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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

VIDAS À MARGEM

 

Mais uma vez o Grupo TAPA dá o chute inicial na temporada teatral paulistana. Em 2019 foi O Jardim das Cerejeiras; em 2020, Brincando Com Fogo e neste início de 2021, Vidas à Margem, agora no formato virtual.

        Vidas à Margem é um espetáculo com dramaturgia do grupo a partir de duas peças curtas de dois dramaturgos norte-americanos: Eugene O’Neill (1888-1953) e Tennessee Williams (1911-1983).

 Segundo o   release, o nome dado ao espetáculo é uma “brincadeira paródica” com À Margem da Vida, “tradução absurda” feita no Brasil por Esther Mesquita em 1948 para The Glass Menagerie :O Zoológico de Vidro, na tradução literal usada tanto por Marcos Daud como por Clara Carvalho que, em momentos distintos, traduziram o texto.

 Para o bem e para o mal, liberdade para traduzir títulos é prática comum, haja vista o caso do cinema (em exemplo do próprio Williams, seu bonde se tornou rua e o desejo virou pecado!). Neste caso, no meu modo de ver, o título dado por Esther Mesquita não é nada absurdo e isso até se reforça com o título do presente espetáculo: afinal de contas tanto os Wingfield como os dois casais de Vidas à Margem são pobres figuras disfuncionais, marginalizadas da sociedade e com vidas pouco felizes e sem perspectivas. Além disso, À Margem da Vida é bem mais poético e bonito do que O Zoológico de Vidro, além de ter apelo mais cativante para o público. 

        Mas voltemos a Vidas à Margem! São duas cenas independentes unidas pelo mesmo universo de perdedores do qual fazem parte as personagens.

        A primeira é inspirada em Antes do Café de Eugene O’Neill (informação que me foi dada gentilmente por André Garolli, amigo e expert em O”Neill). Um escritor/narrador (Flávio Tolezani) escreve e conta a história de uma mulher maltratada pela vida que trabalha muito para sustentar a si e ao marido Alfred, um bêbado eternamente desempregado e que além de tudo lhe é infiel. Natalia Gonsales tem seu grande momento nesta cena. O plano principal adotado pelo

diretor Eduardo Tolentino de Araújo coloca a mulher de frente para a câmera com o escritor em segundo plano falando as rubricas ao mesmo tempo que reage às atitudes dela com expressões faciais. Belo e significativo momento do teatro virtual utilizando técnicas cinematográficas.

        A segunda cena é inspirada na conhecida peça curta de Tennessee Williams Fala Comigo Como a Chuva e Me Deixa Ouvir e coloca em ação um casal também maltratado por uma vida da qual a mulher vislumbra uma eventual saída que, no entanto, nunca ocorrerá. Interpretação intensa e vigorosa do casal Natalia Gonsales/Flávio Tolezani que revela maturidade interpretativa muito bem-vinda.

        A direção de Eduardo Tolentino segue o padrão de excelência TAPA.

        Louve-se o considerável progresso técnico desses trabalhos virtuais realizados pelo Grupo Tapa. A maioria dos espetáculos de 2020, apesar da inegável qualidade artística, apresentava sérios problemas de som e imagem, algo que, a julgar por Vidas à Margem, está sanado.

        18/01/2021

       

                         

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