Uma
caixinha de música que ao ser aberta reproduz a suave emoção de um adágio de
Mahler, um pacotinho com um presentão dentro, uma caixa de bombons
finíssimos...
Foram
essas minhas sensações ao assistir à nova encenação de Eduardo Tolentino de
Araújo em cartaz na aconchegante Sala Atelier
localizada no segundo andar do Aliança
Francesa da Rua General Jardim. Com a garantia de excelência do Grupo TAPA, este trabalho minimalista de
Tolentino volta-se mais uma vez para as relações humanas, tratando aqui da
vivência de um casal de meia idade junto há mais de 25 anos.
Duas
poltronas, um tapete, um lustre, algumas rosas e livros que o casal está lendo
quando o público adentra a sala são os únicos adereços utilizados, além de uma
discreta iluminação. Isso é mais que suficiente para que os não menos que
excelentes Clara Carvalho e Brian Penido Ross desfilem para o espectador as maneiras
de amar e desamar d’Ela e d’Ele, descritas com maestria por Edward Albee
(1926-2016) através de pequenas e até minúsculas cenas (algumas duram alguns
segundos) separadas por black outs. Há
um interessante momento previsto no original em que os atores interrompem a
ação para se apresentarem.
Counting the Ways no original (algo como
Contando as Maneiras, ou como o lindo
título em português que o tradutor Augusto Cesar escolheu inspirado na canção
de Chico Buarque) é uma peça escrita em 1976, bem depois daquelas mais
populares no Brasil [Zoo Story
(1959), Quem tem Medo de Virginia Woolf (1962) e Um Equilíbrio Delicado (1966)] e
antecedeu outras também montadas por aqui [Três
Mulheres Altas (1990), A Peça Sobre o
Bebê (1996) e A Cabra ou Quem É
Sylvia? (2000)]. Com sua narrativa fragmentada a peça pode ser considerada uma
precursora do assim chamado teatro pós-dramático.
Do
trio Eduardo Tolentino, Clara Carvalho e Brian Penido Ross (A NATA DO TAPA) só se podia esperar um espetáculo
desse quilate que privilegia o reduzido público de 50 pessoas que acompanha os amores
e desamores como se estivesse na sala de visitas do casal.
DE
TODAS AS MANEIRAS QUE HÁ DE AMAR está em cartaz às sextas às 21h e sábados e
domingos às 19h30 só até 16/02. IMPERDÍVEL.
27/01/2020
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