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sábado, 12 de maio de 2018

HOJE É DIA DE ROCK



Relato crítico-poético de uma noite mágica

        Zé Vicente (1945-2007) morava em Londres com Antonio Bivar em 1970 quando recebeu carta de seu irmão Messias relatando a morte de seu pai Pedro. A emocionada resposta a essa carta para sua mãe Júlia é gênese de sua peça Hoje É Dia de Rock que consiste de memórias familiares com personagens inspirados nos pais e nos irmãos banhadas com o realismo fantástico de Gabriel García Marquez e as ideias de Carlos Castañeda (a personagem Inca).
         A peça teve uma montagem considerada clássica em 1971 no Rio de Janeiro dirigida e interpretada por Rubens Corrêa e outra em São Paulo       em 1973 dirigida por Emílio Di Biasi com Raul Cortez e elenco com nomes de enorme talento, mas que não teve repercussão semelhante à carioca.


        Quase 50 depois, Gabriel Villela revisita essa bela obra de Zé Vicente em produção do Teatro de Comédia do Paraná com elenco formado por atores da cena curitibana. O ambiente mineiro sugerido pelo texto está garantido pelo estilo inconfundível do encenador, pelos figurinos e cenários também assinados por ele e pela sugestiva inclusão de canções do Clube da Esquina que permeiam toda a ação da peça. O excepcional jovem elenco liderado pela grande atriz Rosana Stavis interpreta, canta e dança aquilo que Zé Vicente criou. Fica difícil destacar esta ou outra interpretação haja vista a homogeneidade do elenco, mas arrisco lembrar os trabalhos de Helena Tezza como Isabel, de Nathan Milléo Gualda como a suave e doce Rosario, de Evandro Santiago como o narrador, de Rodrigo Ferrarini como Pedro e da poderosa Rosana Stavis como a mãe Adélia.


        Existem alguns momentos da vida em que uma conjunção de fatos gera fato maior, digno de entrar na história pessoal de alguém. Na noite de ontem, graças ao meu amigo Haroldo Ferrari fui agraciado por um desses momentos.
        Já conformado com a impossibilidade de assistir à montagem que Gabriel Villela fez da obra de José Vicente no Sesc Paulista (apenas quatro apresentações em espaço com 50 lugares com ingressos esgotados) fui surpreendido com telefonema de Haroldo me informando que eu era convidado dos familiares de Zé Vicente, para assistir à peça na noite de estreia.

Eu, Mariana, Maria Antônia, Vitória e Áldice Lopes (produtor)

        Assisti à peça ao lado do cunhado Osmar, da sobrinha Mariana e das irmãs Vitória e Maria Antônia (retratada na peça na personagem Isabel). Maria Antônia, sentada ao meu lado, em muitos momentos me cutucava emocionada com lágrimas nos olhos e sussurrava “Foi assim mesmo!”. Esse momento de conviver de maneira tão próxima com realidade e ficção pode ser considerado um dos mais sublimes da minha longa vivência como espectador: emoções provocadas pelo texto e pela excepcional montagem de Villela embaladas e alimentadas pela presença ao meu lado de alguém que inspirou personagem da peça.

        Por cortesia e com permissão de Maria Antônia reproduzo abaixo foto da família de Zé Vicente com os nomes de cada um e entre parênteses os nomes das personagens por eles inspiradas na peça: no alto, João (Quincas), o irmão mais velho. Segunda fileira, da esquerda para a direita: José Vicente (Valente); Maria, a irmã cega (Rosario); Cida; Messias (Davi). Terceira fileira, da esquerda para a direita: Maria Antônia (Isabel); Pedro, o pai (Pedro Fogueteiro); Vitória; Júlia, a mãe (Adélia) e Bartolomeu. Foto tirada em São Sebastião do Paraíso, MG, nos anos 1950.


        Noite mágica de 10 de maio de 2018.

        ONTEM FOI DIA DE ROCK!

      P.S. São Paulo não pode ficar limitada a essa temporada relâmpago onde apenas 200 privilegiados espectadores tiveram a oportunidade de assistir a este belo espetáculo. Urge que o Sesc e/ou outras entidades culturais os tragam de volta para uma temporada mais longa.

        11/05/2018

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