A Vida na Praça Roosevelt de Dea Loher (2005)
e Roberto Zucco de Bernard-Marie Koltès
(2010) inscrevem-se, no meu modo de ver, nos melhores trabalhos realizados por
Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, incansáveis batalhadores e líderes do grupo
Os Satyros.
A
partir de Hipóteses Para o Amor e a
Verdade (2009), incluindo a trilogia Pessoas,
Ivam e Rodolfo criam a dramaturgia de seus espetáculos tendo como modelo o tipo
de trama usado em A Vida Na Praça Roosevelt por Dea Loher, que
no cinema se convencionou chamar de multiplot
e que teve seu maior exemplo nos filmes de Robert Altman: são diversos núcleos
com histórias que ocorrem em paralelo e que de alguma maneira as personagens
desses núcleos se encontram ao final da peça. Além disso, aquelas criaturas urbanas
e marginalizadas da peça de Loher também serviram de inspiração para a criação
das peças posteriores. Não há nenhum demérito nisso, pois as peças demonstraram
ter vida própria quando encenadas.
Pessoas Brutas talvez seja aquela que
mais se distancia do modelo de Loher e tem seu grande mérito na busca de
humanidade em personagens tão acabadas moralmente. Essas figuras vagueiam pelo
mundo buscando sensações nas drogas, na vingança, no sexo, no crime e no tirar
vantagem de quem quer que seja e, no entanto, acreditam em um amanhã melhor,
que com certeza nunca chegará. Os diversos
núcleos têm diversas personagens e as melhores construídas são aquelas de
Teodoro (Ivam Cabral), Olívio (Robson Catalunha) e Disneilandia – um achado o
nome desta personagem- (Julia Bobrow), os três em ótimas interpretações. Todas
as outras personagens são apresentadas em flashes e servem de apoio para o
desenvolvimento da trama que culmina em uma reunião do grupo “Quem Quer Amigos?”
(a ironia!!) com desfecho que não será relatado aqui para que não se chame este
articulista de spoiler! A peça
termina com Disneilandia e o elenco cantando I Have a Dream do grupo Abba
para o daddy Sancho. Pedir mais
ironia para os tristes dias que estamos vivendo seria demais!! Belo e triste
fecho para essas Pessoas Brutas que
merecem ser visitadas.
Destaque
para os figurinos das tristes figuras criados por Bia Pieratti e Carol Reissman.
A ficha técnica não especifica a autoria das máscaras dos atores, talvez criada
por cada um deles. Iluminação precisa de Flavio Duarte.
PESSOAS
BRUTAS está em cartaz no Espaço dos Satyros de quarta a sexta feira ás 21h.
Fotos de Andre Stefano.
07/05/2017
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