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sábado, 9 de outubro de 2021

PEQUOD

 


Dizem que Mário Bortolotto ignora matérias e críticas que são escritas a respeito de suas peças. Dizem também que ele odeia elogios.

Mesmo assim vou escrever uma matéria elogiosa a respeito de PequodSó os Bons Morrem Jovens a que assisti ontem virtualmente.

A peça é a última de uma trilogia cujos personagens são os irmãos Nando (alter ego do autor) e Maurício. Fica Frio (1989) e Tempo de Trégua (2000) são as duas anteriores, as quais eu não assisti. Jovens nas duas primeiras, em Pequod eles já estão beirando a “melhor Idade”, ou a velhice para ser politicamente incorreto.

O barco onde Nando vive de favor tem o mesmo nome (Pequod) do baleeiro de caça à temida Moby Dick do romance de Herman Melville, que por sua vez é também o nome de uma extinta tribo de índios dos Estados Unidos. O dono, um senhor paraplégico, cede-lhe o espaço em troca de Nando levar-lhe para um passeio de vez em quando. Nando tem a vida solitária que deseja, apenas compartilhada com o velho Castioni, um homem tresloucado que fala o que bem entende em altos brados e Lili, uma jovem bonita e descolada que adora uma aspirada na branquinha.

Esse universo meio marginal é repentinamente invadido por Maurício, o irmão “bom moço”, educado e dentro das normas, que vem anunciar o falecimento do pai. Acontece o inevitável acerto de contas entre eles, só interrompido pelas visitas de Castioni e Lili.

Bortolotto mostra um universo triste e desesperançado, mas o seu último olhar ainda tem um lampejo de esperança.

A peça é ambientada no interior do barco, mas termina na proa com os irmãos se solidarizando e sugerindo um olhar para a frente e uma luz no fim do túnel. Esse cenário é de Mariko Ogawa e Seiji Ogawae e é lindamente iluminado por Caetano Vilela.

A excelente trilha sonora à base de jazz e rock assinada pelo diretor é a marca registrada de seus espetáculos.

Bortolotto parece interpretar a si mesmo e revela muita humanidade em seu trabalho, Nelson Peres é ótimo contraponto a ele como o irmão Maurício. Fernando Castioni entra em cena e toma conta do espaço com seu histrionismo. A bela Rebecca Leão dá o tom feminino e empoderado naquele ambiente machista.

Pequod respira humanidade e tem cheiro de gente que sofre, ama, chora, ri e respira um ar viciado, mas ainda assim AR, tão necessário para nossa sobrevivência. Só isso é um imenso motivo para não se perder este importante trabalho de Mário Bortolotto. 

09/10/2021 

SERVIÇO

 

Pequod - Só os bons morrem jovens

Teatro Sérgio Cardoso Digital

Temporada: De 08 a 24 de outubro, sexta, sábado e domingo às 19h

Ingressos: Gratuitos, retirada prévia na plataforma Sympla Streaming

Duração: 60 min

Gênero: Drama

Classificação etária: 14 anos

Acessibilidade: Legendagem descritiva

Bate-papo com o diretor Mário Bortolotto: 10/10 logo após a exibição da última sessão

 

 

Um comentário:

  1. depois de ler sua resenha não há como deixar de ver. Já reservei meu ingresso pra domingo, 10/10. Gratidão! ❤🎭

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