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domingo, 10 de dezembro de 2017

VOCÊS QUE ME HABITAM




PEQUENAS GRANDES MULHERES

        De início quero mostrar minha admiração e respeito por algumas pequeninas mulheres do nosso meio teatral que, atrás de sua aparente fragilidade, revelam vigor e talento que enriquecem a cena paulistana. Extremamente combativas, sem serem radicais feministas sabem falar não só das mulheres, mas também dos problemas que afligem a todos nesses tempos sombrios. Estou me referindo a Cibele Forjaz, Silvia Gomez, Janaína Suaudeau e Erica Montanheiro. Esta última é responsável pela dramaturgia (junto com Gustavo Colombini) e pela direção de um dos grandes momentos teatrais surgidos já no final da temporada de 2017.
        Vocês Que Me Habitam é uma peça vigorosa e madura tratando de forma clara e original do tema do aborto mostrando a fragilidade da mulher em determinadas ocasiões e como essa fragilidade é usada violentamente contra ela, não só pelos homens, mas também por outras mulheres. Até a mãe da protagonista não é poupada; ela tem uma frase emblemática que revela a crueldade de certas relações “Vocês que me habitam, não escolheram um bom lugar para morar”.
        No simples, mas eficiente cenário de Joyce Roma, belamente iluminado por Kleber Montanheiro (mais um dos poucos nomes masculinos constantes da ficha técnica) desenrola-se a trama que acontece ora em um hospital, ora na memória da protagonista.

Joyce Roma e Ana Elisa Mattos

        A interpretação de Ana Elisa Mattos pode se inscrever em uma das grandes do ano. A atriz entrega-se visceralmente à personagem, uma mulher que aparentemente sofreu um estupro (a peça não esclarece) e vai a uma clínica de aborto para tirar a criança. Sua relação com a atendente, a médica, a irmã e a mãe é o miolo da narrativa. Ana Elisa aproveita sua experiência em dança para compor um tipo de teatro dança coreografado de forma exemplar. Ela também interpreta a mãe, criada com a voz mudada e cigarro na mão. Joyce Roma encarrega-se das demais personagens da história.
        Trata-se de belo trabalho de equipe basicamente feminina tratando de assuntos da mulher, mas que sensibilizam também a ala masculina.

        VOCÊS QUE NOS HABITAM está em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade às segundas, terças e quartas às 20h, até 20 de dezembro.

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