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sábado, 18 de junho de 2022

TEBAS

 

É curioso notar que Sófocles (497 a.C. – 406 a.C.) iniciou o sua TRILOGIA TEBANA com ANTÍGONA, a última parte da trama. Mais de dois mil e quinhentos anos depois, parece que estou vendo o velho dramaturgo terminar a sua ANTÍGONA em 441 a.C. e pensando “Acho que vai valer a pena eu contar o que aconteceu antes disso.” e a partir daí surgiram ÉDIPO REI em 430 a.C. e ÉDIPO EM COLONO em 406 a.C., pouco antes de sua morte aos 96 anos.

Marcelo Lazzaratto resolveu contar a trilogia tebana misturando os tempos e colocando criativamente Édipo velho como testemunha da tragédia de Édipo jovem quando este descobre que matou o próprio pai e teve relações incestuosas com sua mãe Jocasta. Se por um lado, a narrativa se torna um pouco difícil de acompanhar (principalmente no primeiro ato), ela faz com que o espectador se torne quase um coautor ao colocar em suas mãos a costura da trama.

Trata-se de espetáculo de fôlego e, em minha opinião, o mais bem sucedido da longa carreira de Marcelo Lazzaratto e de sua Cia. Elevador de Teatro Panorâmico.

A tragédia de Édipo e sua família na versão da Cia. Elevador se desenvolve em cenário de Julio Dojscar que reforça a atemporalidade, ou melhor, a atualidade da mesma, uma vez que é formado por contêineres modernos dispostos no cais de um porto. Essa triste atualidade torna-se mais patente com a presença de uma funcionária do porto (personagem criada pelo encenador) e com o figurino e a postura do Coro, testemunha dos acontecimentos, representado por Eduardo Okamoto.

Como de hábito, a iluminação assinada por Lazzaratto é precisa e elaboradíssima. A poderosa trilha sonora de Dan Maia remete aos sons ouvidos em outras tragédias gregas e acentua a pungência da história.

O elenco movimenta-se em cena com marcações e gestual bastante rígidos. Todos têm desempenhos dignos e excelentes, mas é preciso destacar a versatilidade de Eduardo Okamoto e Marina Vieira em diversos papeis e a presença marcante de Marcelo Lazzaratto em antológica interpretação como Édipo velho.

Lazzaratto concentra assim as funções de adaptação das três tragédias (dramaturgia cênica), direção, iluminação e interpretação da personagem mais presente na encenação. E cumpre todas essas funções brilhantemente.

Trata-se de ótimo momento não só de Lazzaratto, como também da Cia. Elevador que neste ano completa 22 anos de presença em nossos palcos e que, além desse espetáculo, está em cartaz com o também muito bem sucedido infanto juvenil Caro Kafka.

Parabéns e VIVA O TEATRO!

O bem-vindo programa impresso, além de muito bonito, contém informações preciosas sobre o espetáculo.

 

TEBAS está em cartaz no SESC Bom Retiro às quintas, sextas e sábados às 20h até 25/06.

 

18/06/2022

 

 

 

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