Esta
peça do encenador português Tiago Rodrigues foi a única do eixo “Mostra de
Espetáculos” da MITsp 2020 que foi cancelada em razão da pandemia do corona vírus.
Havia uma grande expectativa em relação a ela porque além da sinopse que prometia
muito, o outro espetáculo do diretor (By
Heart) foi muito bem sucedido, daí a grande decepção com seu cancelamento.
Por
intermédio da minha querida amiga Rosario fiquei sabendo que a peça estava
disponível na Vimeo e hoje tive a chance
de assisti-la. Apesar das limitações do “teatro filmado” visto no note book foi um prazer enorme tomar
conhecimento da mesma.
Para
realizar o seu criativo espetáculo de meta teatro, Tiago baseou-se na memória de
Cristina Vidal que por cerca de 30 anos trabalhou como ponto (aquele componente
que sopra as falas para os atores, principalmente quando estes se esquecem das
mesmas) no Teatro Nacional D. Maria II em Lisboa; função importante para as
montagens no início do século XX que desapareceu no Brasil ao final da década de
1940, mas parece que em Portugal durou mais tempo.
Duas
atrizes dão vozes aos pensamentos de Cristina, outra interpreta a diretora com
quem ela trabalhou e dois atores se revezam nos outros papeis, sendo um deles o
alter ego de Tiago Rodrigues. Durante toda a apresentação a própria Cristina simula
soprar o texto para o elenco.
Nas
lembranças de Cristina vão surgindo cenas de Antígona, de As Três Irmãs
e de outras peças nas quais ela trabalhou como ponto ao longo desses trinta
anos e as cenas dessas peças se entrelaçam com fatos da companhia vivenciados
por ela. A estrutura parece complexa ao explicar, mas extremamente simples e
prazerosa quando em cena.
O elenco é ótimo e espontâneo com dicção em um
português lusitano claro e entendível. Desse elenco original (Beatriz Brás, Cristina
Vidal, Isabel Abreu, João Pedro Vaz, Sofia Dias e Vitor Ruiz) se apresentariam
no Brasil apenas Cristina Vidal e Isabel Abreu, sendo os outros quatro substituídos
por Beatriz Maia, Marco Mendonça, Romeu Costa e Sara Barros Leitão.
O
cenário clean formado por poucos adereços
e cortinas brancas que esvoaçam ao sabor da natureza é banhado por sugestivo
desenho de luz, ambos (cenário e luz) assinados por Thomas Walgrave. Imagina-se
que ao vivo esses efeitos sejam ainda mais belos. A trilha sonora é também
digna de nota.
O
diretor brinca ao comentar que a peça poderia terminar em dois momentos, mas reserva
uma emocionante surpresa com o terceiro e definitivo final, que não vou revelar
para não ser desmancha prazer para quem vai assistir.
Em
vários momentos a peça me remeteu a alguns trabalhos dirigidos por Enrique Diaz,
especialmente, Ensaio. Hamlet (Cia.
dos Atores - 2004) e Gaivota – Tema Para
Um Conto Curto (2007).
Essa
montagem teria sido um dos grandes momentos da MITsp 2020 e esperemos que Tó
Araujo e Guilherme Marques a reprogramem para uma próxima MITsp. Na
classificação que fiz sobre os dez (agora onze) a que assisti, ela estaria logo
abaixo da primeira colocada que foi Casa
Mãe, mas esta pode ser considerada hors
concours.
Só
como curiosidade e brincadeira: Considerando a semelhança física com os atores
do vídeo, numa eventual montagem brasileira eu escalaria Alejandra Sampaio no lugar da atriz de cabelos
longos que interpreta o ponto, Claudia
Missura no lugar da atriz de cabelos curtos que também interpreta o ponto e André Garolli no lugar do ator que interpreta
o alter ego de Tiago Rodrigues. Na direção poderiam estar o Enrique Diaz ou o Kiko
Marques.
LOGO
VAMOS NOS VER EM ALGUM TEATRO.
AH, SE VAMOS!
VIVA O TEATRO!
01/04/2020
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