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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O QUE MEU CORPO NU TE CONTA?

 

Não é simples escrever sobre a experiência como espectador deste belo e complexo espetáculo concebido por Marcelo Varzea com o Coletivo Impermanente.

Após as duas versões virtuais de (In)Confessáveis cada elemento do grupo repete confissões verdadeiras ou fictícias desta vez presencialmente e desnudos de corpo e, principalmente, de alma.

São 15 atores em cena, dispostos de tal maneira que irão apresentar seu relato para três ou seis espectadores. Cada cena será repetida 12 vezes nas 12 rodadas em que acontece o espetáculo assim como as interferências que ocorrem durante os relatos; essas interferências serão ouvidas pelo espectador também doze vezes e servirão quase como um fio de Ariadne a juntar os cacos de cada narrativa apresentada. Parece complicado, mas durante a apresentação tudo se torna bastante claro e muito envolvente e emocionante.

O espetáculo acontece em um clima dramático, pois não há relatos leves ou engraçados. Todos eles tratam de situações ou traumas emocionais provenientes de homofobia, assédio sexual, gordofobia, racismo, transfobia, problemas de saúde, entre outros. Em ato bastante corajoso o ator está há menos de dois metros do espectador e mostra toda sua intimidade corporal desfazendo eventuais mitos ou preconceitos de quem o assiste.

Das quinze cenas só é possível assistir a 12 em cada apresentação. O elenco, formado na maioria por gente bastante jovem, é homogêneo, muito talentoso e se entrega de maneira vertiginosa na proposta de Varzea. Fica difícil destacar esta ou aquela cena, mas algumas delas têm um impacto maior para cada espectador. A mim tocaram bastante as cenas da mulher trans (Daniela D’Eon), do rapaz com vitiligo (André Torquato), da bela jovem que foi taxada de gorda (Thiene Garrido), da mulher dona de seu “compartimento” (Ana Bahia) e dos muitos jovens assediados sexualmente (cenas de Vini Hideki, Renan Rezende e Daniel Tonsig). Destaque também para a única cena mais leve, aquela de Agmar Berigo.

Os intensos e emocionados aplausos finais são testemunha do bom resultado desta corajosa iniciativa de Marcelo Varzea que foi abraçada com muita paixão pelos integrantes do Coletivo Impermanente ao qual desejamos longa vida.

Com apenas duas apresentações, o espetáculo se despede hoje (07/12) às 20h da Oficina Cultural Oswald de Andrade. 

07/12/2021

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