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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

COMO POSSO NÃO SER MONTGOMERY CLIFT?

 

Montgomery Clift (1920-1966) antecedeu James Dean (1931-1955) e Marlon Brando (1924-2004) na forma de atuar que revolucionou o cinema norte americano na década de 1950. Quatro vezes indicado ao Oscar, não levou o prêmio nenhuma vez, fato que contribuiu para seu estado depressivo, muito acentuado após o acidente com o carro em 1956 que o desfigurou e o levou ao álcool e às drogas.

A peça do dramaturgo espanhol Alberto Conejero López faz, no seu título original, um jogo interessante do sobrenome do ator (Clift) com a palavra em inglês “cliff” que significa penhasco, precipício. Isso fica claro quando ele situa a ação da peça no período compreendido entre 1956 (ano do acidente), passando por 1962 (ano em que ele não ganhou o Oscar após a quarta indicação) e 1966 ou seja, período em que ele estava à beira de um precipício e onde realmente caiu em 23 de julho de 1966, dia de sua morte. Esse período de auto destruição é considerado como “o suicídio mais longo vivido em Hollywood”. Com tudo isso pode-se deduzir que não se trata de um espetáculo alto astral, mas sombrio e triste.

Gustavo Gasparani vive intensamente essa figura triste, revoltada e melancólica em um monólogo que se utiliza de recurso comum nesse tipo de texto onde o personagem dialoga ou ao telefone (no caso com sua grande amiga Elisabeth Taylor) ou com pessoas invisíveis (a mãe, o acompanhante Lorenzo e Marlon Brando).

Em cenário de Natalia Lama cujo elemento principal é uma banheira o ator se desloca ora se olhando no espelho, ora se dirigindo diretamente ao público ou falando com seus fantasmas, sempre vestido com os discretos figurinos de Marieta Spada.

A trilha sonora selecionada por Marcelo Alonso Neves inclui belas composições do cancioneiro norte-americano, trechos de diálogos de filmes de Montgomery Clift e até uma canção de West Side Story, na cena em que Clift lamenta-se de ter perdido o Oscar de ator coadjuvante em O Julgamento de Nuremberg para George Chakiris que atua no musical de Robert Wise.

Um grande achado do texto é explorar a vontade de Clift de montar A Gaivota de Tchekhov com ele no papel de Treplev e sua amiga Elisabeth Taylor como Nina.

Fernando Philbert realiza uma digna tradução cênica do texto focando toda a atenção na interpretação intensa de Gasparani que já brilhou nesse mesmo espaço há alguns anos com o memorável Ricardo III de Shakespeare, também em forma de monólogo. É um ator representando outro ator e a peça não poderia terminar de forma mais significativa do que com a frase de Clift dita com muita emoção por Gustavo Gasparani: “Quando a luz se apagou, nunca mais houve outra felicidade senão aquela, a estúpida felicidade de ser outro”. 

COMO NÃO POSSO SER MONTGOMERY CLIFT? Está em cartaz no auditório do SESC Pinheiros de quinta a sábado às 20h até 12 de novembro.

IMPERDÍVEL para quem ama o cinema e o teatro! 

24/10/2022

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