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quarta-feira, 1 de abril de 2020

SOPRO – MITsp 2020



        Esta peça do encenador português Tiago Rodrigues foi a única do eixo “Mostra de Espetáculos” da MITsp 2020 que foi cancelada em razão da pandemia do corona vírus. Havia uma grande expectativa em relação a ela porque além da sinopse que prometia muito, o outro espetáculo do diretor (By Heart) foi muito bem sucedido, daí a grande decepção com seu cancelamento.
        Por intermédio da minha querida amiga Rosario fiquei sabendo que a peça estava disponível na Vimeo e hoje tive a chance de assisti-la. Apesar das limitações do “teatro filmado” visto no note book foi um prazer enorme tomar conhecimento da mesma.

        Para realizar o seu criativo espetáculo de meta teatro, Tiago baseou-se na memória de Cristina Vidal que por cerca de 30 anos trabalhou como ponto (aquele componente que sopra as falas para os atores, principalmente quando estes se esquecem das mesmas) no Teatro Nacional D. Maria II em Lisboa; função importante para as montagens no início do século XX que desapareceu no Brasil ao final da década de 1940, mas parece que em Portugal durou mais tempo.
        Duas atrizes dão vozes aos pensamentos de Cristina, outra interpreta a diretora com quem ela trabalhou e dois atores se revezam nos outros papeis, sendo um deles o alter ego de Tiago Rodrigues. Durante toda a apresentação a própria Cristina simula soprar o texto para o elenco.
        Nas lembranças de Cristina vão surgindo cenas de Antígona, de As Três Irmãs e de outras peças nas quais ela trabalhou como ponto ao longo desses trinta anos e as cenas dessas peças se entrelaçam com fatos da companhia vivenciados por ela. A estrutura parece complexa ao explicar, mas extremamente simples e prazerosa quando em cena.
         O elenco é ótimo e espontâneo com dicção em um português lusitano claro e entendível. Desse elenco original (Beatriz Brás, Cristina Vidal, Isabel Abreu, João Pedro Vaz, Sofia Dias e Vitor Ruiz) se apresentariam no Brasil apenas Cristina Vidal e Isabel Abreu, sendo os outros quatro substituídos por Beatriz Maia, Marco Mendonça, Romeu Costa e Sara Barros Leitão.
        O cenário clean formado por poucos adereços e cortinas brancas que esvoaçam ao sabor da natureza é banhado por sugestivo desenho de luz, ambos (cenário e luz) assinados por Thomas Walgrave. Imagina-se que ao vivo esses efeitos sejam ainda mais belos. A trilha sonora é também digna de nota.
        O diretor brinca ao comentar que a peça poderia terminar em dois momentos, mas reserva uma emocionante surpresa com o terceiro e definitivo final, que não vou revelar para não ser desmancha prazer para quem vai assistir.
        Em vários momentos a peça me remeteu a alguns trabalhos dirigidos por Enrique Diaz, especialmente, Ensaio. Hamlet (Cia. dos Atores - 2004) e Gaivota – Tema Para Um Conto Curto (2007).

        Essa montagem teria sido um dos grandes momentos da MITsp 2020 e esperemos que Tó Araujo e Guilherme Marques a reprogramem para uma próxima MITsp. Na classificação que fiz sobre os dez (agora onze) a que assisti, ela estaria logo abaixo da primeira colocada que foi Casa Mãe, mas esta pode ser considerada hors concours.

        Só como curiosidade e brincadeira: Considerando a semelhança física com os atores do vídeo, numa eventual montagem brasileira eu escalaria  Alejandra Sampaio no lugar da atriz de cabelos longos que interpreta o ponto,  Claudia Missura no lugar da atriz de cabelos curtos que também interpreta o ponto e  André Garolli no lugar do ator que interpreta o alter ego de Tiago Rodrigues. Na direção poderiam estar o Enrique Diaz ou o Kiko Marques.

         LOGO VAMOS NOS VER EM ALGUM TEATRO.
AH, SE VAMOS!

VIVA O TEATRO!

        01/04/2020

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