MÚSICA! MÚSICA!! MÚSICA!!!
Depois
da imersão nos espetáculos do MIRADA, voltei à ativa nos palcos paulistanos
nesta semana e a música acompanhou todos os espetáculos a que assisti.
33 VARIAÇÕES é o primeiro musical
erudito apresentado em São Paulo. Texto do dramaturgo venezuelano Moyses Kauffman
com produção caprichada (cenário, figurinos, adereços) de Wolf Maya que também
atua e dirige. Nathalia Timberg brilha como a musicóloga que quer desvendar o
mistério de Beethoven ter dedicado 33 variações a uma valsa medíocre do editor
Diabelli. À medida que a peça avança as ações são ilustradas pelas variações
interpretadas ao piano, também com muito brilho, por Clara Sverner. A peça se
alonga demasiadamente com subtramas que envolvem a filha da musicóloga e seu
namorado e que nada acrescentam à trama principal.
Em
cartaz no Teatro Nair Bello. Sextas e sábados (21h) e domingos (19h).
CARTOLA – O MUNDO É UM MOINHO. A obra
de Cartola é prato cheio para alimentar um musical, sua vida, no entanto, não
teve tantos percalços dramáticos para compor uma peça de teatro. O recurso
dramatúrgico utilizado pelo autor (Artur Xexéo) foi ambientar a peça nos dias
de hoje nos bastidores de uma escola de samba onde se prepara uma homenagem ao
grande compositor. Mais uma vez as subtramas (conflitos entre os participantes
da escola) esticam desnecessariamente o espetáculo. Os melhores momentos são
aqueles que focam o passado e a vida do músico, com destaque para Flavio
Bauraqui (Cartola) e Virginia Rosa (Dona Zica). É curioso que não foram
utilizados fatos da vida de Cartola que são elementos dramaturgicamente
interessantes como a gênese da música que dá subtítulo à montagem (os conselhos
à filha adotiva Creuza que se desviava do “bom caminho”) e a doença de pele que deformou o
seu nariz.
Em
cartaz no Teatro Sérgio Cardoso. Sextas e segundas (20h), sábados (21h) e
domingos (18h).
HOJE É DIA DE MARIA – O MUSICAL. Carlos
Alberto Soffredini (1939-2001) é um dos maiores dramaturgos brasileiros e sua obra que
mescla tão bem o popular e o intelectual ainda está para ser descoberta pelas
novas gerações. Sua visita ao universo caipira rendeu a obra prima Na Carrêra do Divino, imenso sucesso de
crítica e de público no ano de 1979 e também a fábula Hoje É Dia de Maria, mais voltada para o público infanto-juvenil. A
trama é simples: maltratada pela madrasta a jovem Maria sai pelo mundo em busca
de seu “dia” encontrando em seu caminho pássaros e duendes. Dan Rosseto e Ligia
Paula Machado resolveram transformar a obra (adaptada por Francisca Braga) em
musical ilustrado por canções populares da MPB que nem sempre se adéquam à ação
apresentada (a música Comportamento Geral
de Gonzaguinha, ícone da revolta diante da passividade do povo durante a
ditadura militar, é o melhor exemplo disso). A montagem tem produção simples,
mas caprichada na cenografia e nos belos figurinos de Kleber Montanheiro. A
coreografia de Ligia Paula Machado baseada no balé clássico não combina com o
ambiente rural onde se passa a ação. O elenco todo interpreta, canta e dança a
contento com excelente acompanhamento do conjunto musical, mas quem rouba todas
as cenas em que aparece é Kleber Montanheiro como a malvada madrasta em
brilhante composição que remete ao deboche de Marília Pêra e ao histrionismo de
Myrian Muniz. Suas entradas e saídas de cena com uma garbosa sombrinha remetem
àquelas silhuetas do teatro de sombras e lembram uma “Mary Poppins da roça”,
como bem observou Dan Rosseto. Contrariando a voga dos musicais a montagem é
enxuta durando 90 minutos e sem intervalo, o que considero grande elogio.
Em
cartaz no Teatro Cetip. Sextas e sábados (21h) e domingos (19h).
ESPERANDO GODOT. Musical? Pois é, não
se trata de um musical, mas o encenador Elias Andreato introduziu algumas
canções compostas por Jonathan Harold com letras de poemas de Beckett que se
encaixam perfeitamente à sua concepção da obra. Elias adaptou o texto fazendo a
primeira parte bem maior que a segunda, abandonando a rubrica “Eles não se
mexem” ao final de cada ato e não dando intervalo entre atos. Curioso também
que ao contrário de todas as encenações a que assisti (quase uma dezena,
incluindo a inesquecível dirigida por Flavio Rangel com Cacilda Becker) a
personagem de Vladimir (Claudio Fontana, excelente) é a mais frágil e o vigor
fica com Estragon (Elias Andreato). Dignos de nota os trabalhos corporal e
vocal de Clovys Torres como Lucky. A montagem tem visão mais otimista que o
original do dramaturgo irlandês, uma vez que parece haver luz no fim do túnel
quando Estragon e Vladimir dão-se as mãos e caminham. Para onde?
Em
cartaz no Tucarena. Sextas e sábados (21h) e domingos (19h).
05/10/2016
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