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quarta-feira, 14 de abril de 2021

QUANDO AS MÁQUINAS PARAM

Volta e meia este clássico de Plínio Marcos retorna aos nossos palcos e isso sucede porque Plínio continuará clássico enquanto este país tiver tantas mazelas sociais e diferenças de classe. Quantas Ninas e quantos Zés existiam em 1967 quando a peça foi escrita e quantos deles não estão espalhados ainda hoje por este triste Brasil de 2021?

Kiko Rieser, o diretor desta montagem, realiza uma encenação que, no meu modo de ver, remete à estética do cinema neo realista italiano dos anos 1950 e isso é reforçado pela fotografia em belíssimo preto e branco e pela interpretação naturalista do ótimo casal de intérpretes. A movimentação da câmera permite sugestivos ângulos e closes de cada uma das personagens.

Muito já se escreveu sobre o texto de Plínio Marcos que conta a história desse casal de classe média baixa, morando provavelmente na periferia de São Paulo. Ele, desempregado, revoltado e pessimista em relação ao futuro e ela, dona de casa que costura para fora e sempre otimista e crente em Deus. O toque de humor, estrategicamente introduzido pelo dramaturgo, é o fanatismo dele pelo Corinthians e a paixão dela pelas rádios novelas, chegando às lágrimas quando o Eduardo da novela resolve partir para a Legião Estrangeira. Os poucos altos e muitos baixos da vida desse casal mudam de direção quando Nina engravida.

Kiko Rieser realiza uma direção limpa, sem nenhum floreio, enfatizando a interpretação do casal e sua movimentação no cenário também bastante realista de Kleber Montanheiro e Thaís Boneville (um apartamento simples com adereços totalmente de acordo com os hábitos, gostos e possibilidades das personagens). A movimentação da câmera e os closes, ora de Nina, ora de Zé, são também ponto alto da encenação, mostrando que é possível o teatro dialogar com a câmera nestes tempos de áudio visuais.

A maioria dos filmes neo realistas italianos eram interpretados por atores não profissionais, com a intenção de dar maior veracidade às histórias contadas e escrevo, da maneira mais elogiosa possível, que esses excelentes profissionais Larissa Ferrara e André Kirmayr dão toda a veracidade à Nina e ao Zé, sem nenhum artifício que às vezes o profissionalismo traz. Suas interpretações emocionam, mas também fazem o espectador refletir sobre a dura realidade brasileira.

Quando as Máquinas Param é um belo trabalho e bastante necessário para os dias atuais. NÃO DEIXE DE VER. 

Em cartaz até 20/04 às segundas e terças às 20h. Gratuito.

Link de transmissão:

https://www.youtube.com/CentroCulturalSãoPauloCCSP 

14/04/2021

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