Com
apenas 33 anos de idade Leonardo Moreira tem considerável carreira como autor e
encenador. Carreira essa iniciada de maneira promissora com Cachorro Morto (2008), seguida da
instigante Escuro (2009) e culminando
com a obra prima O Jardim (2011),
vencedora dos prêmios mais importantes outorgados naquele ano. Todos esses
espetáculos foram realizados com a Cia. Hiato e sempre contaram com a
colaboração de Marisa Bentivegna quer no desenho de luz quer no surpreendente
espaço cênico criado para O Jardim.
As
pesquisas em torno dos limites entre ficção e realidade assim como a
relatividade do tempo e os assuntos pessoais dos integrantes do grupo desembocaram
em Ficção (2012). Ao aprofundar essas
questões o grupo monta a não tão bem sucedida 2 Ficções (2014)
apresentada ao público de duas maneiras diferentes. Radicalizando a questão das
interferências da realidade na ficção e vice-versa o grupo monta Amadores (2016) formada em grande parte
por relatos de não atores.
Após
sucessivo crescimento artístico com os três primeiros espetáculos, no meu
entender, os três últimos apresentam problemas que aumentam na ordem em que
foram criados e isso se deve, sempre no meu ponto de vista, à falta de
dramaturgia consistente dos mesmos. Entendo que após a tão bem sucedida O Jardim o grupo perdeu parte da
direção, fato compreensível após o imenso sucesso tanto artístico como de público da peça.
Eis
que por apenas quatro dias alguns poucos espectadores tiveram o privilégio de
assistir no Sesc Belenzinho dentro da
Semana do Teatro Polonês ao espetáculo que Leonardo Moreira escreveu e
dirigiu para o Teatro Studio de Varsóvia.
É o retorno do autor e encenador em grande forma inspirando-se de forma
bastante criativa em Tchekhov (algo que ele já havia feito em 2 Ficções sem o mesmo resultado) e
concebendo o espaço cênico com a divisão das plateias assim como em O Jardim (em ambos espetáculos a
cenografia é de Marisa Bentivegna).
Inspirado
principalmente em Tio Vânia, Moreira
escreveu lindo texto tratando da passagem do tempo, das dualidades que a vida
apresenta aos seres humanos, dos sentimentos e do próprio sentido da vida e de
sua finitude.
A
encenação é belíssima dando-se ao luxo de ter cenário construído em madeira
clara que inclui o chão e até as cadeiras da plateia. Esse chão e esses móveis
são feitos com madeira proveniente de uma árvore que foi plantada no dia em que
o criado Stanislaw nasceu, segundo belíssimo momento poético do espetáculo.
Ficção e realidade se mesclando harmoniosamente.
O
elenco é não menos que primoroso. Todos os atores atuam de forma naturalista,
sem afetações. A participação de Stanislaw Brudny como o velho empregado é
comovente. Do lado do cenário a que assisti, o papel principal ficou com o
excelente Lukasz Simlat. Não pude avaliar o trabalho de Marcin Bosak que atuou
do outro lado. Seria ótimo assistir ao espetáculo do outro lado da plateia. Os
personagens têm o mesmo nome dos atores. Do lado a que assisti Marcin não
aparece; ele está em estado vegetativo ou morto. O que acontece com Marcin do
outro lado? Só perguntando para algum espectador que estava do outro lado.
Instigações próprias de Leonardo Moreira. Brilhante!
Quanto
à Companhia Hiato aguardemos suas próximas encenações. Uma vez que Tchekhov tem
sido presença constante em sua trajetória vejo no grupo o elenco ideal para
montar As Três Irmãs:
Olga
– Maria Amélia Farah
Masha
– Luciana Paes
Irina
– Aline Filócomo
Natalia
– Paula Picarelli ou Fernanda Stefanski
Andrei
– Thiago Amaral
LONGA
VIDA à COMPANHIA HIATO.
ANTES TARDE DO QUE NUNCA: MIRADA 2014: HIATO À LUZ DO SOL
03/11/2016
Vida longa nos palcos do mundo a este bela "Primavera"!
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