No ano de 1962 eu
estava no 2º científico e era um jovenzinho de 18 anos “relativamente” alienado,
pensando nas namoradinhas e no filme que ia passar na matinê de domingo do Cine
Nacional.
Foi então que
começamos a ter aulas de português com uma jovem professora pouco mais velha
que nós que atendia por Dona Terezinha (mais tarde ela se tornou conhecida como
Telê Ancona Lopes). Dona Terezinha foi um oásis naquele deserto de alienação e
muito nos incentivou a ler e a fazer teatro.
Dirigidos por um
colega de classe, Guilherme de Paula e Silva, montamos Quem Casa, Quer Casa
de Martins Pena no qual eu interpretava o gago Sabino que só conseguia se
expressar se falasse cantando. Estreamos no teatro do então Colégio Caetano
de Campos e em seguida conseguimos uma apresentação no Teatro de Arena
e um mundo novo se apresentou para mim.
Ali fui contaminado
pela paixão pelo teatro. Fomos várias tardes ensaiar no aconchegante espaço da
Rua Teodoro Bayma e por ali circulavam José Renato, Gianfrancesco Guarnieri, o
mímico Ricardo Bandeira e Paulo José que batia papo conosco e nos dava algumas
dicas. Ele era um jovem (tinha 25 anos) de tez clara, muito bonito e atencioso,
com uma voz suave que cativou a todos nós. Na tarde em que fizemos nossa
apresentação ele estava presente para nos incentivar e nos aplaudir.
Um ano antes, ele
havia chegado do Rio Grande do Sul, estado que, além dele, presenteou nessa
época os palcos paulistanos com Fernando Peixoto, Lilian Lemmertz e Paulo César
Pereio, entre outros.
Paulo José participou de vários espetáculos do
Teatro de Arena entre os anos 1961 e 1964, sendo inesquecível o seu
Calímaco em A Mandrágora (1963), dirigida por Augusto Boal e
tendo no elenco, além dele, nada mais nada menos que Isabel Ribeiro, Myrian
Muniz, Ary Toledo, Nilda Maria, Gianfrancesco Guarnieri, Fauzi Arap e Juca de
Oliveira!!
Com o recrudescimento
da censura no início da ditadura militar, Paulo José dedica-se mais ao cinema, muda-se para o Rio de Janeiro
onde interpreta e dirige espetáculos, além de atuar na televisão.
Mas eu quero voltar
para aquele jovem gaúcho de 25 anos que foi tão gentil com nosso grupo mais
jovem e inexperiente e que, de alguma maneira, despertou o meu amor pelo
teatro.
Esteja aonde estiver, tenho certeza que os spots continuarão a brilhar para você Paulo José. Descanse em paz.
12/08/2021
Bela lembrança, Cetra. A vida não tem sentido, mas acontecimentos como esse dão algum sentido a ela.
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