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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

APROXIMANDO-SE DE A FERA DA SELVA


Foto de João Caldas


        Segundo a astrologia, a conjunção de astros no espaço celeste é tida como momento mágico para a humanidade. O mesmo sucede quando um raro momento teatral conjuga dramaturgia, direção, elenco, iluminação, cenografia, figurino e trilha sonora e alguns privilegiados dessa humanidade têm o prazer de testemunhá-lo.
        Isso aconteceu ontem na estreia de Aproximando-se de A Fera da Selva no Centro Cultural São Paulo, coprodução da Canto Produções e Meimundo.
        Em sua segunda incursão na dramaturgia (a primeira foi com a bem sucedida Alice – Retrato de Mulher Que Cozinha ao Fundo), Marina Corazza mescla momentos da vida e do relacionamento do escritor norte-americano Henry James (1843-1916) com a escritora norte-americana Constance Fenimore Woolson (1840-1894), com trechos (narrados e interpretados) do conto A Fera na Selva de Henry James e com observações dos atores dirigidas diretamente ao público. Essa complexa mistura chega até o espectador de maneira harmoniosa e delicada.

A dramaturga Marina Corazza

        A elegante encenação de Malú Bazán traduz de maneira ímpar o clima proposto pelo texto. Desde a movimentação dos atores (alguns momentos mereciam ser fixados para a posteridade como o puxar das cortinas, a atriz sentada no chão com a saia apenas colocada sobre seu figurino básico, o primeiro encontro dos dois escritores e a cena onde Henry James descreve o breve encontro erótico com seu companheiro de quarto Oliver enquanto vê-se a atriz deitada de costas para o público com o dorso nu) até o melhor uso que já se fez do Espaço Ademar Guerra desde 1994 quando Francisco Medeiros alí apresentou sua antológica encenação de A Gaivota.
        Conforme citado acima a aparentemente simples cenografia de Renato Caldas faz com que o espaço contribua com o espetáculo ao contrário de outras montagens ali apresentadas onde parecia haver uma disputa entre elas e o local. Limitado por cortinas que são manipuladas pelos atores, o espaço cênico contorna os graves problemas de acústica do local.
        A iluminação de Miló Martins banha o espaço oferecendo momentos que tornam perfeita a conjunção dos elementos.
        Figurinos simples de Mareu Nitzchke constituídos de vestes cinza muito parecidas dos dois atores que são adornadas por um colete e uma saia que têm contribuição decisiva para o entendimento da trama.


        Pontual e também perfeita é a trilha sonora de Daniel Maia.
        Parece que faltou algum elemento nessa conjunção: a cumplicidade cênica de Gabriel Miziara e de Helô Cintra Castilho. Miziara, dono de imenso talento, já demonstrado em tantos trabalhos, está perfeito nas diversas personagens que interpreta e a grande surpresa para mim é a interpretação de Helô Cintra Castilho: afastada dos palcos há algum tempo, por conta de suas atividades como assessora de imprensa, retorna em grande estilo com belíssima interpretação tanto da personagem de Constance, como da protagonista do conto e da narradora informal que dialoga com o público. Helô transita com rara elegância pelo palco lembrando as dançarinas criadas por Degas.
        Pode-se achar que esta matéria abusa dos elogios, mas como foi citada no início essa preciosa conjunção precisava ser louvada.
        Algo significativo ocorreu nos agradecimentos: o público, constituído basicamente por elementos da classe teatral, aplaudiu calorosamente demonstrando claramente a sua aprovação, mas não se levantou. Aplaudir de pé se tornou algo tão banal que essa atitude bonita, no meu modo de ver, mostrou o respeito e a adesão dos presentes ao espetáculo.
        Noite memorável fechada com chave de ouro com um brinde oferecido aos presentes.

Fim da festa
       
        APROXIMANDO-SE DE A FERA DA SELVA está em cartaz no Espaço Ademar Guerra do Centro Cultural São Paulo de quinta a sábado às 21h e aos domingos às 20h. Entrada gratuita. IMPERDÍVEL.

02/02/2018





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