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segunda-feira, 20 de setembro de 2021

HAMLET 16x8

 

Foto de Pio Figueroa

O maior elogio que posso fazer ao ótimo Hamlet 16x8 defendido brilhantemente por Rogério Bandeira é que fiquei com muita vontade de reler Hamlet e o Filho do Padeiro – Memórias Imaginadas, autobiografia de Augusto Boal. Já tirei o livro da estante para voltar a lê-lo.

Hamlet 16x8 baseia-se não só nas memórias de Boal, mas também naquelas do ator que tem em seu currículo passagens importantes pelo CPT de Antunes Filho e pela Cia. do Latão, além de uma vida pessoal marcada pela ditadura, uma vez que seu pai Iberê Bandeira de Mello atuou na defesa de presos políticos nesse tenebroso período e foi muitas vezes detido para prestar esclarecimentos sobre suas atividades.

        Na posse de todas essas memórias Bandeira e o diretor Marco Antônio Rodrigues criaram a consistente dramaturgia do espetáculo.

Bandeira entra em cena claudicante e inseguro (isso faz parte da encenação) dirigindo-se à plateia com elogios ao livro de Boal. Após fazer comparações entre a sua vida e à do Boal, o ator finalmente salta no vazio com seu guarda-chuva e com muita segurança inicia de verdade o seu relato.

Eu me lembro do belo e atlético jovem Rogério Bandeira circulando pelos corretores do sétimo andar do SESC Consolação onde funciona o icônico Centro de Pesquisas Teatrais (CPT) que era coordenado por Antunes Filho. Era o ano de 1997, eu frequentava o curso de designer sonoro e ele fazia o CPTzinho. Há excelente momento na peça onde Bandeira relembra a bronca que Antunes lhe deu após a apresentação de uma cena sua com a Djin Sganzerla. A recriação da figura de Antunes desde o seu “OK” interrompendo a cena até o final da bronca é perfeita.

E momentos excelentes é que não faltam em Hamlet 16x8, como aqueles no nordeste  em que Boal encontra o Padre Batalha e o diálogo com o camponês Virgílio ao final de um espetáculo, onde Boal confessa ter compreendido ali a “falsidade mensageira do teatro político” que o fez entender ”que não temos o direito de incitar seja quem for a fazer aquilo que não estamos preparados pra fazer”.

E de momento em momento cumprem-se quase duas horas desse emocionante e, em certo sentido, didático trabalho dirigido com muita sensibilidade por Marco Antônio Rodrigues e interpretado por Rogério Bandeira.

Hamlet 16x8 encerrou a temporada (virtual e presencial) em 19/09/2021 com apenas dez apresentações. Urge que volte ao cartaz, pois trata-se de importante ferramenta para reverenciar a importante figura de Augusto Boal e estimular a memória do nosso teatro, além de contar com a excelente interpretação de Rogério Bandeira. 

20/09/2021

 

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