Não são muitas as
atrizes brasileiras que transitam com facilidade entre o drama e a comédia.
Parece que é mais fácil fazer comédia do que drama, mas intérpretes são
unânimes em afirmar o contrário. No meu entender a maior representante dessa
categoria sempre será Marília Pêra com suas interpretações antológicas de Fala
Baixo Senão Eu Grito (1969), Apareceu a Margarida (1974) e Brincando
Em Cima Daquilo (1985). Ao seu lado podemos lembrar de Andrea Beltrão,
Beth Goulart, Débora Bloch, Fernandinha Torres e agora, com este Uma Mulher
Só, de Martha Meola, que por coincidência interpreta uma das personagens
criadas por Marília em 1985 na peça de Dario Fo e Franca Rame.
Essa mulher da peça
do casal italiano me remeteu ao título de uma obra de Leonid Andreiev: O Que
Leva Bofetadas. Ela leva bofetadas de todos os homens que passam por sua
vida: o marido que a agride fisicamente e a prende em casa, o cunhado
tetraplégico que abusa sexualmente dela, o homem que a agride por telefone, o
jovem amante que quer se suicidar por ela, mas também a violenta e até o bebê
que chora o tempo todo não lhe dando paz. Aceitando sua triste condição
feminina, a princípio ela se limita a desabafar com uma vizinha que mudou para
o prédio em frente (recurso parecido com aquele usado por Antônio Bivar em 1968
em Alzira Power que era interpretado por Yolanda Cardoso, outra grande
atriz que sabia como graduar o dramático com o cômico), mas ao final ela
encontra uma forma mais radical de acabar com tudo. É impressionante a
interatividade/intimidade de Martha Meola com os web espectadores que se tornam
a vizinha que testemunha as agruras daquela mulher só.
A violência doméstica
é um fato no Brasil e ela só aumentou com o isolamento social e o pior é que a
maioria das mulheres aceita passivamente essa situação por medo ou alienação,
No início deste ano a peça Uma Lei Chamada Mulher tratou desse assunto e
é muito bom que Uma Mulher Só volte a tratar do assunto, agora com um
bem vindo toque de humor corrosivo que faz pensar.
Marco Antônio Pâmio dirige a atriz com sua elegância costumeira saindo-se muito bem em sua primeira experiência audiovisual e contando com a ótima direção de movimento de Marco Aurélio Nunes (fundamental para o bom desenvolvimento da ação) e a excelente trilha de Gregory Slivar que comenta e reforça a ação.
SERVIÇO: UMA MULHER SÓ - Estreia em 11 de
setembro, sexta, às 20 horas. Temporada - Até 27
de setembro, sextas e sábados, às 20 horas, domingo, às 17
horas. Direção - Marco Antônio Pâmio. Interpretação -
Martha Meola. Autores - Dario Fo e Franca Rame. Direção
de movimento - Marco Aurélio Nunes. Iluminação -
Nicolas Caratori. Trilha Original - Gregory Slivar. Direção
de arte - Raphael Gama. Operação de som - Alexandre
Martins. Fotos - Ronaldo Gutierrez. Produção executiva -
Marcela Horta. Direção de produção - Selene Marinho e Sergio
Mastropasqua. Duração - 40 minutos (+15 minutos de debate após
o espetáculo). Ingressos - De R$ 10,00 a R$ 250,00 (vendas pelo Sympla).
11/09/2020
Acabei de assistir e gostei muito da forma como a peça foi transmitida por vídeo. Valeu a dica Zé.
ResponderExcluir