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domingo, 1 de março de 2020

DOC.MALCRIADAS


 

        Lee Taylor, na época ainda Thalor e com apenas 23 anos, despontou como grande ator em 2006, pelas mãos do Mestre Antunes Filho que vendo o seu potencial lhe deu o papel principal de A Pedra do Reino. A partir daí foram mais quatro espetáculos todos dirigidos pelo Mestre que culminou em 2010 com Policarpo Quaresma onde ele interpretava o personagem título e criava uma cena que se tornou antológica sapateando ao som do Hino Nacional. A foto abaixo mostra momento do ensaio dessa cena onde o Mestre observa o pupilo.
 
 

        Ao sair do CPT (Centro de Pesquisa Teatral) continuou sua carreira vitoriosa como ator (televisão, cinema, teatro), como diretor, como educador e como criador do NAC (Núcleo de Artes Cênicas) do qual DOC.malcriadas é a última criação.
 
 
        Durante o bate papo após o espetáculo Lee comentou que algumas referências para essa encenação vieram de Pina Bausch e de Tadeusz Kantor, mas não há a menor dúvida que a maior referência é aquela do seu grande Mestre Antunes Filho (que também teve muitas influências, além de seus próprios méritos), presente principalmente nas cenas de conjunto onde as atrizes circulam pelo palco apenas com a presença opressora da estátua clássica. Além de todos os outros méritos o espetáculo é visualmente muito bonito colaborando para isso a iluminação de Fran Barros e a direção de arte assinada a quatro mãos por Lee e por outro talentoso remanescente do CPT, Eric Lenate.
        O espetáculo aborda o mundo das empregadas domésticas a partir de relatos colhidos pelo elenco de nove atrizes e mostra vários ângulos de vidas semi vividas sob o jugo de patroas e patrões que se sentem os donos de suas serviçais. É curioso notar em muitos casos o conformismo gerado pela necessidade do emprego e por certa herança cultural (a maioria teve antepassados escravos).
        Empregados espertos tratados comicamente como heróis que passam a perna nos patrões são personagens comuns na história do teatro haja vista o Arlequim de Goldoni e na cena brasileira a Olímpia de Trair e Coçar É Só Começar de Marcos Caruso. Outro enfoque é o deboche escancarado de Eduardo Dusek na canção Doméstica. O tom aqui é outro e se aproxima bastante do bem sucedido Domésticas (1998) de Renata Melo também criado a partir de entrevistas com empregadas domésticas (esta peça virou filme em 2001, dirigido por Fernando Meirelles e Nando Olival): o cômico tem sabor amargo e forte conteúdo social.
        A cena final da revolta das criadas com as roupas jogadas no público é muito bem bolada e me fez lembrar o final de Marat Sade na encenação de Ademar Guerra (1967), a partir do original de Peter Brook. Como se pode notar a apropriação quando realizada de maneira criativa adquire feição nova, original e muito bem vinda.

        DOC.MALCRIADAS está em cartaz no Teatro João Caetano apenas até este domingo (01/03) às 19h, mas cumpre nova temporada no Centro Cultural Olido de 27/03 a 19/04 às sextas e sábados (20h) e aos domingos (19h). NÃO DEIXE DE VER!
 
        01/03/2020

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