Páginas

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

EL BRAMIDO DE DÜSSELDORF (URUGUAI) – MIRADA 2018



        A verdade, onde está a verdade? Ou melhor: O que é a verdade? Essa relatividade da verdade está presente na obra de Pirandello e o uruguaio Sergio Blanco torna suas peças ainda mais pirandellianas ao colocar a si próprio no centro da ação, desenvolvendo o que ele chama de autoficção onde há um pacto com a mentira, ao contrário da autobiografia onde deve haver um pacto com a verdade. Isso que já estava presente em A Ira de Narciso se radicaliza em El Bramido de Düsseldorf, até agora o melhor e mais instigante espetáculo apresentado no Mirada 2018. 
        Em um cenário muito alvo dois atores e uma atriz (todos excelentes) iniciam a peça dublando Losing My Religion do grupo R.E.M. e a seguir apresentam epicamente as personagens que vão representar: Gustavo Saffores será o próprio autor, Walter Rey será seu pai e um rabino muito importante para a trama e Soledad Frugone fará as diversas figuras femininas. A encenação é dividida em prólogo, cinco bramidos e epílogo. Depois desses dados iniciais o público é iniciado na trama que envolve pai e filho em suas estadias na cidade alemã onde não faltarão a produção de filmes pornográficos, uma exposição sobre Peter Kurten (o vampiro de Dusseldorf), o filme Bambi e até uma frustrada circuncisão. Parece muito? Pois a peça tem muito mais envolvendo a plateia no jogo do que é verdadeiro e o que é falso na vida de Blanco.

Walter Rey, Soledad Frugone, Gustavo Saffores e Sergio Blanco

        Muitas referências são feitas à sua peça anterior A Ira de Narciso, inclusive sobre Vinko, um rapaz chileno que cometeu suicídio logo após ter assistido à mesma. Tal fato comprovadamente verdadeiro motivou a criação de El Bramido de Düsseldorf e o epílogo da peça mostra um fragilizado Blanco dialogando com Lenka, mãe de Vinko.
        Como nada é por acaso e comprovando a magia do teatro, um espectador (o ator, diretor e dramaturgo Henrique Fontes do Grupo Carmin do Rio Grande do Norte) conheceu Vinko em Santiago, meses antes do seu suicídio.
        O jogo de metalinguagem proposto por Blanco (também diretor da peça) excita o público fazendo-o a cada momento se lembrar de que está em uma sala de teatro assistindo a uma representação.
        É difícil escrever mais sobre obra tão complexa em sua aparente simplicidade.

        ATENÇÃO SÃO PAULO: A peça será apresentada no SESC Avenida Paulista na EXTENSÃO MIRADA nos dias 15/09 (21h30) e 16/09 (18h30). CORRA para garantir seu ingresso. Caso os ingressos estejam esgotados vá para a fila da esperança! Garanto que vale a pena!

13/09/2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário