Se o impacto foi
grande ao assistir a Macacos virtualmente em agosto do ano passado na Mostra
de Teatro de Heliópolis, o mesmo ampliou-se sobremaneira neste julho de
2022 ao ver o espetáculo presencialmente.
Tenho sempre um
prazer enorme em testemunhar o trabalho de jovens artistas. Com apenas 33 anos,
Clayton Nascimento revela surpreendente maturidade ao escrever, dirigir e
interpretar um espetáculo que beira a perfeição.
Inspirado no fato do
jogador Aranha que foi xingado de macaco pela torcida gaúcha em 2014 e partindo
do caso de Eduardo, filho de Dona Terezinha, mais um menino negro assassinado
nas barrancas da periferia, passando pela morte de Bessie Smith que não pode
ser atendida em um hospital de brancos após sofrer um acidente, Clayton vai do
micro ao macro fazendo precioso levantamento histórico sobre as causas e os
resultados da escravidão no Brasil.
Vestindo apenas uma
bermuda confeccionada, segundo ele, com o mesmo tecido do século XVI usado pelas
realezas africanas e sangrando seu corpo com marcas de batom o ator vai
contando de maneira visceral a saga da raça negra no país. Clayton o faz em tom
de forte denúncia, sem, porém, agredir o público presente na plateia, como
costuma acontecer em alguns espetáculos realizados por movimentos negros. E
essa mensagem antirracista atinge em cheio a todos, fazendo cada um refletir sobre
o quanto é racista, mesmo que de forma inconsciente.
A mescla em dosagem
certa de fatos históricos com fatos atuais ou imaginados é uma das
preciosidades da dramaturgia que começou a ser escrita em 2015 a partir de
profunda pesquisa realizada pelo autor. Como encenador, Clayton teve o cuidado
de contar com as importantes colaborações de Ailton Graça como provocador cênico
e de Aninha Maria Miranda que assina a criativa direção de movimento. E
finalmente, como ator, Clayton Nascimento nos oferece um dos trabalhos mais
ricos e pungentes vistos nos palcos paulistanos nos últimos tempos.
Macacos é uma criação da Cia
do Sal, fundada por Clayton, que assim também mostra seu lado de produtor.
A montagem saiu
consagrada do último Festival Teatro do Kaos (Cubatão), tendo recebido
os prêmios de melhor espetáculo e de melhor ator pela comissão julgadora (da
qual fiz parte) e de melhor espetáculo pelo júri popular.
Se para alguns
parecer exagero todos os elogios que compõem esta matéria, sugiro fortemente
que vão conferir o espetáculo em cartaz, gratuitamente, de quinta a sábado às
20h e domingo às 19h no Centro Cultural São Paulo, só até 31/07/2022.
Na sessão da próxima sexta feira, 29, será lançado o livro com a dramaturgia da peça.
25/07/2022
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