Se Dias Gomes
estivesse vivo estaria comemorando seu centenário neste 2022 e com certeza
estaria muito feliz com o que Ricardo Grasson fez com seu hoje clássico Odorico,
o Bem Amado, escrito há 60 anos.
A história é bem conhecida:
Odorico Paraguaçu, típico político deste Brasil, é candidato a prefeito da
cidade de Sucupira e tem como principal promessa construir um cemitério; uma
vez eleito cumpre a promessa, mas ninguém morre na cidade para que o campo
santo seja inaugurado. Daí advem uma série de peripécias até o final inesperado.
Curiosamente, apesar
do grande sucesso que foi O Pagador de Promessas e outras peças
de Dias Gomes no Teatro Brasileiro de Comédia nos anos 1960, o
dramaturgo fez sucesso muito maior na televisão do que no teatro. Em São Paulo
passou décadas sem ter uma peça em cartaz, só retornando em 2008 com O Bem
Amado com Marco Nanini e em 2017 com uma versão musicada por Zeca Baleiro,
dirigida por Debora Dubois de O Berço do Herói, rebatizada de Roque
Santeiro, devido ao grande sucesso televisivo e agora em 2022 também em
versão musical com canções assinadas novamente por Zeca Baleiro, desta vez em
dupla com Newton Moreno.
Com exceção da cena
inicial na penumbra, que mostra o cortejo fúnebre de um cidadão de Sucupira que
deve ser enterrado em outra cidade pela falta de cemitério na cidade, tudo é
muito solar na encenação de Grasson, desde o cenário concebido por Chris Aizner
belamente iluminado por Cesar Pivetti, passando
pelos figurinos de Fabio Namatame e as músicas de Baleiro e Moreno executadas e
cantadas ao vivo. Completam a rica ficha técnica Katia Barros e Tutu Morasi
(direção de movimento e coreografia), Marco França (preparação vocal), Kleber
Montanheiro (adereços) e Alisson Rodrigues (responsável pelo excelente e característico
visagismo que torna alguns dos atores irreconhecíveis).
Eduardo Semerjian
(Dirceu Borboleta) e Ando Camargo (Vigário) estão ótimos e muito engraçados com seus
tipos, estando entre aqueles atores cujas máscaras os tornam quase
irreconhecíveis. As três Cajazeiras são vividas de forma caricata e muito humor pelas excelentes
Rebeca Jamir (Judicéia), Luciana Ramanzini (Dulcineia) e Kátia Daher
(Doroteia). Marco França interpreta Zeca Diabo e Guilherme Sant’Anna é o
repórter Neco Pedreira.
Idealizador do
projeto, Cassio Scapin encarrega-se com muita propriedade do protagonista
Odorico, marcando mais um ponto em sua brilhante carreira.
Em ano bastante
profícuo (esta é sua terceira direção em 2022), Ricardo Grasson realiza aquele
que, a meu ver, é seu mais complexo e mais bem sucedido trabalho, colocando-o
entre os melhores encenadores do nosso teatro.
O Bem Amado diverte e faz
pensar, o que não é pouco.
NÃO PERCA!!
Um programa belo na forma e excelente no conteúdo é oferecido gratuitamente ao público.
O BEM AMADO está em cartaz no SESC Santana até 11 de setembro às sextas às 21h, aos sábados às 20h e aos domingos às 18h.
14/08/2022
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