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sexta-feira, 20 de agosto de 2021

UM PICASSO

 

As tramas tradicionais sempre apresentam um conflito inicial que aumenta à medida que a curva dramática se desenvolve, atinge um ápice, até o mesmo ser resolvido próximo ao final. Isso não é diferente em Um Picasso, texto do dramaturgo norte americano Jeffrey Hatcher (1957-), escrito em 2005, no qual uma agente nazista interroga Pablo Picasso sobre a autenticidade de obras do pintor confiscadas pelo regime alemão as quais farão parte de uma exposição de “arte degenerada” e depois serão destruídas.

Narrativa semelhante tem a peça Diplomacia do francês Cyril Gély, que teve uma bem sucedida versão virtual no início deste ano dirigida por Ricardo Grasson. Nas duas peças os nazistas são os vilões, em uma querem arrasar Paris e na outra pretendem destruir obras de arte; os argumentos de seus antagonistas (um diplomata sueco em Diplomacia e Picasso em Um Picasso) fazem as tramas mudarem de rumo.

Um Picasso ganha ótima montagem do Grupo TAPA numa bem vinda volta do grupo ao palco do Teatro Aliança Francesa. Dirigida com sobriedade por Eduardo Tolentino de Araújo, a peça permite mais uma vez que se comprove os talentos de Clara Carvalho e Sergio Mastropasqua.

Há uma estudada frieza na montagem de Tolentino, fato que se reflete nas interpretações do elenco. Estranha-se, por exemplo, o comedimento do personagem Picasso, homem que na vida real era conhecido por seu temperamento expansivo e até explosivo. A personagem interpretada por Clara Carvalho tem algumas nuances que não cabe detalhar aqui, sob pena de estragar a fruição daqueles que vão assistir ao espetáculo.

O cenário simples que inclui um armário, cabides, cadeiras e uma escrivaninha permanece propositalmente pouco iluminado durante toda a peça e há um jogo de luzes frias fluorescentes ao fundo do palco que, para este espectador, poderia representar a frieza dos nazistas focados na peça, no entanto esta ideia cai por terra quando na cena final, ao som de uma caliente música espanhola, as luzes voltam a se acender. O que elas representam?

Dentro da proposta do encenador, Clara e Mastropasqua têm momentos excelentes em cena, mesmo se submetendo a um gestual que às vezes soa artificial. Atriz e ator, excepcionais que são, brindam o espectador com seus talentos.

Um Picasso é espetáculo obrigatório pelo seu tema e pelo talento de todos os envolvidos, mas em meu modo de ver, não lhe faria mal um pouco mais de paixão.

Um fato relevante é que somos brindados com o programa impresso da peça na chegada ao teatro e isso faz toda a diferença para quem tem nos programas material de reflexão e de pesquisa.

Outro fato relevante foi o encontro, depois de um longo período, com pessoas queridas na entrada e na saída do teatro: Adriana Balsanelli, Renato Fernandes, Maurício Mellone, Carlos Rahal, Edgar Olímpio de Souza, Bruno Perillo, Mônica Rossetto, André Garolli, Lívia Carmona. Nestes tempos difíceis é muito importante celebrar este fato, afinal o teatro é a arte do encontro!

Uma pena que, em função dos protocolos de segurança, Clara, Mastropasqua e Tolentino não puderam aparecer no saguão do teatro após o espetáculo. Sintam-se abraçados e muito aplaudidos!! 

20/08/2021 

Serviço:

Um Picasso

Teatro Aliança Francesa

Rua General Jardim 182 – Vila Buarque. (11) 3572-2379

Estreia dia 19 de agosto, quinta-feira, às 20h.

Ingressoshttps://grupotapa.com.br (VENDAS SOMENTE ONLINE)

Preços: R$40/R$20, quinta e sexta; R$60/R$30 sábado e domingo. 

Temporada: De quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 17h. Até 26 de setembro.

 Duração: 80 minutos. Classificação: 14 anos. Capacidade: 52 lugares + 4 PNE. Ar-condicionado. Estacionamento conveniado na Rua Rego Freitas 285.

 

Um comentário:

  1. Cetra,
    uma atração extra o reencontro dos amigos do Teatro!
    Bela a sua visão de Um Picasso, como sempre. bjs
    Maurício

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