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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

UMA MULHER SÓ

 


Não são muitas as atrizes brasileiras que transitam com facilidade entre o drama e a comédia. Parece que é mais fácil fazer comédia do que drama, mas intérpretes são unânimes em afirmar o contrário. No meu entender a maior representante dessa categoria sempre será Marília Pêra com suas interpretações antológicas de Fala Baixo Senão Eu Grito (1969), Apareceu a Margarida (1974) e Brincando Em Cima Daquilo (1985). Ao seu lado podemos lembrar de Andrea Beltrão, Beth Goulart, Débora Bloch, Fernandinha Torres e agora, com este Uma Mulher Só, de Martha Meola, que por coincidência interpreta uma das personagens criadas por Marília em 1985 na peça de Dario Fo e Franca Rame.

Foto de Ronaldo Gutierrez

Essa mulher da peça do casal italiano me remeteu ao título de uma obra de Leonid Andreiev: O Que Leva Bofetadas. Ela leva bofetadas de todos os homens que passam por sua vida: o marido que a agride fisicamente e a prende em casa, o cunhado tetraplégico que abusa sexualmente dela, o homem que a agride por telefone, o jovem amante que quer se suicidar por ela, mas também a violenta e até o bebê que chora o tempo todo não lhe dando paz. Aceitando sua triste condição feminina, a princípio ela se limita a desabafar com uma vizinha que mudou para o prédio em frente (recurso parecido com aquele usado por Antônio Bivar em 1968 em Alzira Power que era interpretado por Yolanda Cardoso, outra grande atriz que sabia como graduar o dramático com o cômico), mas ao final ela encontra uma forma mais radical de acabar com tudo. É impressionante a interatividade/intimidade de Martha Meola com os web espectadores que se tornam a vizinha que testemunha as agruras daquela mulher só.

A violência doméstica é um fato no Brasil e ela só aumentou com o isolamento social e o pior é que a maioria das mulheres aceita passivamente essa situação por medo ou alienação, No início deste ano a peça Uma Lei Chamada Mulher tratou desse assunto e é muito bom que Uma Mulher Só volte a tratar do assunto, agora com um bem vindo toque de humor corrosivo que faz pensar.

Marco Antônio Pâmio dirige a atriz com sua elegância costumeira saindo-se muito bem em sua primeira experiência audiovisual e contando com a ótima direção de movimento de Marco Aurélio Nunes (fundamental para o bom desenvolvimento da ação) e a excelente trilha de Gregory Slivar que comenta e reforça a ação.


SERVIÇO: UMA MULHER SÓ - Estreia em 11 de setembro, sexta, às 20 horasTemporada - Até 27 de setembro, sextas e sábados, às 20 horas, domingo, às 17 horas.  Direção - Marco Antônio Pâmio. Interpretação - Martha Meola. Autores - Dario Fo e Franca Rame. Direção de movimento - Marco Aurélio Nunes. Iluminação - Nicolas Caratori. Trilha Original - Gregory Slivar. Direção de arte - Raphael Gama. Operação de som - Alexandre Martins. Fotos - Ronaldo Gutierrez. Produção executiva - Marcela Horta. Direção de produção - Selene Marinho e Sergio Mastropasqua. Duração - 40 minutos (+15 minutos de debate após o espetáculo). Ingressos - De R$ 10,00 a R$ 250,00 (vendas pelo Sympla). 

11/09/2020

 

Um comentário:

  1. Acabei de assistir e gostei muito da forma como a peça foi transmitida por vídeo. Valeu a dica Zé.

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