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domingo, 1 de setembro de 2019

CORDEL DO AMOR SEM FIM



        Há muita delicadeza e muita singeleza neste texto de Claudia Barral. Delicadeza e singeleza tão raras nos dias conturbados que vivemos que é um verdadeiro alento parar o tempo por uma hora para testemunhar que para a protagonista Tereza o tempo só passa para ela esperar pelo resto de sua vida um Antonio que virá, que virá, que virá...
         O texto de Barral é pleno de poesia e beleza e Daniel Alvim soube conservar essas qualidades na ótima montagem ora em cartaz no SESC Santo Amaro.
        Em 2007 o grupo Sinhá Zózima dirigido por Anderson Maurício já havia montado esse texto que era representado dentro de um ônibus e agora Alvim faz uma nova leitura do mesmo.
        A trama é muito simples: três irmãs têm uma vida simples no sertão nordestino à beira do Rio São Francisco, a caçula Tereza está prometida para o matuto José, mas ao apaixonar-se por Antonio que ela conheceu ao acaso no cais, ela jamais pensará em outro homem, malgrado as interferências das duas irmãs e a espera eterna pelo homem que viu uma única vez. A história tem desdobramentos trágicos beirando o melodrama, o qual tanto a autora como o diretor sabem dosar.
        A direção de Daniel Alvim é de uma delicadeza ímpar valendo-se das belas canções criadas por Dadi Barral para criar o clima necessário ao espetáculo. São importantíssimos os silêncios que pontuam toda a encenação e que muitas vezes transmitem muito mais que as palavras. Apesar de estarmos no sertão nordestino um suave vento tchekhoviano sopra durante toda a peça. O tablado criado pelo cenógrafo André Cortez onde se desenvolve toda a ação é bonito e bastante flexível; ele está aparentemente apoiado em bacias cheias de água que poderiam representar o Rio São Francisco.
        Um elenco primoroso dá vida às personagens criadas por Claudia Barral: as três irmãs são interpretadas com muito carinho por Helena Ranaldi, Patrícia Gasppar e Débora Gomez, todas elas, de alguma maneira, esperando que um dia as coisas tomem um novo rumo (olha aí, Tchekhov!). Rogério Romera com seu belo porte é o narrador da história e intérprete das canções dedilhando o seu violão. Luciano Gatti representa com muita garra o matuto José, poço de frustrações que ele transforma em ódio desencadeando o trágico final da história. Trágico não para Tereza que vai continuar a esperar o seu Antonio.
        O texto Rio adentro e suas histórias de Daniel Alvim constante do programa é um bônus poético que complementa o espetáculo e não pode deixar de ser lido.

        CORDEL DO AMOR SEM FIM está em cartaz só até o próximo fim de semana (08/09). Quinta e sexta (21h), Sábado (20h) e Domingo (18h30). IMPERDÍVEL!

        01/09/2019

 

 

       

Um comentário:

  1. Ótima resenha, Cetra. Concordo com tudo. No dia que eu assisti, metade dos assentos estavam vazios. Uma pena, pois a peça é excelente.

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