Mateus Monteiro
Caio Fernando Abreu
É bastante louvável a iniciativa de
realizar este espetáculo no momento em que ocorrem os 20 anos da morte de Caio
Fernando Abreu (12/09/1948 – 25/02/1996). O encenador Kiko Rieser não escolheu
o caminho mais fácil, selecionando como base da montagem um dos textos mais áridos do autor, que é o
diário da sua estadia em Londres (Lixo e Purpurina). Como
Kiko explicita no programa, não se trata do Caio mais conhecido, aquele das
frases bonitas e muito citadas e das situações apaixonantes, mas de um texto
seco onde o autor narra as suas venturas e desventuras como estrangeiro pobre
na capital inglesa.
Em coerência com o texto escolhido o
diretor optou por montagem sóbria sem nenhum cenário ou objeto de cena
concentrando-se no trabalho do ator (voz e movimentação) e no recurso da
iluminação belamente desenhada por Karine Spuri. O grande mérito da encenação é
que tudo nela é discreto e contido, dando prioridade à palavra do escritor
gaúcho.
Montagem deste tipo deve dispor de
intérprete de talento e com amplos recursos expressivos tanto vocais como
corporais. O jovem Mateus Monteiro vem realizando bons trabalhos em temporadas
anteriores e aqui se consolida como um dos bons nomes da nova geração de atores. Uma voz monocórdia levaria
espetáculo deste tipo a desastre tedioso. Mateus sabe dar nuance à sua bela e
potente voz revelando a cada momento as intenções do texto. Sua econômica
movimentação cênica é coerente com a proposta da direção e obedece às marcações
da iluminação.
Quanto aos figurinos de Cássio Brasil é
justificável que a personagem vista pesado capote, uma vez que a ação se passa
no inverno europeu, porém, algo poderia ser pensado para evitar que o ator
transpire tanto em cena e termine a peça extenuado. Por falar nisso, o calor
excessivo da sala na noite da estreia (24/02) dificultou a total fruição deste
belo espetáculo.
AMARELO DISTANTE está em cartaz no
Teatro Augusta às quartas e quintas às 21h até 28/04.
25/02/2016
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