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domingo, 16 de junho de 2019

KINTSUGI, 100 MEMÓRIAS



        A comparação pode parecer banal e até vulgar, mas não posso deixar de compartilhá-la: Kintsugi não é Skol, mas como desce redondo!
        Trata-se do novo espetáculo do Grupo Lume de Campinas. A entrada em cena dos quatro atores brindando com saquê (que será “personagem” importante ao longo do espetáculo) já antevê o ambiente de camaradagem que permeará toda a apresentação, ou quase toda, pois há uma movimentada cena de insultos (!) quase ao final da mesma.
        O vaso que adorna o centro do espaço cênico quando o público adentra a sala será quebrado logo no início da peça, sendo reconstruído ao longo da mesma, assim como são reconstruídas as memórias dos atores por meio de objetos que vão sendo colocados sobre o chão. Kintsugi é uma palavra japonesa que significa emenda com ouro e a emenda das memórias dos atores é realizada com o ouro de seus talentos e oferecida generosamente ao público.
        O processo de criação do espetáculo iniciou com a ideia de pesquisar o mal de Alzheimer (no transcorrer da peça são apresentados os casos de três portadores dessa doença), mas depois se ampliou para a memória de maneira geral e a peça acaba sendo quase um retrospecto da trajetória do grupo que completa 34 anos em 2019. Há até uma simpática invocação do fantasma de Luís Otávio Burnier (1956-1995), fundador do Lume, falecido precocemente. O mote para isso é uma confraternização de fim de ano do grupo onde há uma discussão que é apresentada em 12 versões realistas e uma utópica.
        É impossível não se identificar e não se emocionar com histórias e/ou objetos apresentados nas 100 memórias mostradas durante a apresentação. No programa há um inventário delas.
        É inegável a empatia criada entre atores e público e isso se deve às espontâneas interpretações de Ana Cristina Colla, Jesser de Souza (emocionante ao falar a poesia de Álvaro de Campos), Raquel Scotti Hirson (muito parecida com o Harpo Marx) e Renato Ferracini.  
        A ficha da montagem é extensa e rica tanto na criação como na parte técnica. A direção, realizada com muita sensibilidade, é do argentino Emilio García Wehbi.
        Fato que a memória pode trair: o espetáculo me remeteu a outro do Lume com o mesmo quarteto a que assisti há cerca de 20 anos: o delicioso Café Com Queijo.
 
 

        KINTSUGI, 100 MEMÓRIAS encerra temporada no SESC Avenida Paulista no próximo fim de semana (23/06). Sessões de quinta a sábado às 21h; domingos e feriados às 18h. Sessão extra no dia 19 (quarta) às 21h. IMPERDÍVEL

        16/06/2019

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