (sobre
violência e abusos sexuais sofridos por crianças nos educandários irlandeses
administrados por entidades católicas) são bons exemplos de peças que tratam de
temas com alto teor dramático e de interesse geral e que dariam, caso fossem
montadas, bons resultados cênicos. Já Descendo
da Perna de Pau: Yeats e o Abbey Theatre de Aideen Howard e Garantido! de Colin Murphy podem
interessar a quem estuda teatro ou economia, respectivamente, mas tornam-se
bastante tediosos para o público em geral, assim como, Titanic: Cenas de Um Inquérito
de Owen McCafferty que trata de tema espetacular e de interesse geral, mas que
restrigindo-se a depoimentos torna-se também enfadonho. Dificilmente esses três
textos poderiam resultar em bons espetáculos por maiores que fossem a
imaginação e o talento de seus encenadores.
Já Diários de Roger Casement, texto em processo de Domingos Nunez, é
construída a partir de documentos históricos sobre o irlandês Roger Casement
que teve vida com trajetória espetacular
constituida de atos heróicos e situações conflituosas como o descobrimento dos
seus diários negros, que podem resultar em estimulantes momentos dramáticos.
Além disso, Nunez utilizará recursos musicais para ilustrar a saga de Casement.
É teatro baseado em documentos, mas com certeza fugirá de certa monotonia que
ameaça o gênero. Aguardemos a sua montagem, programada pela Cia. Ludens para
ser apresentada em 2016.
Elenco e autor/diretor (primeiro à esquerda, sentado) da leitura de Diários de Roger Casement
14/12/2015
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