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quarta-feira, 13 de março de 2019

(IN)JUSTIÇA



        É muito bom testemunhar que a cada novo espetáculo a Companhia de Teatro Heliópolis cresce tanto técnica como artisticamente.
        Este novo trabalho tem requintes de cenografia e de iluminação dignos dos melhores espetáculos que se realizam na cidade, mas isto ecoaria no vazio se os lados artístico e militante não estivessem presentes. Uma vista d’olhos na ficha técnica com os nomes dos profissionais envolvidos no projeto revela os cuidados com a atual produção.
        A montagem de Miguel Rocha, cujo texto foi escrito em processo colaborativo com Evill Rebouças, transita harmoniosamente entre o teatro épico e o teatro performático mostrando e demonstrando o quanto a justiça neste Brasil é parcial e injusta, por meio da história de Cerol, rapaz pobre e negro que acidentalmente matou uma mulher e sofre os desmandos de um tribunal preconceituoso. A encenação sugere uma interatividade com a plateia escolhendo algumas pessoas do público como júri, mas isso fica só na intenção gerando certa “frustração” nos escolhidos.
        A trilha sonora excepcional de Meno Del Picchia à base de muita percussão e de solos hipnotizantes de cello (Amanda Abá) comenta toda a ação de forma brilhante.
        Dalma Régia e David Guimarães, os atores mais antigos do grupo, desincumbem-se bravamente das principais intervenções seguidos de perto por Walmir Bess. Os três têm momento excelente na cena do tribunal, no embate entre o promotor (Dalma), David (advogado de defesa) e Walmir (juiz). Bonita presença no elenco do menino Gustavo Rocha, filho de Dalma e Miguel.
        Miguel Rocha faz sua encenação mais sofisticada, no melhor sentido que esta palavra possa ter, revelando sábio equilíbrio entre as cenas épicas e as performáticas de conjunto, estas muito bem coreografadas (a direção de movimento é assinada pelo diretor e por Lúcia Kakazu) e acompanhadas pela já citada surpreendente trilha sonora.
        Próximo ao final há, ao meu modo de ver, uma longa cena onde Dalma e David, com uso épico de microfones, exageram na maneira como denunciam mortes e assassinatos de minorias ocorridos no Brasil desde o descobrimento. A denúncia é necessária, mas surtiria mais efeito caso fosse interpretada de maneira menos dramática e mais distanciada.


        A Companhia de Teatro Heliópolis tem sua sede na Casa de Teatro Maria José de Carvalho (Rua Silva Bueno, 1533 – Ipiranga) e é administrada pelo grupo cuja maioria reside na favela de Heliópolis. A casa é muito bonita e o grupo realiza trabalho artístico altamente profissional que precisa ser conhecido e prestigiado pelo público e pela crítica paulistana.
        (IN)JUSTIÇA está em cartaz às sextas e sábados às 20h e aos domingos às 19h até 19 de maio. Pague quanto puder.
        13/03/2019

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