THOMAS BERNHARD NOS
PALCOS PAULISTANOS
Apesar de ter escrito
28 peças de teatro o escritor e dramaturgo austríaco Thomas Bernhard
(1931-1989), até agora, ao que eu saiba, teve apenas a peça O Jantar nos
Wittgenstein (Ritter, Dene, Voss – no original) apresentada por aqui
em duas ocasiões: a primeira era uma produção gaúcha dirigida por Luciano
Alabarse em 2002 com o título Almoço na Casa do Sr. Ludwig e a segunda
dirigida por Eric Lenate em 2015 rebatizada de Ludwig e Suas Irmãs.
Por outro lado, assistimos a várias adaptações de seus romances: Árvores Abatidas (2013) dirigida por Marcos Damaceno com memorável solo de Rosana Stavis; Extinção (2018), solo de Denise Stoklos e o recente O Náufrago (2022) dirigido por William Pereira com Luciano Chirolli. Sem esquecer da monumental versão polonesa de Árvores Abatidas dirigida por Krystian Lupa apresentada na MITsp de 2018.
O FAZEDOR DE TEATRO
Para comemorar os 30
anos de sua Cia. Razões Inversas e, segundo o release, homenagear o
fazer teatral, o incansável Marcio Aurelio encena no SESC Pompeia O Fazedor
de Teatro, publicada em 1986, mesmo ano da publicação de O Jantar nos
Wittegenstein, três anos antes da morte do autor.
Como o título indica
trata-se de uma peça que trata de teatro. É na verdade um longo monólogo do
personagem Bruscon, um ator que se proclama um dos melhores, ou até o melhor de
todos os tempos, que também acumula as funções de dramaturgo, diretor,
preparador do elenco, além daquelas burocráticas.
Exigente, tirânico,
rabugento, verborrágico e muitos outros adjetivos poderiam ser atribuídos a
esse senhor que fala sem parar durante a hora e quarenta que dura a peça, só
sendo interrompido pelos sins de obediência dos filhos Sara e Ferruccio, da
mulher Ágata e do hospedeiro. Marcio Aurelio eliminou as personagens da mulher
e da filha do hospedeiro que são apenas citadas na montagem.
Sentindo-se senhor de
todos esses méritos Bruscon se sente humilhado ao ter que apresentar sua grande
obra em um galpão de vilarejo do interior com menos de 300 habitantes; além
disso ele detesta o trabalho de sua família que atua com ele.
Marcio Aurelio
escolheu um galpão nos fundos do SESC Pompeia para abrigar sua montagem. O
cenário de Marcelo Andrade e do diretor procura mostrar a precariedade do local
em Utzbach, onde se passa a ação da peça. Aline Santini ilumina a cena
discretamente com pendentes sobre os intérpretes e aproveita as janelas do
galpão nos belos efeitos de tempestade ao final da peça.
Pelas características
próprias do texto, o ator que interpreta Bruscon carrega o espetáculo nas
costas e é o grande responsável pelo sucesso ou pelo fracasso do empreendimento
e aqui, para o júbilo de todos, temos Paulo Marcello no papel. É incrível a
entrega desse grande ator a um papel desafiador e ingrato. Ele consegue manter
o espectador atento durante toda a apresentação e o faz de maneira que dá
humanidade à personagem e até provoca uma certa simpatia no espectador, apesar
da arrogância e da ranhetice da mesma. Mais uma interpretação que deve ser
lembrada entre as melhores do ano.
O restante do elenco
acompanha com os já citados sins os desmandos de Bruscon, mas cabe destacar a
participação de Zedú Neves como o hospedeiro.
O Fazedor de Teatro é prato cheio e
suculento para quem faz ou ama o teatro.
Cartaz do SESC Pompeia até 10 de junho, de terça a sexta às 20h.
18/05/2022
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