As
primeiras leituras dramáticas a que assisti consistiam realmente de uma leitura
pura e simples com os atores sentados com o texto na mão, sendo que um deles se
encarregava das rubricas. Os atores davam uma entonação aqui e ali e era só.
Com
o tempo esse evento foi se sofisticando, em grande parte pelas iniciativas
surgidas no projeto 7 Leituras, 7
Autores, 7 Diretores, bravamente
idealizado e conduzido pela incansável Eugênia Thereza de Andrade no SESC
Consolação.
Introduziu-se
trilha sonora, cenário e os atores passaram a se movimentar em cena com o texto
na mão, mas com parte dele decorado. Essas leituras têm ensaios, coisa que não
ocorria nos primeiros tempos.
As
leituras dramáticas atuais sofisticaram-se tanto que algumas delas já são
praticamente encenações.
Nesta
semana tive a oportunidade de assistir a duas delas.
O ÚLTIMO CONCERTO PARA VIVALDI é o novo
e o melhor texto de Dan Rosseto. Contando uma história triste que envolve muito
amor, mas também preconceito, crenças religiosas, doença e morte, o autor
consegue driblar o tom melodramático e expõe com clareza a relação de dois
homens apaixonados que enfrentam a doença e a morte eminente de um deles e a
enfermeira muçulmana que os auxilia. A peça segue os movimentos de As Quatro Estações de Vivaldi começando
na primavera (onde as coisas florescem) e terminando no inverno (onde as coisas
morrem, para renascerem quando o ciclo reiniciar).
Apesar
da simplicidade no cenário (e a encenação não vai exigir muito mais), a leitura
valeu-se da leitura/interpretação apaixonada e comovente do elenco: Amazyles de
Almeida defendeu com muita delicadeza a personagem da enfermeira Adilah, Bruno
Perillo e Michel Waisman interpretaram com muita emoção o casal Anton e Ben,
sendo que Waisman não pode conter as lágrimas em sua última cena.
Mais
que uma leitura, eu diria que a montagem está quase pronta. A leitura aconteceu
no Instituto Capobianco no dia 11/02/2020.
SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO. Essa
apresentação aconteceu no Itaú Cultural no dia 12/02/2020 dentro do projeto Ciclo de Leituras de e a Partir de
Shakespeare, idealizado por Alexandre Brasil. O encenador André Guerreiro
Lopes colocou os atores sentados no palco, tendo atrás um telão onde se exibiu
a obra-prima de Max Reinhardt realizada em 1935 com elenco estelar. O filme foi
exibido sem as vozes e sem a legenda e as personagens foram
dubladas/interpretadas por nosso elenco, não menos estelar. Mickey Rooney, aos
15 anos de idade, brilha no filme como Puck e o mesmo acontece com o nosso
Robson Calalunha que refaz ao vivo a interpretação de Rooney. Participação
especial do músico Gregory Slivar criando sonoridades especiais sobre o
original de Mendelssohn.
Será
bastante difícil que esta concepção transforme-se em uma encenação, mas da
inventiva e bela maneira como foi realizada, está muito além de uma leitura
dramática.
13/02/2020
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