Em
certa parte do espetáculo Ocupação Rio Diversidade, a mestre de cerimônias
Magenta Dawning comenta sobre as duas cidades irmãs Rio/São Paulo e fala das
suas afinidades e diferenças como chamar biscoito de bolacha e vice-versa. Como
duas boas irmãs uma gosta de falar mal da outra e uma voz quase corrente na
cidade paulista é que a irmã carioca só sabe produzir no teatro comédinhas despretensiosas.
Quem neste exato momento assiste a Race
(Viga Espaço Cênico), Antígona
(Teatro Anchieta) e, principalmente, este Rio
Diversidade no Sesc Santana pode comprovar que trata-se de afirmação
totalmente falsa.
Ocupação Rio Diversidade é um dos mais
contundentes libelos contra os preconceitos sexual e de gênero já apresentados
em nossos palcos.
A
idealizadora do projeto, Marcia Zanelatto, teve o dom de reunir quatro autores
e quatro diretores distintos harmonizando as quatro diferentes linguagens em uma
montagem que no todo tem unidade tanto de ação como de pensamento. A excelente
Magenta Dawning é o fio condutor do espetáculo fazendo os números de cortina
que interligam as quatro peças curtas (20 minutos cada). Magenta tem
observações ferinas não só sobre o tema tratado, mas também sobre a situação
calamitosa em que nosso país se encontra.
Genderless – Um Corpo Fora da Lei é a primeira
peça. Autoria também de Marcia Zanelatto com interpretação minimalista e
precisa de Larissa Bracher que se valendo apenas da luz de um IPad relata as
agruras de Norrie May-Welby, nascida homem, que foi a primeira pessoa do mundo
a ser reconhecida como genderless
(sem gênero específico). A direção de Guilherme Leme Garcia concentra-se
totalmente na movimentação da atriz.
Como Deixar de Ser é de Daniela Pereira
de Carvalho, autora já bastante conhecida dos palcos paulistanos e tem direção
de Renato Carrera. Uma senhora presa em um quarto cheio de roupas velhas
desespera-se ao lembrar-se de sua paixão e desejo por uma colega de trabalho e
revolta-se com a presença de um gato deixado, no meu entender, por uma
ex-companheira que morreu. Kelzy Ecard que já nos ofereceu interpretações
poderosas em Breu e Incêndios repete a dose nesta cena.
A Noite em Claro de Joaquim Vicente tem
clara inspiração no brutal assassinato do diretor Luiz Antonio Martinez Corrêa ocorrido
há exatos 30 anos (1987). Thadeu Matos em interpretação corajosa faz o assassino
e a vítima. Direção de Cesar Augusto, componente da Cia. Dos Atores (outra prova irrefutável da seriedade de parte do
teatro carioca).
Flor Carnívora é uma viagem do talentoso
Jô Bilac pelo mundo vegetal questionando: se as plantas podem ser trangêneras
por que não o ser humano? A luminosa direção de Ivan Sugahara faz a intérprete
Adessa Martins (que há pouco presenteou São Paulo com o ótimo Se Eu Fosse Iracema) circular por entre
plantas que se movem e também pela plateia e corredores do teatro clamando “Abaixo
a soja!”. Risos seguidos de reflexão percorrem a plateia que aplaude
calorosamente ao final do espetáculo.
OCUPAÇÃO
RIO DIVERSIDADE faz temporada relâmpago de apenas dois finais de semana no Sesc
Santana. O primeiro final de semana já passou. CORRA que ainda é tempo: a peça
se apresenta sexta (26/05) e sábado (27/05) às 21h e domingo (28/05) às 18h. IMPERDÍVEL
para quem acredita em um mundo menos transgênico e mais transgênero.
22/05/2017
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