Desconheço o elogiado
livro Uma Mulher Vestida de Silêncio de autoria de Wagner William, no
qual José Eduardo Vendramini se inspirou para escrever o excelente texto de Maria
Thereza & Dener atualmente em cartaz no Teatro Eva Herz.
O recorte escolhido
pelo dramaturgo é muito interessante, pois mostra o encontro de duas pessoas, a
princípio, não envolvidas com o momento turbulento que vivia o Brasil no início
dos anos 1960. No início da peça o diálogo entre a primeira dama e o estilista
gira em torno de modelitos e regras de etiqueta, mas a realidade política do
país se impõe, resultando no golpe civil militar de 1º de abril de 1964 e
o exílio da família Goulart no Uruguai e mudando o rumo da conversa entre Maria
Thereza e Dener. Os diálogos criados por Vendramini fluem de maneira impecável
com a inserção de bem vindos momentos de descontração e humor.
Ricardo Grasson
dirige com discreta criatividade o espetáculo colocando em cena um aparelho de
TV da época o qual mostra cenas de documentários que reproduzem o Brasil dos
anos 1960 e focando seu trabalho na interpretação do elenco. Destaque para os
significativos figurinos criados por Rosângela Ribeiro.
Angela Dippe, atriz
mais voltada para a comédia, tem aqui a oportunidade de mostrar seu talento
dramático, tendo um momento emocionante ao descrever a morte, o transporte do
corpo e o velório de seu marido João Goulart em 1976. O exílio forçado também
trouxe bons momentos para o casal Goulart. Na cena em que Dener pergunta como
está a vida no exílio, Maria Thereza responde mais ou menos o seguinte “Agora
arranjei um namorado, que vai comigo ao cinema, faz uma comidinha para a
família e meus filhos têm um pai presente”. As diferenças entre a vida
pública e a vida privada...
Maria Thereza e Dener é, para mim, um
marco na carreira do jovem ator Thiago Carreira. Carreira realizou bons
trabalhos quando pertencia ao Núcleo Experimental e também com seu
brilhante solo Bairro Caleidoscópio na Casa da Gioconda em 2019,
mas sua composição de Dener suplanta as interpretações anteriores, colocando
Carreira como um dos grandes intérpretes com que nosso teatro pode contar. É
notável que em momento algum o ator se descuida do tom de voz e do gestual da
personagem.
O mérito de “Vendramini/
Grasson /Dippe/Carreira” é utilizar um diálogo, a princípio apolítico, para
escancarar um dos momentos mais terríveis da nossa história e que, se não
tomarmos cuidado e providências, pode se repetir, ou melhor, já está se
repetindo com esse governo insano que não pode reeleito.
Maria Thereza &
Dener
junta-se a Com os Bolsos Cheios de Pão e A Última Sessão de
Freud entre os bons espetáculos estreados nos palcos paulistanos no mês de
março. Curiosamente são peças de produção relativamente modesta e com apenas
duas personagens.
Por último, mas não menos importante: TEM PROGRAMA IMPRESSO!!!!, em prol da memória de nosso teatro e em respeito à equipe que consta da ficha técnica.
Em cartaz no Teatro
Eva Herz às quartas e quintas às 20h até 28 de abril.
NÃO DEIXE DE VER.
18/03/2022
Obrigada José Cetra!
ResponderExcluirAbs
Rosângela Ribeiro.