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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

PRÊMIO APCA DE TEATRO 2021

 


Tendo em vista algumas confusões surgidas em notícias divulgadas, cabe esclarecer que os críticos de teatro da APCA se reúnem três vezes ao ano; nas duas primeiras para fazer as indicações de cada semestre e na terceira para eleger os vencedores do ano. Somos em onze integrantes, mas nem sempre todos podem participar das reuniões.

Os premiados serão conhecidos no final de janeiro de 2022 e a premiação deverá ocorrer posteriormente.

Cabe esclarecer também que, a critério dos críticos participantes, a categoria que foi chamada de PRÊMIO AVANÇO DIGITAL no primeiro semestre, teve seu nome alterado para PRÊMIO NOVAS PROPOSTAS CÊNICAS.

Haverá também um prêmio especial cujo vencedor só será conhecido por ocasião da divulgação dos premiados. 

Segue abaixo, em ordem alfabética por categoria, todos os indicados ao prêmio de 2021: 

·         ESPETÁCULO PRESENCIAL: 

- COCK – Direção de Nelson Baskerville

- HAMLET 16X8 – Direção de Marco Antônio Rodrigues

- SUEÑO – Texto e direção de Newton Moreno 


·         ESPETÁCULO VIRTUAL:

- AS AVES DA NOITE – Direção de Hugo Coelho

- DESFAZENDA – ME ENTERREM FORA DESSE LUGAR – Grupo O Bonde

- DORA – Texto, direção e interpretação de Sara Antunes

- LEONARDO DA VINCI – A OBRA OCULTA – Direção de Marcio Medina

- MONSTRO – Cia. Artera de Teatro

- ONDE VIVEM OS BÁRBAROS – Coletivo Labirinto

- SEDE – Cia. Triptal

- TERRA MEDEIA – Direção de Bim de Verdier


·         PRÊMIO NOVAS PROPOSTAS CÊNICAS:

- ESTILHAÇOS DA JANELA FERVEM NO CÉU DA MINHA BOCA – Coletivo A Digna

- O HÍBRIDO – Concepção de Robson Catalunha

- THE ART OF FACING FEAR – Cia. Os Satyros 

Votaram os críticos: 

- Indicações do primeiro semestre: Celso Curi, Edgar Olímpio de Souza, Evaristo Martins de Azevedo, Gabriela Mellão, José Cetra Filho, Kyra Piscitelli, Maria Eugênia de Menezes, Márcio Aquiles, Miguel Arcanjo Prado e Vinício Angelici.

- Indicações do segundo semestre: Celso Curi, Edgar Olímpio de Souza, Evaristo Martins de Azevedo, José Cetra Filho, Kyra Piscitelli e Vinício Angelici.

23/12/2021

       

 

 


domingo, 19 de dezembro de 2021

MEDEIA

 

O que faz autores tão distintos como Consuelo de Castro, Sara Stridsberg e Mike Bartlett revisitarem o mito de Medeia?

O que faz diretores como Gabriel Fernandes/Bete Coelho, Bim de Verdier, Lavínia Pannunzio e Zé Henrique de Paula encenarem no mesmo ano obras tendo Medeia como protagonista?

O que faz atrizes como Bete Coelho, Nicole Cordery, Helena Ignez e Fani Feldman se entregarem visceralmente na interpretação do mito que foi imortalizado por Eurípedes há 2500 anos atrás?

Grafada como Medeia ou Medea, essa personagem tão potente compareceu em nossos palcos, ou melhor, nos nossos vídeos, por quatro vezes neste ano de 2021. Furiosa e vingativa em função das traições sofridas, Medeia talvez sirva como um grito de alerta contra as barbaridades sofridas pelos brasileiros vergonhosamente traídos por esse governo insano que está no poder.

Algumas dessas montagens já foram alvo de matérias que escrevi ao longo do ano e aqui me concentro na última a que assisti:

MEDEA de Mike Bartlett

 

O dramaturgo inglês Mike Bartlett (1980) está bastante em voga em nossos palcos. De sua autoria já assistimos duas versões de Contrações (uma delas se intitulou Um Contrato); Bull; Love. Love, Love; o recente Cock e para 2022 Marco Antônio Pâmio prepara a encenação de Terremotos.

Bartlett escreveu a sua versão da tragédia de Eurípedes, ora apresentada pela Cia. do Sopro, em 2012. A montagem dirigida por Zé Henrique de Paula cumpriu temporada presencial relâmpago no SESC Pompeia e realiza apresentações virtuais de 16 a 19 de dezembro no canal do YouTube da companhia.

Essa versão é ambientada no subúrbio de uma grande cidade e, além de Medea, dá destaque para duas mulheres (a vizinha Sarah e a colega de trabalho Pam) que fazem as vezes do coro original. Além de Jasão e Creonte (aqui rebatizado de Nick Carter) surge o vizinho Andrew para quem Medea se insinua com a pretensão de obter alguns favores. Em alguns momentos a câmera faz as vezes do filho Tom.

A versão de Bartlett enfatiza as dificuldades que uma mulher inteligente e livre pode ter numa sociedade machista. A trama é ágil e a versão de Diego Teza, em tom coloquial, flui muito bem.

O cenário de Bruno Anselmo mostra o esqueleto da casa de Medea e assim podemos visualizar as ações que se passam tanto defronte a casa como em seu interior. Algumas cenas acontecem também nos fundos da casa, recurso fácil na versão visual, mas desconheço como ocorreu quando da apresentação presencial. Por sinal, cabe destacar a excelente direção audiovisual de Murilo Alvesso.

Iluminação discreta e eficiente de Fran Barros e a excelência de sempre na trilha original de Fernanda Maia.

Zé Henrique de Paula harmoniza todos esses elementos com a movimentação do elenco, muito bem preparado por Inês Aranha.

Como protagonista Fani Feldman realiza um bom trabalho compondo uma Medea furiosa ou mansa nas horas certas; a atriz se despe de qualquer glamour ao mostrar as grosserias do que é capaz a personagem, chegando a escarrar em cena.

Daniel Infantini tem excelente presença cênica como Jasão. Plínio Meirelles interpreta o incrédulo vizinho Andrew assediado por Medea e Bruno Feldman é um vigoroso Nick Carter que vem dar ordens de despejo a Medeia.

Juliana Sanches (Pam) e Maristela Chelala (Sarah) encarregam-se da preciosa cena inicial de dez minutos onde comentam sobre suas preocupações com o que está acontecendo com Medea e Juliana tem uma poderosa cena final onde narra o que aconteceu na festa de casamento onde morreram Kate, a noiva de Jasão, e seu pai Nick Carter.

Última sessão virtual neste domingo às 21h.

Montagem merecedora de temporada presencial em 2022. 

19/12/2021

 

 

sábado, 18 de dezembro de 2021

BAILEGANGAIRE

 

 

Eu não tenho boa lembrança de Balangangueri, encenação da Cia. Ludens dirigida por Domingos Nunez, a qual assisti em 2011 no SESC Belenzinho. Não publiquei matéria a respeito, mas escrevi em minhas anotações que havia ficado irritado com as cenas histéricas que se passavam numa taverna onde dois homens faziam uma competição de risadas e o que se salvava na montagem era o trabalho das três atrizes Denise Wainberg, Fernanda Viacava e Tatiana Thomé.

Eis que dez anos depois, Nunez retorna com esse texto em uma versão de bolso (seria a original?), agora com o título de Bailegangaire e com a ação concentrada apenas nas três mulheres, onde a velha Mommo narra tudo o que aconteceu naquele dia da competição de risadas. Todas as cenas na taverna foram eliminadas, assim como as personagens que ali transitavam. Com isso a peça ganhou em ritmo e, quem diria, em ação!

Amazyles de Almeida e Natalia Gonsales são grandes atrizes e impressionam como as netas Mary e Dolly, que são obrigadas a ouvir ad infinitum as recordações da avó senil. Walderez de Barros é uma atriz superlativa e sua Mommo é digna de todos os louvores.

Tudo o que me incomodou em Balangangueri não está presente em Bailegangaire que é um momento brilhante dessas três excelentes atrizes.

Brincadeira a parte, a mudança de título fez bem a essa peça!!

 

18/12/2021

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

SOBRE TODAS AS COISAS

 

Meu primeiro contato com a obra do dramaturgo Kleber Di Lázzare foi através da leitura da Trilogia do Desejo e da Punição (Editora Giostri) formada pelas peças Coisas de Meninos, E Isto É Tudo ou Do Que Podemos Lembrar e Você Precisa Saber de Mim. Percebi naqueles escritos muita originalidade e uma potência cênica muito alta. No final do livro há um álbum com fotos das encenações dessas peças, as quais não tive oportunidade de assistir.

Eis que agora surge a versão virtual de Sobre Todas as Coisas escrita em 2011, antes, portanto, da Trilogia.

A peça, muito bem estruturada, é dividida em prólogo, cinco cenas e epílogo e trata de Mateus, um escritor à beira de um ataque de nervos devido à constante rejeição de uma obra sua pelo editor e também à relação conflituosa com a ex-esposa Beatriz.

Essas cenas mostram Mateus em três situações: em relação pirandelliana com aqueles que virão a ser suas personagens; em relação com as personagens do livro que são uma prostituta e seu “dono” e em relação com a ex-esposa. A intercalação dessas relações nas cenas é feita de maneira perfeita e harmoniosa.

O elenco é formado por atriz e atores sediados em diversas partes do mundo: Carlos Sanmartin (Cidade do Mexico), Luciana Ramanzini (São Paulo) e Mateus Monteiro (Londres) e por conta da pandemia a gravação foi realizada com cada um deles em seus locais de moradia. O diretor/autor sabiamente evitou o uso do que eu batizei de “teatro de janelinha” muito usado pelas peças virtuais realizadas pelo zoom. Aqui cada participante movimenta-se em cenário de tela cheia e os diálogos e a continuidade dão-se de forma perfeita.

Em dois momentos o teatro-filme, conforme definido por Di Lázzare, me remeteu ao memorável filme Moulin Rouge (2001) de Baz Luhrmann: no sub-título “... e as principais delas: o amor e a liberdade” (no filme era: verdade, beleza, liberdade e amor”) e na cena em que Mateus termina o seu romance de maneira frenética e clama: FIM. Coincidência ou uma homenagem ao filme de Luhrmann? Nada que desabone o magnífico trabalho de Di Lázzare.

Carlos Sanmartin defende bravamente o personagem de Mateus, praticamente não saindo da cena a qual divide com Mateus Monteiro, grande ator há tempos sediado na Inglaterra e que faz falta em nossos palcos, e com a mais que talentosa Luciana Ramanzini, que transita tão bem entre a comédia (quem vai esquecer de sua antológica intervenção na peça sobre Carmen Miranda, onde ela procura traduzir a letra de uma música cantada pela cantora? ) e o drama e aqui interpreta com muita intensidade tanto a prostituta como a ex-mulher Beatriz.

Outra bem-vinda referência da peça é o fato de o casal amar a música Alfonsina y el Mar, divinamente cantada por Mercedes Sosa (1935-2009) e que trata da poetisa Alfonsina Storni (1892-1938) que se suicidou por afogamento no Mar Del Plata. A audição da música pelo casal se dá em raro momento de trégua da peça.

Assim, desde que nossa triste realidade cultural permita, Kleber Di Lázzare vai pondo à mostra sua surpreendente obra já realizada e o que está para ser realizado, afinal conforme as palavras de Mateus ao final da peça: “A melhor obra de arte é a que ainda está por vir”.

Sobre Todas as Coisas é teatro da melhor qualidade e merece ser prestigiado por todos aqueles que acreditam na evolução da chamada arte do efêmero. 

15/12/2021 

Temporada virtual via Sympla de 14 a 21 de dezembro às 20h

Ingressos: sympla.com.br

 

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

2021 – 4X4 – TRÁGICAS

 

2500 anos nos separam da época em que as tragédias gregas foram escritas,        mas Ésquilo (524 a.C.–455 a.C.), Sófocles (496 a.C.–405 a.C.) e Eurípedes (480 a.C.–406 a.C.) podiam ser nossos contemporâneos porque os acontecimentos por eles narrados continuam, infelizmente, mais atuais do que nunca.

Por essa razão é que me torno profundamente indignado ao assistir essas poderosas quatro cenas concebidas por Lavínia Pannunzio e admiravelmente interpretadas por Karen Rodrigues, Cleide Queiroz, Miriam Mehler e Helena Ignez e a indignação aumenta ainda mais ao ler a dedicatória que aparece no início de cada cena e que tomo a liberdade de reproduzir:

“A todos aqueles que cessaram de respirar entre os anos 2020 e 2021, que, sem luto ou sepultura, se tornaram banquete fácil dos abutres e cães, durante a pandemia de Covid 19, disseminada propositalmente por Jair Messias Bolsonaro e seu governo genocida”

Antígona, Hécuba e Medeia são personagens emblemáticas da dramaturgia grega e trazem consigo muitas das barbaridades das quais o ser humano é algoz e vítima ainda hoje.

Lavínia concentra sua direção na interpretação das atrizes, cujas imagens são captadas em close, transmitindo o seu texto basicamente com a voz e as poderosas expressões faciais; para tanto é fundamental a belíssima direção de fotografia de Gabriela Miranda e Matheus Brant, a incrível trilha sonora de LP Daniel e, é claro, atrizes talentosíssimas capazes de dar conta de personagens tão complexas.

Lavínia selecionou cenas de três tragédias que são interpretadas por Karen Rodrigues e Cleide Queiroz (Antígona), Miriam Mehler, emocionante ao transmitir a dor de Hécuba e Helena Ignez revelando toda a fúria indignada de Medeia. Quatro momentos brilhantes de quatro grandes atrizes.

Infelizmente este trabalho fica disponível apenas até às 21h de hoje (14/12) (vide acesso na foto). CORRA!!! 

14/12/2021

 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

O ANO DE MARIANA MUNIZ - ATRIZ E DANÇARINA - NO MUNDO VIRTUAL


Em junho deste ano, após assistir a Sete Histórias, dirigida por Clara Carvalho eu escrevi: “Que Mariana Muniz é uma grande atriz não há ninguém que o negue e sua performance em ‘Sete Histórias’ só comprova o seu talento com aquele vozeirão e aquela expressão corporal que o Universo lhe concedeu”. Antes disso, Mariana já havia brilhado com sua breve participação em A Encomenda ou A Memória do Mar e, principalmente, em seu arrebatador solo Sonia-Um Ato por Tolstói.

 A Encomenda

Sonia - Um Ato Por Tolstói

Sete Histórias

        Para fechar o ciclo, eis que neste final de ano, Mariana nos brinda com duas belíssimas performances de teatro-dança: uma delas em parceria com o igualmente magnífico Luis Arrieta (Caminantes), lindamente fotografada no Jardim Botânico de São Paulo e a outra gravada nos aposentos de sua casa onde ela dialoga com a vida secreta dos objetos/coisas ali presentes (A Vida Secreta das Coisas).

Caminantes

A Vida Secreta das Coisas

        Neste último trabalho, a atriz/dançarina faz uso minimalista de todos os recursos corporais que domina tão bem. São lindos e sugestivos os movimentos de seus braços e suas mãos, assim como, as expressões faciais que vão do dramático ao cômico em questão de segundos. Não sou especialista, nem tenho conhecimento do assunto “dança”, mas sei apreciar o que é belo; quanto à questão teatral as performances de Mariana Muniz beiram a perfeição, não só com os trabalhos virtuais deste ano, como em tantos outros como atriz desde Nijinsky (1987), passando por Lago 21 (1988), O Fingidor (1999), O Fantástico Reparador de Feridas (2009), A Máquina Tchekhov (2015), A Cantora Careca (2018) e O Jardim das Cerejeiras (2019).

        Um currículo invejável para uma grande atriz que ainda não teve seu valor totalmente reconhecido.

        Na frase que abre esta matéria eu escrevo que o Universo concedeu, mas muito trabalho e dedicação contribuíram para Mariana Muniz chegar onde chegou.

 

        13/12/2021

 

 

SERVIÇO

 

Para assistir CAMINANTES (até 19/12) e A VIDA SECRETA DAS COISAS (até 22/12), acesse:  www.youtube.com/movicenaproducoes

 

 

 

 

       

 

 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

WEST SIDE STORY ONTEM (1961) e HOJE (2021)

 

 

West Side Story (1961) é um dos filmes da minha vida. Perdi o número de vezes a que o assisti no cinema e em casa, desde aquela primeira vez quando eu tinha 17 anos e ouvia embevecido as músicas no LP emprestado pelo amigo Marcel Bouquet. 

Capa do LP

É daqueles preferidos para me emocionar até as lágrimas na véspera de Natal. Assisti também montagens teatrais em Londres (não a original de 1957!) e em São Paulo, mas para mim o filme de Robert Wise tem um toque de magia especial.

Eis que sessenta anos depois Steven Spielberg recria esse estupendo musical e foi com certa desconfiança que fui assisti-lo no dia de sua estreia (09/12) em São Paulo na primeira sessão das 14h do Reserva Cultural.

Procurei abstrair todo o referencial do primeiro, mas não houve como não fazer comparações.

Um grande achado da versão de Spielberg foi criar a personagem de Valentina (viúva de Doc) vivida intensamente por Rita Moreno, a inesquecível Anita de 1961; não me surpreenderia se ela voltasse a receber um Oscar por sua emocionante atuação agora em novo papel (em 1961 ela ganhou como melhor atriz coadjuvante). Seria justo e lindo.

Outros pontos a favor da atual versão é a ambientação em uma Nova York em demolição para dar lugar ao Lincoln Center e a ênfase no preconceito racial e à diferença de classe (Maria trabalha no setor de limpeza da loja de modas)

Rachel Zegler é bonitinha, tem o physique du rôle para o papel, mas Natalie Wood vai permanecer para mim como a mais emocionante Maria que vi tanto no teatro como no cinema. Ansel Elgort (Tony) é só um pouquinho menos sem graça que Richard Beymer. David Alvarez (Bernardo), Ariana De Bose (Anita não ficam nada a dever a seus antecessores George Chakiris e Rita Moreno, enquanto Mike Faist (Riff) não tem a agilidade coreográfica e o carisma de Russ Tamblyn.

Algumas locações mudaram: a sensacional cena America no topo do prédio passou para a rua e Cool passou de uma garagem para ruínas de prédios em demolição. Questão de gosto, mas eu prefiro os originais, assim como a pungente cena final que perde em emoção na versão atual, apesar da presença linda de Valentina no cortejo fúnebre.

Curiosamente as legendas das versões das letras das músicas tomam certas liberdades poéticas que às vezes até mudam o sentido da cena. (Sondheim não ia gostar). Para o título do filme isso já é verdade há 60 anos: Amor, Sublime Amor!!!

Curiosidades: A Filarmõnica de Nova York é regida por Gustavo Dudamel (mais um toque latino do filme) / Quem canta Somewhere é Valentina / A coreografia é assinada por Justin Peck, citando que a original é de Jerome Robbins/ Roteiro de Tony Kushner, dramaturgo autor de Angels in America//Rita Moreno aparece como uma das produtoras executivas do filme.

A versão de Spielberg não decepciona, mas aquela de Robert Wise/Jerome Robbins é INSUPERÁVEL!

 

09/12/2021

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O QUE MEU CORPO NU TE CONTA?

 

Não é simples escrever sobre a experiência como espectador deste belo e complexo espetáculo concebido por Marcelo Varzea com o Coletivo Impermanente.

Após as duas versões virtuais de (In)Confessáveis cada elemento do grupo repete confissões verdadeiras ou fictícias desta vez presencialmente e desnudos de corpo e, principalmente, de alma.

São 15 atores em cena, dispostos de tal maneira que irão apresentar seu relato para três ou seis espectadores. Cada cena será repetida 12 vezes nas 12 rodadas em que acontece o espetáculo assim como as interferências que ocorrem durante os relatos; essas interferências serão ouvidas pelo espectador também doze vezes e servirão quase como um fio de Ariadne a juntar os cacos de cada narrativa apresentada. Parece complicado, mas durante a apresentação tudo se torna bastante claro e muito envolvente e emocionante.

O espetáculo acontece em um clima dramático, pois não há relatos leves ou engraçados. Todos eles tratam de situações ou traumas emocionais provenientes de homofobia, assédio sexual, gordofobia, racismo, transfobia, problemas de saúde, entre outros. Em ato bastante corajoso o ator está há menos de dois metros do espectador e mostra toda sua intimidade corporal desfazendo eventuais mitos ou preconceitos de quem o assiste.

Das quinze cenas só é possível assistir a 12 em cada apresentação. O elenco, formado na maioria por gente bastante jovem, é homogêneo, muito talentoso e se entrega de maneira vertiginosa na proposta de Varzea. Fica difícil destacar esta ou aquela cena, mas algumas delas têm um impacto maior para cada espectador. A mim tocaram bastante as cenas da mulher trans (Daniela D’Eon), do rapaz com vitiligo (André Torquato), da bela jovem que foi taxada de gorda (Thiene Garrido), da mulher dona de seu “compartimento” (Ana Bahia) e dos muitos jovens assediados sexualmente (cenas de Vini Hideki, Renan Rezende e Daniel Tonsig). Destaque também para a única cena mais leve, aquela de Agmar Berigo.

Os intensos e emocionados aplausos finais são testemunha do bom resultado desta corajosa iniciativa de Marcelo Varzea que foi abraçada com muita paixão pelos integrantes do Coletivo Impermanente ao qual desejamos longa vida.

Com apenas duas apresentações, o espetáculo se despede hoje (07/12) às 20h da Oficina Cultural Oswald de Andrade. 

07/12/2021

PAISAGENS ANTES DO FIM

 

É gratificante quando o espectador vai se envolvendo aos poucos em um evento teatral e ao final tem a visão completa do que os criadores queriam transmitir. Por mais óbvio que pareça ser, o fato é que nem sempre isso acontece.

Ao que me parece, esta criação da Cia. La Leche nasceu modesta e programada para poucas apresentações virtuais e tem muitos méritos para merecer vida e divulgação mais longas.

São três cenas curtas de aproximadamente 15 minutos cada sobre um mundo que está prestes a acabar: em um a terra queima, em outro o ar falta e no terceiro o mar seca. Temas atualíssimos que já foram tratados muitas vezes, mas aqui surgem de maneira bastante original graças à criativa dramaturgia imaginada por Alessandro Hernandez. São espantalhos, pinguins e seres humanos com idades que superam os milhões de anos engolidos por uma baleia que refletem sobre esse fim que está prestes a chegar, em paisagens estranhas do Grajaú, da Brasilândia e de Guaianases.

A criativa direção de Cris Lozano tem como fortes aliadas a captação e edição de imagens de Guta Pacheco e a direção de fotografia de Thais Taverna. Chris Aizner contribui com os belos figurinos e os cenários são de Julio Dojcsar. Trilha sonora discreta e original de Morris.

Ana Paula Lopez e Alessandro Hernandez demonstram talento e versatilidade ao interpretar personagens tão díspares como pinguins, espantalhos e velhos milenares. Gestuais e tons de voz são os únicos recursos que ambos utilizam para diferenciar as personagens de cada cena.

AINDA HÁ TEMPO, IRMÃOS! – era a inscrição em uma faixa na paisagem desolada de fim de mundo na última cena do filme A Hora Final (1959) de Stanley Kramer e eu conclamo os admiradores de boas histórias que refletem o tempo presente: AINDA HÁ TEMPO de assistir a Paisagens Antes do Fim: transmissões pelo YouTube da Companhia a qualquer hora até o próximo dia 12 de dezembro: www.youtube.com/CiaLaLeche

As cenas podem ser vistas isoladamente, mas, no meu modo de ver, é interessante assisti-las em conjunto.

 

07/12/2021

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

A DOENÇA DO OUTRO

 

Em certo momento da peça/palestra/performance A Doença do Outro é projetada uma cena emblemática do filme Philadelphia (1993) planejada para que o publico se emocione e chore...” uma dessas cenas que o cinema criou para que os soluços cortassem o silêncio da sala escura”, segundo o autor/ator Ronaldo Serruya.

Em outra cena, enquanto o ator fala, são projetadas atrás dele cenas de filmes que tratam do HIV. Entre elas, a antológica e pungente cena do filme sobre Cazuza em que ele descobre que foi “tocado” pelo vírus da AIDS. Filmes, peças de teatro e romances sobre o assunto sempre resvalam para o dramático e para o trágico e é na contramão dessa tendência que Serruya elabora o seu belo trabalho.

Segundo o dito popular quanto mais a doença floresce, mais o corpo padece, mas não se pode esquecer que é essa entidade física chamada CORPO que todos nós temos que vai lutar por mais vida. Óbvio, mas nem sempre reconhecido!

Momento especialíssimo na carreira de Serruya, o corpo como forma de resistência é a proposta desse espetáculo que é a mais pura celebração da vida e literalmente termina em festa onde corpos suados e emocionados se congraçam e se abraçam.

Estou vendo no Facebook que hoje, dia 06 de dezembro, é o aniversário de Ronaldo Serruya, mas foi ele que presenteou os privilegiados espectadores que assistiram a uma dessas seis apresentações de sua admirável performance. Temporada relâmpago que deve ser complementada no ano que vem por apresentações virtuais e, talvez, também presenciais.

Dignas de nota a direção enxuta de Fabiano Dadado de Freitas e a videoarte de Evee Avila e Maurício Bispo. 

06/12/2021

               

domingo, 5 de dezembro de 2021

VILA ITORORÓ

 

Admiramos as ruinas gregas e romanas, mas achamos que a Vila Itororó está caindo aos pedaços!! Na devida proporção, as ruinas do casario da Vila são tão significativas como a Acrópole, o Parthenon, o Coliseu e o Fórum romano.

Não sou especialista em patrimônio histórico, mas acho que a restauração da Vila Itororó deve ser feita com muita parcimônia. Quanto, por exemplo, do majestoso palacete deveria ser restaurado? Creio que as restaurações devem ser feitas no limite, apenas para que haja a possibilidade de se visitar seus interiores com segurança e para que não haja maior desgaste do edifício.

No final da tarde de ontem me dirigi à Vila Itororó para assistir ao espetáculo As Mulheres dos Cabelos Prateados..

A Vila está belissimamente iluminada (Ligia Chaim) e cada recanto é um verdadeiro esplendor. À medida que anoitece a iluminação vai adquirindo maior força. Uma parte do casario está completamente reformada e abriga escritórios e um pequeno museu com paredes e pisos originais e um histórico da Vila.


Um belíssimo painel restaurado tem à sua frente uma piscina vazia.

Por meio de um grande pátio chega-se a um aconchegante espaço onde se realizam shows de música. Na noite em que lá estive Jurema Peçanha fez belo show de samba acompanhada de ótimo trio. Crianças e adultos sambaram gostoso durante todo o evento. Uma barraca no pátio vendia uma cervejinha para acompanhar o samba.

Vale muito a pena visitar a Vila Itororó para curtir a sua beleza e saber um pouco de como e porque ela surgiu em 1922. O acesso é pela Rua Maestro Cardim, 60 (o metrô mais próximo é o São Joaquim).

A foto de cabeceira desta matéria é de Arnaldo D'Ávila e as restantes são minhas. 

05/12/2021

 

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

COCK


E assim, aos poucos, vamos voltando para os espaços teatrais da cidade. Ontem foi o dia da Oficina Cultural Oswald Andrade e foi com grande prazer que tomamos nosso café no aconchegante Café Colombiano e constatamos que as dependências da Oficina estão bem conservadas e parte delas (as salas de espetáculos) foram reformuladas e pintadas de novo.

A sala onde se apresenta o espetáculo Cock está muito bonita e reformulada em quatro plateias em função da encenação. O espaço cênico é um quadrado com cerca de cinco metros de lado onde acontece a “briga de galos” proposta pelo criativo dramaturgo inglês Mike Bartlett (1980). O cenário bastante clean de Chris Aizner tem uma belíssima iluminação de Wagner Freire em vermelho nas estruturas que contornam o espaço em contraste com uma imensa luminária central de luz fria que escancara as reações das personagens.

Sem usar nenhum penduricalho adicional Nelson Baskerville concentra sua encenação no embate das quatro personagens.

John, em toda sua indecisão, é o protagonista da peça e as outras personagens não são nominadas; são elas o outro homem (o caso de John), a mulher (garota que entra na vida de John) e o pai do outro homem.

A peça é apresentada em pequenas cenas (rounds) separadas por blackouts onde se mostram os diálogos/conflitos entre John e o namorado e entre John e a namorada. Essas cenas são seguidas de uma mais longa onde os três mais o pai do outro homem se encontram e onde há o desfecho deste excelente texto de Bartlett.

A trilha sonora de Dan Maia acompanha todos os blackouts, assim como fecha o espetáculo com a bonita canção You Know em parceria com Ligiana Costa.

O pai tem uma importante participação para o desfecho da trama e Hugo Coelho o interpreta com seu habitual talento.

Andrea Dupré prova, com delicadeza e sensualidade, que sua personagem não é nada masculina, mas demonstra muita energia ao se ver agredida e diminuída pelos “machos” da trama.

Marco Antônio Pâmio, que ultimamente tem se dedicado mais à sua importante carreira de diretor, tem um bem-vindo retorno como ator ao representar o namorado de John que se vê preterido em prol de uma mulher!! Suas entradas e saídas de cena com passinhos curtos e fazendo caras e bocas são impagáveis, tanto quanto suas reações de indignação e fúria frente às ações de John.

Com muita categoria Daniel Tavares representa John, o eterno indeciso entre seu antigo namorado e o horizonte feminino que se descortina ao conhecer e também amar uma mulher. Esse conflito com sua sexualidade está explícito nas excelentes reações faciais do quase sempre passivo John, que mais ouve os argumentos do que os responde e quando o faz parecendo pender para um lado, logo a seguir se volta para o outro lado. Há muitas nuances nesse personagem e Daniel sabe tirar o maior proveito dessa dificuldade em explicitar algo tão sutil.

Os diálogos da peça fluem de maneira bastante ágil (mérito do autor, do diretor e do elenco) e a peça com certeza ganhará maior ritmo ao longo da temporada, principalmente na brilhante cena do confronto final.

Cock é mais uma boa surpresa neste final de temporada de 2021 e deve ser vista por quem aprecia bom teatro com texto bem escrito, boa tradução cênica do diretor e elenco de primeira. QUER MAIS??!!

E pra não dizer que a peça não tem nenhum penduricalho, há uma significativa surpresa pouco antes das luzes se apagarem. 

03/12/2021 

SERVIÇO:
De 2 a 18 de dezembro – de segunda a sexta, às 20h; sábados, às 18h
Oficina Cultural Oswald de Andrade - Sala 03 - Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro, São Paulo, SP
Ingressos: Grátis, distribuídos 1h antes de cada sessão
Duração: 100 minutos
Classificação indicativa: 14 anos

 

 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

CARNE VIVA

 

Se você é daquelas ou daqueles que adoram uma maminha mal passada sangrando fique longe deste espetáculo.

O texto foi escrito por Luh Maza ainda adolescente e quando ainda atendia por Luciano. Realço isso porque é bastante importante saber que a virulência do texto contra o machismo e a sensibilidade da mulher que perpassam toda a ação da peça tenham brotado da imaginação de alguém que era visto como um rapaz. Isso só pode ter ocorrido porque, independentemente do corpo, a alma de Luh já era feminina.

Reginaldo Nascimento do Teatro Kaus Cia. Experimental ambientou a peça em uma cozinha onde os móveis brancos estão manchados de sangue. Amália Pereira em um trabalho intenso e corajoso interpreta aquela mulher oprimida cuja maior função é preparar a maminha para seu macho em um abate que se assemelha àquele sofrido pelo animal do qual vem a carne.

Nesse processo de violência, seja física ou moral, essa mulher tem um surto onde se vê como Jesus, o símbolo maior do cristianismo que, como não podia deixar de ser, é um homem.

Facas, carnes e muito sangue são uma constante neste espetáculo que não dá trégua ao espectador.

Pelas condições em que foi filmado a atriz tem pouca movimentação em cena, permanecendo acuada/encostada em uma parede praticamente durante toda a ação. Quando for apresentada em um teatro a peça vai se enriquecer com a movimentação da atriz e com sua interação com o público, bem mais emocionante do que atuar para uma câmera.

De qualquer maneira, enquanto o presencial não chega, vale a pena conhecer este forte trabalho em sua versão virtual. 

01/12/2021 

SERVIÇO:

Temporada de 03/12 a 19/12 de sexta a domingo às 20h

Acesso: YouTube das Oficinas Culturais do Estado de SP

Gratuito

Não recomendado para menores de 18 anos