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sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

FLORESTA


 


        Como encarar o inimigo? Para escrever sobre o assunto o dramaturgo Alexandre Dal Farra iniciou suas pesquisas entrevistando pessoas (trechos dessas entrevistas são apresentados em vídeo durante a apresentação), talvez buscando criar algo do gênero “teatro documentário”, mas parece ter desistido da empreitada e partiu para o “teatro do absurdo”, mesclado com alguns ingredientes do gênero anterior em alguns monólogos documentais. O resultado é um híbrido irregular.
        Pai, mãe e filha de antemão inseguros e descompensados que vivem em algum lugar inóspito, são surpreendidos com a visita de dois estranhos e reagem de formas diversas: a filha é a única a questionar a situação, o pai reage de forma incrédula e patética e a mãe é a rainha da passividade, achando tudo normal.  
        Quem são aqueles invasores? O que eles pretendem? Pergunta-se o espectador. Dal Farra põe a resposta em uma fala da mãe: “Não dá para entender tudo!”.
        O espetáculo mistura situações claramente inspiradas no teatro do absurdo que fazem o público rir, com momentos sérios e mesmo tensos em geral criados pela virulência de um dos invasores. Talvez a cena mais inspirada da peça esteja no monólogo da mãe onde ela declara que o medo provocado ao ouvir algo é muito mais terrível do que aquele que surge ao olhar alguma coisa amedrontadora.   Curiosamente a única sobrevivente após a chegada dos estranhos/inimigos é a passiva mãe. Qual reflexão que Dal Farra pretende provocar no espectador com esse desfecho?
        A encenação do próprio dramaturgo conta com excelente trilha sonora de Miguel Caldas que reforça certo suspense sugerido pela ação; cenário do autor e de Clayton Mariano; assim como figurinos da dupla (diga-se que neste quesito os figurinistas privilegiam o olhar do espectador com os trajes sumários das atrizes que fazem a mãe e a filha).
        O elenco afiado é o ponto forte do espetáculo: Clayton Mariano representa o patético pai, sempre surpreso com todas as situações que se apresentam. A filha, única personagem realista da trama, ganha a interpretação de Sofia Botelho. Nilceia Vicente é presença iluminada como a visitante de violência moderada. André Capuano joga toda sua exuberância física no invasor violento. A presença cênica de Gilda Nomacce é poderosa: atriz de excelentes dotes artísticos e físicos, ela hipnotiza o espectador em todas suas intervenções.

        FLORESTA está em cartaz no SESC Ipiranga com seis apresentações por semana (que maravilha!): terças e quartas (19h30), quintas, sextas e sábados (21h) e domingos (18h). Temporada curtíssima até 09/02/2020.

        17/01/2020

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